Ou isto aqui anda tudo louco, ou Ulisses Correia e Silva traiu Maritza Rosabal. E isto, a ser verdade, é muito grave num partido que se afirma o pai da democracia em Cabo Verde.
Ladeado da ministra da Educação, o primeiro-ministro informou esta manhã ao país a retirada dos manuais de matemática de circulação. Ulisses Correia e Silva desautorizou assim Maritza Rosabal, que ainda ontem afirmava na TCV que os manuais continuariam no sistema, até porque, disse, “são experimentais”.
Esta posição do chefe do Governo, sendo uma grande humilhação para a titular da pasta de Educação, é também classificada como uma vil traição de Ulisses Correia e Silva à sua ministra Maritza Rosabal.
A administração pública rege-se pelo princípio de hierarquia. O que equivale dizer que, por princípio, a ministra deve agir em estreita observância às directrizes que chegam do chefe do Governo, e as chefias intermédias – os directores –, por sua vez, seguem as ordens dos respectivos ministros, e assim por diante.
Assim sendo, é fácil depreender que a ministra defendeu a permanência dos referidos manuais no sistema, porque esta era a posição do Governo. Até porque, Ulisses Correia e Silva já havia assumido esta posição, quando, na sua página no facebook, e referindo-se ao barulho que este assunto provocara na sociedade, acusou os cabo-verdianos de estarem a colocar enfase “em 1% de erros contra 99% de excelência”, e que eram manifestações “politiqueiras”.
Ora, é precisamente por isso que muitos defendem que o primeiro-ministro não devia humilhar a sua ministra de Educação da forma como o fez, não só porque um dia ele apareceu a defendê-la, mas porque o poder da hierarquia é quem mais ordena… A não ser que o princípio da hierarquia não faz parte das ferramentas de trabalho do actual Governo de Cabo Verde.
Porque, balizando as actuações no quadro do poder que cada estrutura estatutariamente tem, para muitos, o chefe do Governo poderia perfeitamente comunicar ao país que a ministra de Educação tem vindo a manifestar alguma canseira no exercício das suas funções e que não queria continuar por muito tempo no cargo.
Assim, consumada a encenação, amanhã, ou na próxima semana, o Governo faria circular um comunicado a avisar ao país ter finalmente aceite o pedido de demissão da titular da pasta de Educação. Simples!
De resto, a mesma receita que Maritza Rosabal aplicara à sua directora nacional de Educação. Ontem, a ministra de Educação disse na TCV que a directora nacional, Adriana Mendonça, tem estado cansada e que não queria continuar por muito tempo no cargo. E hoje, o Governo emite um comunicado a afirmar ao país que acaba de aceitar o pedido de demissão da mesma.
Tudo na tranquilidade! Sem alarido! Sem humilhação! E sem traição! Um exercício de fidelidade e lealdade digno de louvor, mantendo-se fiel à sua directora nacional até ao fim. Não a desmentiu nem a desautorizou.
Que esperar de um primeiro-ministro que humilha e trai os seus colaboradores directos “sem djobe pa ladu”?
Porque, ou isto aqui anda tudo louco, ou Ulisses Correia e Silva traiu Maritza Rosabal. E isto, a ser verdade, é muito grave num partido que se afirma o pai da democracia em Cabo Verde.
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