Entrelinhas

Na noite deste sábado, 19, provou-se que estávamos certos denunciando a vigarice de Korpu Rixu ao anunciar que se tratava da apresentação da sua candidatura, ao mesmo tempo que o MpD apregoava um ato de abertura do ano político. Mas, a vigarice foi ainda mais além!

Confrontada com a fraca adesão, a liderança do MpD, tentando safar-se do fiasco, meteu para debaixo do tapete a abertura do ano político para transformar o ato, de facto e só, na apresentação da candidatura à Câmara Municipal da Praia, transferindo o peso do fiasco para Abraão Vicente.

Ninguém quer colar seu nome à previsível derrota

Mesmo com a mobilização de autarcas, candidatos e militantes de toda a ilha de Santiago, o ato político ventoinha não conseguiu fugir ao fiasco, expondo inequivocamente um partido dividido, sem engajamento da militância e rejeitado pelos eleitores. E, ainda, com a ausência de importantes lideranças nacionais e de históricos do partido.

Nem os ângulos estratégicos de captação de imagem, com cartões de propaganda a tentarem ocultar as clareiras, conseguiram camuflar o desaire do ato público organizado – sublinhe-se! – pelo partido que está no governo vai para uma década e liderou a autarquia da capital durante 12 anos!

Ninguém parece ter vontade de colar o seu nome à previsível derrota em 01 de dezembro, como é o caso emblemático da ausência de Olavo Correia (o número dois do governo e vice do partido), tomando já posição no corredor de possíveis sucessores de Ulisses Correia e Silva que, registando uma derrota nas eleições autárquicas, só tem um caminho: ir à sua vida.

Entradas “à americana” e tristes figuras

Abraão, cada vez mais conhecido por “Comissário-do-Governo-para-a-Cidade-da-Praia, fez uma entrada “à americana”, com a mulher e as filhas menores, pretendendo passar a imagem de homem de família. Foi ridículo e infantil como sempre.

Mas, Korpu Rixu fez, ainda, uma grande idiotice política, ao publicar uma selfie, logo de entrada, com meia dúzia de gatos pingados do Tarrafal e de São Domingos, expondo o fiasco e sublinhando que, sem a ida de militantes de outros municípios de Santiago, a coisa ainda teria sido pior.

Quanto ao seu discurso, as mesmas vulgaridades e megalomanias de sempre, revelando claramente que não conhece minimamente a Cidade da Praia, nem tem uma visão estratégica para a capital do país. É só conversa fiada para queimar o tempo até ao dia fatal de 01 de dezembro e, a partir daí, abraçar uma sinecura para compensar o frete de ter tramado o candidato que os militantes do MpD queriam para a Praia. Sim, esse mesmo, Alberto Mello (o Beta).

A pergunta que não se cala: o que fez o governo na Cidade da Praia?

Sem entusiasmo, agastado pelo fiasco e pela ausência de importantes figuras do partido, Ulisses Correia e Silva debitou um discurso monocórdico que, por pouco, não pôs toda a gente a dormir.

O ainda primeiro-ministro e, até agora, presidente do MpD, aludiu às verbas do Fundo de Financiamento Municipal alocadas à Câmara Municipal da Praia, como se isso não fosse uma imposição legal para cobrir despesas correntes, e ensaiou uma mentirinha ao dizer que a CMP só teria usado 17 por cento do Fundo do Ambiente - uma verba que pertence ao próprio município -, mas esquecendo-se de referir que o governo, na sua estratégia de bloquear a autarquia, apenas transferiu 14 mil contos.

Conversa fiada à parte, há uma pergunta que não se cala: que obras fez o governo “amigo do poder local” no principal município do país e sede da capital de Cabo Verde? Nada, rigorosamente nada, esta é a verdade nua e crua!