O Sindicato de Pilotos de Aviação civil (SNPAC) não está de acordo com o corte de salários que a administração da TACv tenciona aplicar. Em carta endereçada ao Conselho de Administração da compoanhia aérea nacional, os pilotos insurgem-se contra a medida garantindo que “nunca irão abrir mão dos direitos”, ao mesmo tempo que acusam os gestores de estarem a confundir “a opinião pública e o principal accionista, acerca das principais causas, actos e opções de gestão, que minam e enfraquecem a transportadora no mercado”.
A notícia de Santiago Magazine de que a TACV quer cortar mais 50 trabalhadores e baixar o salário dos pilotos, não caiu bem junto desses profissionais. Em reação, o sindicato dos pilotos enviou, na sexta-feira, 8, uma carta ao Conselho de Administração na qual ataca a proposta e considera fracassada a acção do Conselho de Administração.
“Nós os trabalhadores, particularmente, a Classe dos Pilotos, cientes e conscientes da situação reinante na Empresa, que vem arrastando desde longa data e, transversal as diversas administrações da mesma, pautamos sempre por uma postura de decoro, cautela e elevada ética no que tange aos sucessivos sobressaltos e turbulências a que a nossa Empresa tem vivenciada”.
“Enquanto classe profissional, nunca abriremos mãos de valores que juramos defender, independentemente do perfil dos gestores que conjunturalmente passaram ou passem pela Empresa. Colidindo frontalmente com a nossa postura e valores que nos animam, a actual Administração, num evidente esforço para confundir a opinião pública e principal accionista, acerca das principais causas, atos e opções de gestão, que minam e enfraquecem a transportadora no mercado e, vis a vis à concorrência, opções e atos esses que apoquentam e desassossegam a todos, faz recurso a uma cortina de fumo perversa, despropositada e deselegante, resolve expor publicamente a classe de pilotos, divulgando valores auferidos pelos membros da mesma sem qualquer pudor, evidenciando um desatino impróprio e inusitado para quem procura lançar pontes e era suposto estar melhor preparada para gerir os destinos da empresa num contexto nacional e internacional tão conturbado e volátil”.
Mais, os pilotos da TACV afirmam que “a superficialidade e 'pequenez’ na abordagem, conjugada com a necessidade de tirar o foco das verdadeiras razões do fracasso da gestão em presença, levou a que se omitisse na comunicação, aspectos relevantes relacionados com os valores que passaram a auferir os pilotos, há mais de dois anos e meio, como por exemplo o facto destes estarem auferindo 70% dos seus salários devido à situação de lay-off e, com o término deste regime estarem a receber até o momento, 62,5% do salário e , nunca no prazo acordado ou razoável, registando-se atrasos significativos no processamento. A este propósito e já que constatamos haver um uso (in)conveniente de valores e dados, convém salientar que, contrariamente ao que se veicula em surdina, a profissão de Piloto além-fronteira é muita valorizada, dadas às responsabilidades inerentes à profissão, de entre outros aspetos relevantes e específicos do sector”.
Nessa missiva, os pilotos explicam que “o salário médio praticado em Cabo Verde, na remuneração dos pilotos, está entre os mais baixos no mundo da aviação, e de acordo com um estudo feito pelo banco mundial em 2011, os pilotos Cabo-verdianos auferem entre 30% a 40% menos que seus colegas da costa oeste Africana, sendo isso do conhecimento do acionista principal e autoridade competente que supervisiona e regula o sector entre nós”.
“Importa sublinhar que na semana passada, a Administração, apresentou aos sindicatos, uma pretensa tabela, num canto de uma folha A4, sem data nem assinatura de quem quer que seja, aquilo que se pretende ser uma proposta de redução salarial, que varia entre 5% a 35%, demostrando claramente de forma escamoteada a intenção de atingir os pilotos, já que a maior fatia recaia sobre os mesmos, sem qualquer fundamentação expressa, nemb apresentação do correspondente estudo do impacto de tal medida nas finanças da Empresa. Estranho e incompreensível é que até a presente data, nenhum plano de negócio viável e consistente foi elaborado pelo CA, estando os indicadores desta administração em total contramão, do atual ‘boom’ da industria da aviação na sua generalidade, cuja demanda está a atingir os valores de 2019, como é do conhecimento de todos”.
Na carta, de 8 de Julho, lê-se ainda: “Enquanto que, por estas bandas insistimos em manter na era da pandemia, como justificativa da não tomada de medidas concretas, credíveis e competitivas ao mercado, este conselho de administração liderada pela Dra. Sara, faltos de consciência do que é o mundo da aviação, passa a vida nos meios de comunicação social falando dos problemas de tesouraria da empresa, inibindo a demanda aos serviços da TACV, fomentando a desconfiança e incertezas de potenciais e tradicionais utentes/mercados”.
“A cereja no topo do bolo e que põe a nú a falta de foco e desnorte da administração, está refletida neste último e triste episódio com a EASA (Certificação TCO) em que a operadora se vê inibida de voar para o seu principal e único mercado, por incumprimento numa matéria básica e incontornável para se garantir a presença no negócio sem sobressaltos. Esta ocorrência que levou ao cancelamentos dos voos programados compromete a empresa bem como as autoridades cabo-verdianas responsáveis pela supervisão do setor, fragilizando as chances de uma retoma vigorosa e plena das operações da nossa querida companhia de bandeira”.
“Com essa atribulada e desajeitada gestão, o Conselho de Administração, demonstra uma total impreparação e incompetência para estar à frente dos destinos da nossa empresa neste contexto conturbado e imprevisível, pelo que gostaríamos de deixar bem claro que recusamos categoricamente as tentativas perversas de imputar culpas e responsabilidades a qualquer classe profissional, responsabilidades essas que têm rosto e nome que não os de diligentes e dedicados trabalhadores da Empresa. Este rosto e nome são os do Conselho de Administração, que de forma imoral e sem fundamentos, pede sacrifícios vários aos seus trabalhadores, em grandes dificuldades financeiras, chantageando-nos com o fantasma da falência da empresa, caso não cedamos às suas propostas de redução salarial, sendo que o custo salarial total ronda os 16% do custo fixo da empresa, que está muito aquém dos 25% aceitáveis, e desses 16%, o custo com o salário dos pilotos ronda os 6%, o que não justifica tal pedido, por não ter impacto significativo, e não seria esta medida a salvar a empresa, sendo que nosso salário vem das bagas do suor do nosso trabalho, não do roubo na empresa”.
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