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O Natal que os pobres não vivem
Colunista

O Natal que os pobres não vivem

O mundo precisa de um Natal que ainda precisa nascer. Uma transcendência vital, sem máscara ou estética fria. Um acordar interior e um vislumbre que brote da alma e da consciência. O que era o invólucro passará a ser verdadeiro e autêntico. O que era imagem, se transformará em realidade. O encontro não será jamais casual, planeado ou transitório. O Espírito do autêntico virá como anunciaram os anjos: "Hoje na cidade de David vos nasceu o Salvador". Tudo que era transitório se torna permanente e tudo que era supérfluo se torna valioso e imensurável.

A universalidade tradicional do denominado Natal e todo o seu reflexo, emerge de um sentido cuja matriz etimológica não traduz a razão primordial e real do seu significado. Falar do Natal numa perspectiva do invólucro, é o maior reducionismo encarnacional na dimensão teológica e sociológica.

A maior ilusão criada universalmente, é a fantasia de um natal de luzes, mas sem iluminação interna; de um natal rico, mas sem riqueza de facto; de um natal da família, mas sem a família; de um natal solidário, mas sem a solidariedade. O pior, é que todos seguem a mesma fileira e o mesmo desfile. Ninguém põe a mão à razão para dar um grito de inquietação e lamento.

Se os próprios religiosos permitem o andar da carruagem como se fosse normal, imaginem quem não sabe que está numa pura ilusão histórica e teológica. Escolher um dia do ano para fazer a filantropia, o que na verdade chamam de caridade ou amor, é diminuir o ser humano, é reduzir o próximo a um estado miserável. O que na verdade deveria ser feito durante o ano e não uma vez por ano.

Reunir a família em torno de uma história e não em torno de um sentido maior e permanente, é reduzir a encarnação de Cristo numa ação temporal e não atemporal. O figurino natalício criado pelos maiores marqueteiros, vêm desenhando um quadro de tristeza para a maioria e alegria para alguns. Enquanto para uns a mesa é farta e para outros a mesa é repleta de lamento e tristeza. Esse não corresponde ao natal autêntico e nem verdadeiro.

Mudar essa realidade é difícil, trazer à consciência da sociedade essa mentalidade também é difícil, resta-nos assinalar o nosso profundo sentido de uma ignorância frontal ou de uma ditadura materialista. Contrapondo à uma verdade cristalina e autêntica, subjugando toda a autêntica historicidade factual do que significa a encarnação de Cristo.

Uma realidade que não se limita ao tempo e nem ao espaço, por conseguinte, neutraliza toda a roupagem comercial, fictícia e diminuta. Fechar o ciclo do chamado Natal numa dimensão do visual e do encontro, mas sem o encontrado, é ilusório e inconcebível. Estar junto, mas sem a presença do "Emanuel", é uma afronta ao divino.

O mundo precisa de um Natal que ainda precisa nascer. Uma transcendência vital, sem máscara ou estética fria. Um acordar interior e um vislumbre que brote da alma e da consciência. O que era o invólucro passará a ser verdadeiro e autêntico. O que era imagem, se transformará em realidade. O encontro não será jamais casual, planeado ou transitório. O Espírito do autêntico virá como anunciaram os anjos: "Hoje na cidade de David vos nasceu o Salvador". Tudo que era transitório se torna permanente e tudo que era supérfluo se torna valioso e imensurável.

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SOBRE O AUTOR

Lino Magno

Teólogo, pastor, cronista e colunista de Santiago Magazine