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Autárquicas 2024
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Autárquicas 2024

Os partidos controlam os candidatos que lançam para as disputas contando que dispõem de um “curral eleitoral” que lhes garantem as suas eleições mas quando os eleitores passam a ser cada vez mais “independentes”, os cálculos dos partidos políticos começam a dar errado, justamente, por que não têm o controlo do voto dos eleitores “independentes” que são a maioria do eleitorado e, mais ainda, estão em franco crescimento.

Já se sentem as movimentações políticas para a formação das preferências político-eleitorais com vista às próximas eleições municipais de 2024 tanto da parte dos partidos políticos quanto dos grupos de cidadãos independentes.

Em regra, os atuais titulares dos cargos em disputa são candidatos naturais às suas próprias sucessões e os desafiantes que tiveram um bom desempenho nas disputas anteriores tendem a se reposicionarem.

A novidade, porém, das próximas eleições autárquicas estará do outro lado do mercado do voto: a composição da sociologia eleitoral alterou, significativamente – cerca de 2/3 dos eleitores se consideram “independentes” - sem preferência partidária; os demais 1/3 dos eleitores se dividem as suas preferências entre o MpD, PAICV, UCID e outros partidos e ainda estão aqueles que não respoderam ou dizem que não sabem, no levanto do afrobarometer, 2022.

Nos inícios dos anos 1990, a composição da preferência eleitoral era oposta a que agora se verifica: mais de 2/3 dos eleitores tinham preferência partidária para os partidos (MpD ou PAICV).

A evidência empírica disso era a capacidade de transmissão quase integral dos votos partidários de um  tipo de eleição para outro: o partido MpD ganhava as eleições Legislativas e era certo que repetiria o triunfo nas autárquicas e que teria sucesso com o candidato que apoiasse nas presidenciais. Era o famoso “barba, cabelo e bigode”, como dizem os brasileiros quando se tem uma vitória completa ou o nosso provérbio crioulo – “caleron tem três pé”!

Já nos anos 2000, as coisas começaram a mudar, ainda que lentamente: o PAICV e o MPD começam a dividir os órgãos de poder – Nacional para o PAICV e Locais para o MpD, evidenciando alguma “independência” do eleitorado nas suas escolhas.

Os resultados eleitorais das presidenciais de 2011 que deram vitória a Jorge Carlos Fonseca – candidato apoiado pela Oposição  - MpD – na altura, seis meses após o PAICV ter conseguido renovar o mandato nas Legislativas com terceira maioria absoluta consecutiva está na esteira da mudança na composição das preferências eleitorais.

As supostas “surpresas”  dos resultados nas eleições autárquicas de 2020 (Praia, São Domingos, Ribeira Grande, Tarrafal e Santa Catarina), especialmente, nas autarquias da ilha de Santiago se inserem mais na lógica da mudança do lado do eleitorado e não tanto do lado da oferta dos candidatos “partidários”.

Em 2021, o MpD renova o mandato nas eleições Legislativas e meses depois o candidato apoiado pela Oposição – PAICV – José Maria Neves vence as eleições presidenciais reconfirmando a nova tendência “idependentista” do eleitorado.

Os partidos controlam os candidatos que lançam para as disputas contando que dispõem de um “curral eleitoral” que lhes garantem as suas eleições mas quando os eleitores passam a ser cada vez mais “independentes”, os cálculos dos partidos políticos começam a dar errado, justamente, por que não têm o controlo do voto dos eleitores “independentes” que são a maioria do eleitorado e, mais ainda, estão em franco crescimento.

Se nos anos 1990 os eleitores que se definiam como “independentes” rondavam os 10% do eleitorado, espera-se que para as eleições de 2024 sejam quase 70%. A preferência dos eleitores para o MpD e para o PAICV despencaram de mais de 30% do eleitorado para cada um, para 14,2% e 13,2%, respectivamente, no último levantamento do afrobarometer de 2022.

Os candidatos dos partidos políticos continuarão sendo competitivos mas o cenário político eleitoral mudou, profundamente e, o sucesso das candidaturas autárquicas dependerão cada vez menos de apoio partidário e mais da capacidade dos candidatos se identificarem e se comunicarem com o eleitorado “independente”.

A “onda” de candidatos independentes bem sucedidos nas eleições municipais começou nas ilhas do norte: São Vicente e Santo Antão com Onésimo Silveira e Jorge Santos nos anos 1990 e subsistiu, timidamente, nos anos 2000 e a partir de agora terá as maior chances de sucesso! Ser candidato independente é condição necessária mas não suficiente para o êxito eleitoral autárquico.

joaostav@hotmail.com

 

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