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A gestão da solidão e a qualidade de vida   
Colunista

A gestão da solidão e a qualidade de vida  

A presença das redes sociais, ao contrário que se esperava, vem desenhando uma ausência gritante no tocante à boa qualidade de vida das pessoas. Isto é, ao mesmo tempo que todos estão supostamente conectados, a ausência do ser se mantém. Com a ausência de uma presença positiva, sem um sentido substancial de um conteúdo despertador e profundo.

O mundo vive um dos problemas mais sérios para a saúde mental e o bem estar do ser humano. A solidão é um dos sintomas mais presentes no cotidiano das pessoas. Não tem a ver com estar junto ou ter alguém por perto. A questão é muito mais complexa que se imagina.

O mundo vive uma lastimável crise existencial. O acelerar do secularismo, aliado ao consumismo exacerbado, somam um pacote destruidor ao bem estar psíquico e emocional do ser humano. A forte influência do secularismo social, com a sua ramificação no relativismo teológico, a percepção do que realmente somos se torna pequena. Com isso, a presença de um vazio permanente assume a dianteira. O ciclo destrutivo começa a dar lugar em nossas emoções, gerando um sentido raso da existência. Por fim, a solidão já não será mais uma ilusão, assumirá a sua gigantesca ação nefasta e com consequências sérias. Provocando um vazio demasiado intenso para ser administrado.

Nunca vivemos a era de um vazio interno tão avassalador como hoje. A sociedade cada vez mais vive essa dinâmica vertiginosa, cuja matriz está intrinsecamente associada aos parâmetros completamente contrários ao bem-estar humano. ~

A presença das redes sociais, ao contrário que se esperava, vem desenhando uma ausência gritante no tocante à boa qualidade de vida das pessoas. Isto é, ao mesmo tempo que todos estão supostamente conectados, a ausência do ser se mantém. Com a ausência de uma presença positiva, sem um sentido substancial de um conteúdo despertador e profundo.

Infelizmente, não estamos bem e o mundo caminha por um descalabro de grande escala. Na Europa a sociedade vive um nível de solidão permanente. A ausência da interpessoalidade verdadeira e autêntica, é a razão porque as pessoas vivem essa realidade gritante. Uma coisa é termos alguém à nossa volta e outra é vivenciarmos a realidade mais completa da relação humana.

É claro que temos um outro tipo de solidão, é aquela que mesmo tendo nós a presença de alguém ao lado, mesmo assim, mantém o vazio. Só o facto de termos alguém ao nosso lado não propicia o preenchimento e não supre a necessidade de uma relação sincera e amável.

O que mais o ser humano necessita é de um relacionamento profundo e que responda numa mútua completude. O que vem se invertendo, é o materialismo se sobrepondo à relação interpessoal. Deixamos de lado o relacionamento frutífero e restaurador, dando espaço para coisas.

O maior antídoto contra a solidão é o afecto, a presença significativa, o amor verdadeiro e a empatia autêntica. É a verdadeira terapia.

É claro, que todos nós temos que buscar um renascer na alma, uma nova aurora a cada instante, um sentido de vida muito mais do que coisas. É preciso um auto despertar antes que seja tarde demais.

Uma das causas da depressão é justamente a má gestão da nossa solidão. Podemos viver algum momento da solidão ou instantes, mas quando deixamos que a situação se desmonta de um modo mais aguda, aí então, estamos perante um quadro preocupante e digno da nossa atenção.

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SOBRE O AUTOR

Lino Magno

Teólogo, pastor, cronista e colunista de Santiago Magazine