Instituições que lidam com a problemática das crianças em Cabo Verde admitem a possibilidade de a crise provocada pela pandemia da covid-19 aumentar o fenómeno de crianças na rua e o trabalho infantil.
Em declarações à Inforpress, por ocasião do Dia Mundial da Criança, que hoje se assinala, a presidente da Associação das Crianças Desfavorecidas (Acrides), Lourença Tavares, adiantou que a pandemia está a agravar a situação da pobreza em Cabo Verde e, consequentemente, o sofrimento das crianças mais vulneráveis.
“Esta situação de não ir à escola, com o aumento da pobreza iremos ter mais crianças nas ruas, mais crianças a sofrerem. E o trabalho infantil irá aumentar, a nível mundial, e das priores formas, pelo que devemos estar atentos e pensar em todos os cabo-verdianos”, disse a activista social.
Lourença Tavares defendeu, por isso, que é preciso que todos estejam unidos e articulados e, sobretudo, colocar as crianças em situação de vulnerabilidade no centro das acções.
“Portanto é momento de o Governo central e os governos locais, com a sociedade civil, tentarmos e vermos o que podemos fazer juntos para que a debilidade humana dos cabo-verdianos em situação de vulnerabilidade não seja sentida”, apelou.
A presidente do Instituto da Criança e Adolescente (ICCA), Maria do Nascimento, também admite o agravamento da vulnerabilidade das crianças pobres com a crise pandemia, que para além de problemas sanitários tem gerado graves problemas económicos e a perda do rendimento das famílias.
“Nós temos notado alguns casos de crianças na rua e principalmente nesta época de covid-19. Nós estamos a trabalhar com as famílias no sentido de as mesmas serem empoderadas e poderem receber, de volta, as crianças que estão nas ruas e ficarem mais em casa protegidas pela própria família”, adiantou.
Maria do Nascimento adiantou que em relação ao trabalho infantil, o ICCA está a fazer um trabalho de recolha de informações para ver até que ponto essa situação, que está a ser vivida, pode perigar os ganhos conseguidos a esse nível.
“O trabalho infantil que é feito em Cabo Verde é mais um trabalho informal que é mais difícil de ter dados concretos”, disse indicando estar previsto para este ano a realização de um inquérito sobre o trabalho infantil para ver qual é situação actual já que as informações datam de 2012.
Entretanto, adiantou que a organização governamental que dirige tem um projecto para, já neste mês de Junho, trabalhar com as crianças com idade superior a 15 anos no sentido de fazer com que descubram o seu talento, o que querem fazer em termos de formação e capacitação com o fito de tirá-las da rua.
Às crianças com idade inferior a 15 anos o trabalho vai no sentido de fazer com que fiquem mais nas escolas e frequentem os centros de dia que o ICCA tem praticamente em todas as ilhas.
“Portanto é evitar que essas crianças estejam nas ruas ou então a fazer o trabalho infantil. É esse aspecto que estamos a reforçar e o ICCA também esta a reforçar a sua capacidade técnica para podermos acompanhar mais essas crianças com técnicos no terreno no sentido de melhorar a situação”, disse.
A presidente da Fundação Infância Feliz, Adélcia Pires, disse não dispor de dados que lhe permita opinar sobre o assunto, preferindo destacar o aumento da convivência das crianças com as respectivas famílias.
A pandemia da covid-19 levou ao aumento dos índices de pobreza e de pobreza extrema em muitos países e tem afectado a franja da população com rendimentos mais baixos.
Comentários