É preciso pensar, analisar, avaliar e responsabilizar - a PN precisa de rumo.
In memoriam de Tuto, Hamilton Morais, meu ex-aluno da escola da polícia, que foi um agente exemplar no serviço, extrovertido, honesto e fiel, um amigo que dirigia para mim com absoluta confiança e sem nenhuma barreira hierárquica, eu manifesto publicamente a minha indignação pelas declarações irresponsáveis, extemporâneas, inoportunas e confusas, feitas pelo Director Nacional da PN, em 26-11-2019, numa altura em que o caso se encontra sob investigação das autoridades competentes, por conseguinte, sob o segredo da justiça, com um suspeito/arguido em prisão preventiva. Por sinal, este um agente sereno, discreto, do qual eu não tinha nada a dizer... eu não julgo... não devemos... não podemos...
Só as autoridades competentes, na devida altura, terão a legitimidade de sentenciar sobre esse caso, quando o processo ora em segredo de justiça estiver tramitado/julgado.
Essa tentativa de subverter as regras jurisdicionais foi um desrespeito grave aos familiares do malogrado que, certamente, não contavam com essas declarações tardias e sem nexos, expressamente para tentar esconder as fragilidades institucionais. Perdeu-se respeito pelas autoridades judiciais e quer-se fazer disso uma escola.
Depois de se ter exposto triunfalmente o pobre Jamaica como bode expiatório, etiquetado de delinquente, proibido de circular...
O comportamento da superestrutura da PN causou danos incomensuráveis ao país, ao Estado de Direito, ao governo e à PN, tentando escamotear a realidade dos factos, promovendo especulações de topo tipo, colocando a imagem da corporação policial na corda bamba.
Com dirigentes desse tipo de PR (Paulo Rocha) e EM (Emanuel Estaline) o sentimento de segurança e a própria segurança no seu sentido real é uma quimera.
Eu, embora ausente, recebi a notícia dessa trágica ocorrência, pouco tempo depois de ter acontecido. Eu recebi diversas mensagens sucessivas de agentes, meus fiéis amigos, a me dar conta do sucedido. A minha revolta foi grande, carregada de emoção, impotente, sem poder. O corporativismo pesa muito, sobretudo quando a vida esteja em causa. Paciência!...
Eu fiquei a meditar os cenários para prever as hipóteses, tratando-se de um incidente táctico grave em que um agente valente e corajoso caiu.
Inegavelmente, de três, uma das hipóteses que coloquei empiricamente, é de ter havido um disparo da arma de um dos colegas da equipa, tratando-se de uma intervenção noturna, em ambiente escura ou de fraca luminosidade, sem se ter precavido das regras de segurança para com a arma de fogo nessas circunstâncias. As outras duas hipóteses eram mais remotas. Uma é já de domínio público e da outra eu não vou agora especular, porque não interessa. Eu debati essa hipótese com algumas pessoas da minha afinidade relacional, mas sem julgamento.
O estranho é que, passados todos esses dias, aparece o Director Nacional da PN, desprovido de qualquer traquejo policial e sem nenhum argumento fiável, a querer passar a ideia de que esse caso muito grave foi um acidente.
Pode até ser um acidente. Creio eu. Mas, o Director da PN levou demasiado tempo para vir a dizer isso, aumentando a mágoa e o sofrimento dos familiares e afins do malogrado, depois de muitas especulações que colocam a corporação policial no fundo do pântano.
A tentar esconder o sol com uma peneira, suspendeu-se a comemoração do dia da polícia que, em vez dos “rega-bofes” e condecorações selectivas aos amigos e outros actos folclóricos, podia-se muito bem, modestamente, comemorar esse dia, adaptado a um programa de circunstâncias que não um fingimento de luto.
Eu termino esta comunicação, da mesma forma como eu tinha comunicado na madrugada do trágico acontecimento, nos seguintes termos:
Sejais honestos, valentes, corajosos, determinados e cautelosos em todas as acções!
Paz à alma do nosso agente Hamilton Morais - Tuto.
Profundamente consternado, os meus sentidos pêsames à família, aos parentes, amigos e colegas.
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