porque, entre infinitas ruínas, / entrançados os vínculos / que o terror cindiu, guardaste / as últimas palavras desses / que atravessaram as águas do verde / cabo para a pátria que há-de ser.
Acorda, absorto poeta;
tu que ao apagar das luzes
emudeces também
na fila de trás,
faz-te agora à pedra e ao pau,
por saberes que este mundo mau
é do lobo e do lacrau,
e o tempo admonitório
te espreita, poeta,
e por tropos que alinhaves,
pressagos, escapas à íngreme derrota.
Toma nota:
onde golfa, claro, o sangue do extermínio,
acolhe-se também a mais subtil ilusão,
que incuba a dúvida, finta a razão
lapidada do lado onde a vida dessangrara
e a temeridade esteve a soldo
duma negra glória.
É a descer, poeta,
que te dás conta como estreitas
são as veredas e enganosos os sinais,
mas desembocas onde não se leiloa
a reparação, pois a desova do terror
constelou cada pedra do teu ser.
Desce agora mais fundo, poeta:
o tempo exige que afeiçoes a lâmina
à intérmina rebentação do murmúrio
inevitável. Não compres o conforto
do silêncio, poeta, nem que o olvido
se encarnice sobre gerações
de danados, ou o deus acenda flashes
para a tua restrita glória;
é cedo, poeta, que o teu empenho
assinala o sangue dos séculos
(desses que em desabrido rasgão
imprimem sobre a tua pele a precoce
vocação para o desmoronamento)
e a demorada luz te diz que agora
termina o exílio,
porque, entre infinitas ruínas,
entrançados os vínculos
que o terror cindiu, guardaste
as últimas palavras desses
que atravessaram as águas do verde
cabo para a pátria que há-de ser.
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