O estudo Afrobarometro, apresentado hoje na Praia, concluiu que a maioria dos cabo-verdianos passou a defender a oficialização do crioulo como língua nacional a par do português.
“Em 2019 tínhamos metade dos cabo-verdianos a favor da oficialização do crioulo e outra metade contra. Neste momento já temos uma larga maioria a aceitar o crioulo como língua nacional e o seu ensino nas escolas”, explicou José Semedo, diretor-geral da Afrosondagem, ao apresentar hoje as conclusões do estudo na Assembleia Nacional.
De acordo com o inquérito, 72% dos inquiridos mostrou-se favorável ao uso do crioulo como “meio oficial de instrução em todas as escolas de Cabo Verde”, 78% apoia o crioulo como “disciplina obrigatória em todas as escolas” do país e 64% concorda com a sua elevação a “língua oficial como o português”.
O estudo Afrobarometro é realizado regularmente nos países africanos e em Cabo Verde – que já realizou em 2002, 2005, 2008, 2011, 2014, 2017 e 2019 - contou com inquéritos de abrangência nacional a 1.200 pessoas com mais de 18 anos feitos de 22 de julho a 05 de agosto de 2022, uma margem de erro de 3% e um nível de confiança de 95%, segundo os dados da Afrosondagem, que o realizou.
O Afrobarometro constitui uma rede de pesquisa não-partidária que realiza pesquisas de opinião pública sobre democracia, governação, condições económicas e assuntos relacionados em cerca de 37 países africanos. Foram realizadas nove séries de pesquisas entre 1999 e 2022.
O crioulo cabo-verdiano é a língua materna em Cabo Verde, embora com variantes entre algumas ilhas, e nos últimos anos intensificou-se o movimento da sociedade civil a pressionar a sua elevação a língua oficial.
O artigo 9.º da Constituição da República de Cabo Verde, de 1992, define apenas o português como língua oficial, mas também prevê que o Estado deve promover "as condições para a oficialização da língua materna cabo-verdiana, em paridade com a língua portuguesa".
Um grupo de quase 200 personalidades cabo-verdianas lançou em 2022 uma petição também nesse sentido e pediu apoio ao do chefe de Estado, José Maria Neves, para a promoção da língua, anunciando que pretende criar uma associação em prol do crioulo, não só para a sua oficialização como língua nacional, como para ensino e padronização.
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