“O que nos torna pessoas viciadas não é exatamente uma postura criminal, nem a droga lícita ou ilícita em questão, mas sim a gaiola na qual estamos presas. A depender da sua gaiola e do regime de condicionamento e de prisão, você vai recorrer a um entorpecente legal ou ilegal, que te ajude a sair desse lugar, que te ajude a desconectar dessa realidade. As pessoas viciadas ou dependentes, são aquelas que vivem em gaiolas tristes. Na falta da possibilidade de criar laços sadios, o que sobra para elas é criar laços de dependência com substâncias que fazem mal. “ Rita Von Hunty -Tempero Drag
Mindel ê nossa Mindel ê d'kel bom. Mindel da minha infância, dos pés descalços sujos da terra d'índio. Mindel da minha adolescência, das rivalidades do futebol de fralda no Campo de Bitin, das guerras de "monta lata" nas filas de água no Fontnar.
Mindel da minha juventude e do início do fim dos anos "in". Mindel ê nossa Mindel ê d'kel bom
Mindel, que ao contrário da mascrinha que sempre chega a horas para o "brincar até de manhã", está atrasada como todo bom kriol, mas, mais que atrasada, Mindel parou no tempo.
Nôte d'Mindel é lua cheia, é calor, é brincadeira, Nôte d'Mindel já dam na testa, Noite de Mindelo já não é d'kel bom.
Já não é porque, o carnaval que vem do fundo de nôs corason, estendeu-se demais, e até as sereias que cantavam à lua cheia provocando os humanos para a luta, há muito se cansaram e remeteram-se ao mais profundo silêncio.
As mulatas continuam maravilhosas com os egos e autoestima trabalhados a ferro em ginásios, pena que o músculo mais crucial parece que regride na mesma proporção.
Mindel das serenatas, violão, cavaquinho e coladeiras. Coladeiras que tão profundamente criticaram o Status Quo, denunciando o Estado das coisas, agora é o Mindel do "corrê ke oli mascrinha", do rebolar das ancas, do tremer de ombros e do nada fazer.
Mindel ê nossa Mindel ê d'kel Bom, cada vez mais gueto que cidade, cada vez mais medíocre do que suficiente, cada vez mais depois de sab morrê ka nada. Só que a reza do "depos d'sabe morre ka nada" já se materializou, e a morte está em processo acelerado de instalação.
O Mindelo do tempo de "canequinha" que a esmagadora maioria da população que aí vive, não conheceu, alastrou-se pelas mentes da sua população residente e como a droga Oxicodona, as fez refém de um tempo que não volta mais, reféns de uma realidade que já não é sonho, e sim um pesadelo.
Pois é, passei as férias de Natal em Mindelo, e regressei à cidade que me acolhe com o sentimento que ali vive-se num mundo paralelo, regado a falta de educação, drogas e álcool.
Um mundo leviano, fútil, superficial e decadente, que chega a cheirar a podre. À podridão moral, cívica e intelectual.
O Mindelo de outrora que só existe no imaginário da maioria da população, parece ser a tela onde desenrola a vida atual, mas por existir somente no plano da imaginação, há cada vez mais o recurso a "festas" para anestesiar as almas, que não aguentam mais o sofrimento de ter que agir para mudar, mas faltam-lhes ovários e testículos para tal.
Regressei de Mindelo com a triste certeza que não há nada a fazer a não ser sentar e ficar a observar os assaltos, as mortes inconsequentes, a barbárie provocada pelo álcool e pelas bocas de fumo.
Dói-me a alma ver a casa que pertenceu a uma das "avós mais doce e rapienta" da minha rua, a avó que veio da Ribeira dos Bodes, a avó que fazia o melhor café “preto” do mundo que oferecia juntamente com “patanca”, mas somente à criançada mais bem comportada, a avó que apesar das quatro filhas e da dezena de netos, vivia sozinha, mas recebia a todos, a avó baixinha, bonita e carismática sempre atenta ao que se passava no bairro, dizia eu, dói-me ver essa casa que povoa as lembranças de muitas infâncias e juventudes, transformada numa gaiola de morte lenta e “passar sab” momentâneo.
Termino citando outra vez a Rita Von Hunty, do Tempero Drag: “torna-se necessário investimentos públicos conscientes e capazes de integrar os cidadãos nas sociedades, tirando-os das suas gaiolas tristes, e fazendo com que tenham perspetivas reais e razões para acordarem a cada dia, e estabelecerem laços saudáveis. Quando um Estado assim procede, o problema com as drogas e com o consumo abusivo do álcool estará a meio caminho para a sua resolução.”
Oh Deus obrigada pess luar de prata
Ess not de Mindel, um note sem par
Pa no bem screve que pena d’prata mas um pagina d’nos vida
Mindel ê nossa……
Comentários
Tereza Moreira lopes, 26 de Fev de 2025
Compartilhe esse mesmo visão pior que nossa população é maioria jovens não vejo futuro para eles não estou a ver cultura de trabalho dedicação formação desporto só festas festivais etc.
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