Uma cidade turística deve garantir o bem-estar dos visitantes e dos seus habitantes, proporcionando oportunidades económicas sustentáveis e promovendo a qualidade de vida de todos. No entanto, em Santa Maria, verifica-se um abandono generalizado, com escassos investimentos públicos que, quando surgem, chegam com anos de atraso.
Apesar de ser considerada a “capital do turismo”, a perceção da sociedade salense é de que Santa Maria serve apenas para encher os cofres do Estado, enquanto o dinheiro gerado pela cidade é utilizado como instrumento político para ganhar eleições em outras ilhas com mais votantes. Não é aceitável que uma cidade que contribui anualmente com cerca de 100 milhões de euros — através da taxa turística, taxa aeroportuária e IVA — (sem contar com as outras infinidades de taxas e impostos) se encontre num estado de abandono que a faz parecer um gueto.
Exemplos claros desse descaso incluem a degradação do Pontão (agora Pedacinho), que acabou por ser destruído, a demora na construção do centro de saúde, a negligência em relação à praia de Santa Maria e a deterioração da estrada que liga a cidade ao aeroporto bem como as avenidas de ligação aos hotéis. Sem uma requalificação urbana e uma visão estratégica para o turismo, Santa Maria continuará a perder oportunidades de crescimento e desenvolvimento.
Uma cidade com iluminação deficiente, passeios mal concebidos (ruas de 15m ou 20m com coisa parecida com passeio de 1m), falta de espaços verdes e acessibilidades inadequadas enfrenta sérios desafios para atrair e reter visitantes que estão a maior parte do tempo dentro dos hotéis, além de prejudicar a qualidade de vida dos seus habitantes.A fraca iluminação pública aumenta a perceção de insegurança e o risco de criminalidade, afastando turistas e limitando o turismo noturno. Restaurantes e bares fora da zona pedonal perdem clientes ao anoitecer, afetando diretamente a economia local, especialmente nas ruas mais afastadas do centro.
A ausência de prioridades claras e a falta de uma visão estratégica continuam a ser problemas crónicos da nossa classe política, contribuindo para a degradação da cidade e do destino turístico.
Os passeios, muitas vezes estreitos, irregulares e mal conservados, dificultam a circulação de pessoas, sobretudo idosos, crianças e cidadãos com mobilidade reduzida, levando a maior parte das pessoas a caminhar pela via, ignorando o perigo de atropelamento. A falta de manutenção e a obstrução dos caminhos tornam a experiência de caminhar pela cidade desagradável, levando muitos turistas a limitar-se à rua principal ou aos hotéis.
A ausência de espaços verdes torna o ambiente urbano árido, quente e pouco acolhedor, prejudicando a estética da cidade e contribuindo para a criação de ilhas de calor. A instalação excessiva de asfalto agrava essa sensação de desconforto térmico ao longo de todo o ano. Tanto moradores quanto turistas perdem oportunidades de lazer, descanso e atividades ao ar livre — fatores essenciais para a qualidade de vida.
A desorganização urbana também se reflete na proliferação de cabos de eletricidade e comunicação expostos, que degradam ainda mais a paisagem da cidade. A falta de um planeamento adequado compromete não só a imagem de Santa Maria, mas também a segurança e o conforto de quem a visita e nela vive. Ter cabos aéreos de eletricidade e comunicação num lugar tão plano e pequeno, demonstra falta de visão de inovar a estética das ruas, colocando toda a infraestrutura no solo antes dos trabalhos de arruamento.
“Precisamos combinar sustentabilidade, inclusão e estética para transformar os espaços urbanos, promovendo uma vida mais saudável e centrada nas pessoas”
A câmara municipal do Sal, liderada pelo vice-presidente Júlio Lopes, continua a seguir a mesma estratégia desde 2016: manter-se no poder. Caso contrário, teria a coragem política de assumir riscos e apostar numa estratégia de médio e longo prazo. Em vez disso, opta por ações em quantidade e não em qualidade, evitando socializar os projetos com a comunidade (mas quais projectos?).
O maior exemplo da ausência de estratégia é a asfaltagem das ruas da cidade, que em nada melhorou o destino turístico nem contribuiu para a criação de uma sociedade saudável e sustentável, ao contrário do que os governantes tentam fazer crer. O vice-presidente e os seus pares não conseguiram em nenhum momento mostrar a importância deste asfalto para a cidade e quando que esta era uma prioridade.
Outro exemplo é a famosa bandeira azul e a gestão da praia de Santa Maria, que foram anunciados como importantes e nunca saíram do papel ou se calhar não tiveram a competência para os implementar, porque o clientelismo é a prioridade (ex: camas de praia são uma aberração em quantidade e estética visual).
O novo projeto do pontão é mais um exemplo da má gestão do planeamento em Santa Maria. Além de chegar tarde, revela que os projetos não têm como objetivo melhorar o destino, mas sim criar obras isoladas, sem qualquer ligação entre si, dificultando a continuidade por futuras gestões.
Este projeto parece existir apenas para mostrar que algo foi feito. Se realmente se preocupasse com as necessidades da população e o desenvolvimento do destino, deveria estar integrado no plano “Santa Maria, Destino de Excelência", garantindo continuidade e coerência entre as intervenções.
O projeto do pontão deveria focar-se também na sua integração com a zona pedonal, a praia António Sousa e outras zonas e infraestruturas futuras criando uma ligação harmoniosa e funcional para residentes e turistas.
Na minha opinião, deveríamos repensar Santa Maria começando imediatamente por melhorar significativamente os passeios e a iluminação transmitindo a sensação de segurança para todos. Para financiar essas e outras melhorias, seria essencial canalizar, durante pelo menos um ou dois anos, a totalidade da taxa turística exclusivamente para investir em Santa Maria. Este plano deve envolver a sociedade civil, as associações comerciais, incluindo também os deputados, a Câmara do Turismo, o ITCV, a Câmara de Comércio de Barlavento e a Câmara Municipal do Sal.
Mas temos um grande problema, a incapacidade dos nossos líderes em compreender o que queremos para Santa Maria e o que desejamos oferecer aos visitantes é o principal obstáculo ao desenvolvimento do destino turístico. Sem mudanças estruturais e um compromisso sério com a sustentabilidade, a “capital do turismo" continuará a ser um destino desvalorizado, incapaz de proporcionar uma experiência de qualidade além do sol e da praia — algo inadmissível para uma cidade com tanto potencial.
Comentários
Antonio Monteiro, 24 de Fev de 2025
Infelizmente nem o governo nem a Câmara Municipal não estão interessado no desemvolmito sustentavel da ilha, caso contrário bairros que foram urbanizados ha mais de 30 anos já teriam o minimo de infra estruturas, temos exemplo do Bairro de Praia Antonio de Sousa, que tinha 3 fases para executar as obras, saltaram da primeira pa segunda fase deixando a primeira e a terceira para nunca. É claro, ali não há votantes.
Responder
O seu comentário foi registado com sucesso.