Cabo Verde 50 anos depois – A ALMA DE UM POVO LIVRE
Ponto de Vista

Cabo Verde 50 anos depois – A ALMA DE UM POVO LIVRE

Cinco décadas depois da Independência, e trinta e cinco anos depois da Democracia, ambas continuam a ser conquistas inegociáveis. São pilares da dignidade e da autodeterminação. Exigem vigilância, respeito e cuidado permanente. Não se constrói o presente destruindo o passado. Não se corrige a história com insinuações ou calúnias. A verdade é que não há nada mais precioso do que viver em liberdade, progresso e felicidade. E isso só é possível com independência e democracia. Viva o 5 de Julho!

“A celebração da Independência é mais do que um ritual histórico: é um compromisso com a dignidade, a soberania e a responsabilidade coletiva”. 

Nestes termos, diferentemente do entendimento dos nostálgicos e do preconceito de superioridade racial, é preciso perceber que a natureza do cabo-verdiano é igual à de todos os outros povos. Tal como a alma, ela é inseparável do corpo e reside dentro de cada ser humano. Não há natureza distinta conforme a geografia ou a cor da pele — mesmo que, em tempos passados tenha havido quem pedisse ao Papa o reconhecimento de uma "superioridade natural" da raça branca. Inacreditavelmente, ainda há quem assim pense. 

Portanto, não faz sentido procurar modificar ou substituir essa natureza, como fez certo investigador negro, dividido entre bandeiras e memórias, ao tentar ilibar os horrores do colonialismo português. Tal como a cicuta que envenenou Sócrates, esse negacionismo envenena também a alma coletiva de um povo. 

Contra a corrente, e sem procurar ser excecional apesar de especial, o povo de Cabo Verde — no arquipélago e na diáspora, sobretudo na antiga metrópole — deve celebrar com honras de Estado, religiosas e populares os cinquenta anos da sua Independência. Esta é a oportunidade para reforçar a esperança em dias mais prósperos, desejados há mais de cinco séculos, durante os quais a nossa história esteve suspensa pela imposição colonial. 

Dias melhores que só se tornarão realidade, se cada cabo-verdiano fizer a sua parte: manter o elo com Cabo Verde, mesmo longe. Trabalhar pelo país, não por nostalgias imperiais. Viver de frente para Cabo Verde, não de costas. Defender a sua soberania, em vez de a deslegitimar com a ideia de que foi um erro histórico. 

O nosso país, a nossa ilha, a nossa cidade têm alma. Uma consciência interior que nos liga a todos. Esta alma é integradora, não sectária. Sem ela, perdemos a existência e o sentido. Como um ramo arrancado da árvore-mãe. 

A alma de Cabo Verde existe. Ela é parte do nosso ser. Onde quer que estejamos, não devemos desligar-nos da nossa terra, da nossa família, dos nossos amigos, por causa de interesses passageiros. Quem almeja novos tempos só para si, invocando o nome do povo em vão, está a comprometer o futuro de todos. 

Por vezes, é o descuido com a nossa própria alma que nos leva a ignorar as nossas origens. Mas não basta regressar. É preciso chegar e dizer: "Sou eu. Estou ao teu serviço e de mais ninguém." 

Cinco décadas depois da Independência, e trinta e cinco anos depois da Democracia, ambas continuam a ser conquistas inegociáveis. São pilares da dignidade e da autodeterminação. Exigem vigilância, respeito e cuidado permanente. 

Não se constrói o presente destruindo o passado. Não se corrige a história com insinuações ou calúnias. A verdade é que não há nada mais precioso do que viver em liberdade, progresso e felicidade. E isso só é possível com independência e democracia. 
Viva o 5 de Julho! 

Viva a alma de Cabo Verde! 
 

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