Nesta república arquipelágica, o mar liga e desliga; a política une e desune. Sim, a política... a mesma que, há mais de 500 anos, nos mata a fome. A política, hoje, é pulseira do nosso terrorismo judiciário: perseguem um articulista, cidadão honesto, apenas por analisar a postura política do ex-Presidente da Assembleia Nacional, e tratam com leniência a máfia e a corrupção — corrompidamente enrolados um no outro, com processos-crime compassivos com à máfia dos terrenos agendado/desagendado para julgamento — marcados apenas para mandar “recados”. Imaginem a quem? À política.
Este processo nunca irá a julgamento. Assim como nunca serão acusados as centenas de processos-crime na Procuradoria-Geral da República, cujo objeto é a corrupção, porque, simplesmente, estão a ser tramitados a passos de tartaruga até prescreverem.
E isso é tão burlesco que o delinquente, ora provoca todo o sistema que o investiga, ora o alicia, na esperança de que a parceria dê frutos. É a mesma lógica que levou o Presidente da Câmara Municipal da Praia, Francisco Carvalho, numa entrevista à televisão pública cabo-verdiana, no programa Ponto por Ponto, dirigido pela jornalista Maria da Luz Neves, a dizer o seguinte:
"[...] temos de naturalizar as queixas; naturalizemos as queixas; confiamos na justiça; o mais importante de tudo é o desfecho das queixas. O que é que, no final, as queixas vão revelar? Isso é fundamental, porque eu garanto que, no nosso caso, estas queixas todas não vão encontrar, em nenhumas circunstâncias, nem cinco tostões roubados na Câmara Municipal da Praia. Isso eu garanto a todos.
Francisco Carvalho de uma forma muito efusiva expressou: “Sublinho: na nossa gestão, não vai ser encontrada nenhuma situação de desvio de dinheiro, de corrupção iguais àquelas que foram encontradas na gestão do MpD nos últimos 12 anos."
Para, para, para! — Senhora jornalista, és uma profissional da 3.ª idade, com domínio de 100% da língua portuguesa... Como é que não percebeste a contradição dessa resposta?
Por um lado, diz que, em nenhuma circunstância, há cinco tostões roubados na Câmara Municipal da Praia. Por outro, afirma que não vai ser encontrada nenhuma situação de desvio de dinheiro, de corrupção iguais àquelas que foram encontradas na gestão do MpD nos últimos 12 anos [...] ".
Isso não é incompetência profissional. É, sim, conivência com a estrutura corruptível da TNCV — é como reportar o teatro do narcisismo político!
Acrescenta o entrevistado Francisco Carvalho, Presidente da Câmara Municipal da Praia: "[...] nós temos de analisar: por quê? Que [eu fiquei particularmente muito triste com essa situação] processos que levam anos para chegarem ao patamar de investigação, e há outros que, fico com a sensação que, têm patins — portanto, que, deslisam sobre rodas. Esta questão é preocupante num Estado de direito e democrático; os processos — todos eles têm que ter a mesma velocidade. Isso não é apenas um insulto à inteligência do jornalismo, é um insulto intelectual extensivo a toda a sociedade cabo-verdiana, porque todos sabemos que os processos da investigação por crime de corrupção são indispensáveis em tempo útil para a busca de provas. Portanto, os processos criminais não são idênticos entre si, em suas construções. Credo! Isso é espetacular. Parabéns à nossa televisão pelo seu silêncio colaborativo, a bandeira democrática mais uma vez hasteada. Que chacota!
A corrupção na Câmara Municipal da Praia, lesa o país em centenas de milhares de contos e o Francisco Carvalho usa o palco da televisão pública como uma cortina de fumaça para mandar recado ao sistema de justiça: “Se não agiram contra corrupções passadas, não devem agir contra a atual”. Pedindo que o sistema continue viciado, para que também os processos contra ele, e a sua gestão, sejam tramitados a passos de tartaruga, até prescreverem.
Francisco Carvalho tenta, publicamente, fazer de vítima para manipular as instituições de justiça, destruir o laço de confiança entre o povo e as instituições da República, para se safar da Inspecção Geral de Finanças, do Tribunal de Contas e até do Ministério Público.
Eu, cidadão praense, santiaguense e cabo-verdiano, por experiencia pessoal e profissional, digo que este povo é amigo dos criminosos, sobretudo quando tira proveito do crime, seja de forma direta ou indireta. Basta ver o choro coletivo à porta do tribunal quando um criminoso é mandado para a cadeia.
É exatamente nestas famílias que o MpD e o PAICV vão buscar o suporte eleitoral — os vendíveis, aqueles que demostram mais emoções e empatia pelos criminosos do que pelas vítimas. Os partidos políticos, através dos seus dirigentes corruptos, vão acumulando riquezas e exploram essa mentalidade para garantir votos, cultivando uma base eleitoral que é “comprável” com favores, promessas e “tachos”.
Não venhas me dizer, você — Mário, Maria, João, Joana, José ou Josefa — que estás de mãos limpas, porque não estas. Quantas vezes já celebraste com o seu líder a destruição dos valores étnicos da nossa sociedade, onde a corrupção não é apenas aceite, mas festejada por você? Devo dizer aqui que me posiciono contra uma “ladrocracia bipartidária” e o aparelhamento do Estado e das Câmaras pelo MpD/PAICV.
Chegando ao final, penso que já é suficiente para você entender a minha pergunta e me ajudar a compreender o cérebro deste povo. Com certeza, ajudará a si mesmo:
Como está o território mental dos cabo-verdianos? Qual é o trauma da nossa tragédia coletiva que devemos combater?
A fome histórica? A fome Psicológica? A corrupção? O delito comum? O conflito identitário? O catolicismo escravagista e/ou sua doutrinação ou o lachismo? Há outros itens...
Alguma coisa precisamos fazer coletivamente, porque o povo ou está a sair do país numa emigração emocional, ou está “matando a cabeça”, ou — se preferir — está a suicidar-se.
Vejam a lista de países por taxa de suicídio, publicada pela Organizações Mundial de Saúde [OMS] num universo de 183 países.
O Zimbabwe está na 183 posição, ou seja, é o último da lista.
Ruanda está na 137 posição.
Cabo Verde está na 28 posição.
Obs: Escolhi Ruanda porque, em 1994, este país sofreu um dos maiores genocídios do mundo moderno, com cerca de 800 mil pessoas assassinadas em apenas 100 dias; e escolhi o Zimbabwe porque, de todos os países africanos, é o único que recebe sanções pesadas do ocidente.
Reflitam sobre o território mental dos Caboverdianos, da ilha Brava à ilha de Santo Antão ou, se preferirem, de Santo Antão à Brava.
Como dizia o político: Jaaaaapon d’África!
Por agora, creio, que estamos conversados!
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