Às avessas ou como o caos vem tomando conta disto tudo!
Colunista

Às avessas ou como o caos vem tomando conta disto tudo!

A gestão dos aeroportos, muito rentável, passa agora para o setor privado. A gestão dos portos está logo a seguir, numa linha sequencial onde perfilam a energia, a produção e comercialização de medicamentos, e por aí vai. Se o governo cumprir o prometido, os cabo-verdianos vão ver mais de duas dezenas de empresas do Estado sendo conduzidas para o privado, (ou será para o matadouro?), preferindo-se que os novos donos (ou serão carrascos?) sejam estrangeiros. O setor financeiro já está nas mãos de estrangeiros, faz tempo. Os privados nacionais – por acaso, existe tal classe entre nós? – não passam de carregadores do piano. Surreal?... Sabe-se lá… no limite há de ser um jogo de sorte e azar, ou a manifestação de uma demência coletiva. O tempo dirá!

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Por aqui, anda tudo às avessas. O setor agrário sobrevive entre o caixão e a cova. A capacidade de produção agrícola instalada está a definhar todos os dias. A falta de água é uma das causas mais visíveis desta queda paulatina da capacidade produtiva nacional, mas o seu peso neste que é sem dúvida um grande travão no processo de desenvolvimento do país é praticamente insignificante, se atentarmos para a ausência de uma política pública para o setor primário da economia, onde salta à vista um inadimissivel desprezo dos poderes públicos em relação à atividade agrícola, animal, pesqueira e, consequentemente, a toda a cadeia de produção, emprego e rendimento subjacentes. Maldito o país que não se presta a produzir o pão!

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Acredita-se que a força do desenvolvimento da economia nacional está no setor terciário. O turismo aparece aqui na linha de frente. Boa Vista e Sal são as ilhas com “vocação” para o desenvolvimento do setor. Assim diz o discurso oficial. É uma espécie de prémio de qualidade. Maio poderá um dia receber o seu prémio. Está de tocaia há décadas. As restantes ilhas são passageiras clandestinas nesta viagem rumo à terra prometida. A gestão dos aeroportos, muito rentável, passa agora para o setor privado. A gestão dos portos está logo a seguir, numa linha sequencial onde perfilam a energia, a produção e comercialização de medicamentos, e por aí vai. Se o governo cumprir o prometido, os cabo-verdianos vão ver mais de duas dezenas de empresas do Estado sendo conduzidas para o privado, (ou será para o matadouro?), preferindo-se que os novos donos (ou serão carrascos?) sejam estrangeiros. O setor financeiro já está nas mãos de estrangeiros, faz tempo. Os privados nacionais – por acaso, existe tal classe entre nós? – não passam de carregadores do piano. Surreal?... Sabe-se lá… no limite há de ser um jogo de sorte e azar, ou a manifestação de uma demência coletiva. O tempo dirá!

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De repente uma grande quantidade de produtos agrícolas é destruída e ninguém diz nada. Ninguém não, porque o povo já falou dizendo que num país como este, em que constitui um autêntico calvário para milhares de famílias ter acesso a três refeições por dia, é crime destruir alimentos, sobretudo alimentos oriundos do setor agrícola, que custam os olhos da cara nos dias que correm. Aqueles que deviam governar o país continuam calados, alheios ao sofrimento popular. A troca comercial entre as ilhas é aquela lufada de ar fresco que ainda teima em massagear as agruras dos dias pelos quatro cantos do arquipélago, mas para aqueles que deviam governar o país certamente é mais uma chatice de um povo ingrato, que não quer se contentar com o cadastro e pensão sociais, o rendimento social de inclusão ou as cestas básicas distribuídas em momentos estrategicamente identificados. A CV Interilhas, que transportou os produtos alimentares para a ilha do Sal, e que depois viriam a ser destruídos, falou aos cabo-verdianos para mostrar que a gestão das viagens entre as ilhas está sem rei nem roque, e que, afinal, o país está entregue à bicharada. Ela, a CV Interilhas, que autorizou a viagem da viatura sem a competente documentação, ainda se acha com poder e competência para sentenciar o destino dos produtos alimentares e a vida das Rabidantes, seus clientes. Surreal… dirá alguém. Será? Indecente… isso sim!

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O povo de São Vicente reservou um lugar de minoria ao MpD na Assembleia e Câmara Municipal de São Vicente nas últimas eleições autárquicas realizadas em outubro de 2020. De modo que, o funcionamento dos órgãos autárquicos saídos das urnas em São Vicente dependerá sobretudo da capacidade negocial dos “Democratas”, o que, pelos factos tornados públicos, tem sido manifestamente fraca e inconsequente. E, como resultado dessa incapacidade negocial, regista-se o chumbo de dois orçamentos municipais consecutivos – 2023 e 2024 – obrigando o segundo concelho mais importante do arquipélago, depois da Praia, a trabalhar com duodécimos, uma situação que condiciona sobremaneira o desenvolvimento da ilha do Porto Grande e bloqueia os legítimos sonhos das suas populações. A lei diz como proceder nessas situações, não podendo ser de jeito nenhum de outra maneira. E não é que aparece o Presidente da Associação Nacional dos Municípios na comunicação social, a dizer que não gosta de municípios a funcionar com duodécimos, sugerindo medidas “convenientes”, como se o que ele gosta ou deixa de gostar, ou o que ele acha conveniente ou inconveniente, fazem algum sentido na gestão pública do país?... Será que esse homem, que ocupa lugar de destaque na cadeia alimentar do partido no poder, não percebe que num regime democrático a única vontade e conveniência que contam e prevalecem são a vontade e a conveniência das Leis e do Direito? Decididamente, este país não é sério!

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SOBRE O AUTOR

Domingos Cardoso

Editor, jornalista, cronista, colunista de Santiago Magazine

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