Associações ambientalistas cabo-verdianas disseram à Lusa que a captação de água deve ser uma prioridade do novo fundo climático do país, a criar pelo Governo, em breve.
“Esse fundo deve ser aplicado na mobilização de água e na proteção do ambiente e biodiversidade”, referiu Januário Nascimento, presidente da Associação para a Defesa do Ambiente e Desenvolvimento (ADAD).
“Somos um país árido”, justificou Nemias Gonçalves, diretor para as áreas de ambiente e alterações climáticas na associação ambientalista Quercus Cabo Verde.
A aposta em investimentos que permitam a Cabo Verde preservar recursos hídricos é o denominador comum na lista de prioridades de ambas as organizações.
O arquipélago conta apenas com uma curta estação de chuvas, entre agosto e outubro de cada ano, com uma precipitação média de 230 milímetros por ano, muito irregular, chegando a haver anos seguidos sem chuva nalgumas ilhas.
Além da captação de água, o mar surge como pano de fundo natural do resto da lista.
A Quercus Cabo Verde alertou para a necessidade de tratamento de plásticos para prevenir a poluição costeira e marítima, numa agenda de sustentabilidade que deve privilegiar a transição para energias renováveis.
Sublinhado que as questões ambientais são transversais a toda a sociedade, Nemias Gonçalves disse que o país deve apostar ainda em campanhas de sensibilização para preservação de praias, controlo e gestão de recursos naturais e construção em locais apropriados – combatendo a que prolifera, de forma desordenada, em várias ilhas.
“Incutir na cabeça das pessoas [que há] locais apropriados para construção”, é importante, referiu, porque Cabo Verde “é um país vulnerável” a eventos extremos, com paisagens montanhosas, de elevados declives, palco de cheias repentinas e potencialmente destrutivas.
“Estamos a construir em locais de risco e isso aumenta ainda mais a vulnerabilidade da população e do país”, avisou o ambientalista.
O Governo cabo-verdiano espera criar em breve o novo fundo climático e ambiental, para a respetiva capitalização arrancar em março com um perdão de dívida inicial de Portugal, no valor de 12 milhões de euros.
O montante corresponde ao valor que seria entregue pelo Estado cabo-verdiano, como reembolso de capital, no âmbito do Contrato de Consolidação da Dívida de Cabo Verde a Portugal, celebrado em 01 de fevereiro de 2022.
“Nós entendemos que a negociação da dívida pública reveste-se de muita importância”, salientou o presidente da ADAD, que desde o início tem acompanhado a proposta de reconversão da dívida pública de Cabo Verde em financiamento climático.
Por seu lado, o diretor do ambiente e das alterações climáticas da Quercus Cabo Verde considerou que a capitalização anunciada “já é um bom início” e espera que outros países sigam o exemplo de Portugal.
“Eu acho que Cabo Verde daria um passo muito importante na preservação do ambiente e na luta contra as alterações climáticas”, enfatizou o porta-voz da associação, que ainda não foi formalmente ouvida para dar a sua opinião sobre o fundo, mas tem a expetativa de que isso venha a acontecer.
Tanto a ADAD como a Quercus Cabo Verde entendem que o Fundo Climático e Ambiental chega ao país “numa boa altura”, em que muito se fala sobre as alterações climáticas e menos de dois meses depois da cimeira das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28).
As associações ambientalistas ouvidas pela Lusa também esperem que o diploma seja aprovado “o mais rapidamente possível” pelo Governo, e depois pela Assembleia Nacional, sendo amplamente divulgado junto de todas as esferas da sociedade civil.
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