Jovens cabo-verdianos recém-formados relatam dificuldades no acesso ao primeiro emprego
Sociedade

Jovens cabo-verdianos recém-formados relatam dificuldades no acesso ao primeiro emprego

Jovens recém-formados abordados pela Inforpress no âmbito do Dia Internacional dos Trabalhadores relataram dificuldades no acesso ao primeiro emprego, apontando a exigência de dois anos de experiência e a deficiência de vagas como os principais desafios.

Concluir o ensino superior deixou de ser, para muitos, sinónimo de entrada rápida no mercado de trabalho.

Em Cabo Verde, centenas de estudantes concluem o ensino superior todos os anos, mas para muitos, “o diploma tem deixado de ser uma garantia de ascensão social, transformando-se num requisito insuficiente num mercado cada vez mais exigente”.

Em declarações à Inforpress, na cidade da Praia, vários recém-licenciados em diferentes áreas afirmaram enfrentar um cenário marcado pela exigência de experiência prévia e falta de oportunidades compatíveis com a formação.

"Avalio a minha experiência na procura de emprego como negativa. Sempre que me candidato pedem pelo menos dois anos de experiência. Terminei a licenciatura há pouco tempo e só tenho nove meses de estágio. As empresas não consideram isso suficiente para me contratar", lamentou Ana Varela, recém-formada.

“Não consigo emprego porque não tenho experiência, mas também não consigo experiência porque não tenho emprego”, acrescentou, referindo-se ao ciclo vicioso em que muitos jovens se veem presos.

A limitação de vagas em determinadas áreas é outra entrada apontada, conforme Hélder Tavares.

"Tem sido frustrante, porque há falta de vagas e, quando existem, exigem uma série de documentos e experiência que ainda não temos. Isso dificulta a nossa procura, tornando tudo mais complicado", afirmou.

“Somos obrigados a aceitar empregos fora da nossa área, o que é desmotivador depois de tanto investimento na formação”, reforçou.

Também a pressão familiar e social para alcançar a independência financeira contribui para o sentimento de frustração, segundo Elisa, formada em Relações Públicas, revelando sentir-se pressionada “por ainda não ter rendimentos”.

“Espero que eu já trabalhe e contribua para a casa, mas não é fácil”, confessou.

Os cenários profissionais e programas de empreendedorismo são vistos como alternativas possíveis, mas os jovens consideram-nos insuficientes.

Segundo Mário Silva, do Programa de Estágios Profissionais, apoiado pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), o programa é remunerado e tem duração de seis meses.

No entanto, findo esse período, afirmou serem escassos os mecanismos de integração que asseguram a continuidade à inserção no mercado.

"O estágio ajuda, mas quando termina, ficamos novamente à procura, sem qualquer apoio. Muitos acabam por desistir ou pensar em emigrar", relatou.

Perante esta realidade, os jovens apelam à criação de políticas públicas mais introdutórias e abrangentes, que incentivam as empresas a contratar profissionais sem experiência e facilitam a transição entre a formação acadêmica e o mercado de trabalho.

O Dia Internacional do Trabalhador é celebrado anualmente a 01 de Maio em vários países do mundo, sendo feriado nacional em Cabo Verde.

Partilhe esta notícia

Comentários

  • Este artigo ainda não tem comentário. Seja o primeiro a comentar!

Comentar

Caracteres restantes: 500

O privilégio de realizar comentários neste espaço está limitado a leitores registados e a assinantes do Santiago Magazine.
Santiago Magazine reserva-se ao direito de apagar os comentários que não cumpram as regras de moderação.