SEGURANÇA: o dilema atual dos cabo-verdianos
Ponto de Vista

SEGURANÇA: o dilema atual dos cabo-verdianos

 

No passado recente, a atual maioria do MPD, enquanto oposição democrática parlamentar, explorou até à exaustão o problema da segurança dos cabo-verdianos e seus bens, acusando o Governo de então de insensibilidade face à situação prevalecente. 

Quem não recorda as intervenções inflamadas dos deputados da então oposição no Parlamento sobre a problemática da segurança. O objetivo assumido era simplesmente, com recurso a técnicas trabalhadas pelos assessores de serviço, despertar a emoção dos cabo-verdianos e incentivar o levantamento popular, com o propósito confesso de tirar dividendos políticos. 

O MPD sabe que a questão da segurança assume dimensão estratégica para o País e tem plena consciência que o combate à criminalidade requer amplo consenso entre os atores,  políticos e sociais e medidas enérgicas face ao investimento daqueles que fazem da criminalidade o seu modus vivendi

Porém, este partido sempre assumiu um comportamento esquizofrénico face à problemática da criminalidade. 

De um lado, exigia do Governo medidas extraordinárias de combate à criminalidade, sobretudo na sua vertente organizada. De outro lado, criticava todas as medidas adotadas para estancar o aumento da criminalidade, seja por parte do Governo seja da parte das forças de segurança.

Alguém não se lembra do posicionamento do MPD perante a presença de militares nas ruas, para, coadjuvados pela Policia Nacional, reforçarem a segurança das pessoas e seus bens? 

Com objetivo meramente eleitoralista, o MPD colocou ostensivamente em ação todo o seu pessoal e todas as instituições por ele controladas, sejam associações públicas profissionais, sejam associações públicas municipais, descurando que semear vento é garantia de tempestades futuras. 

Quem não se recorda do posicionamento e intervenção desses atores e de destacados deputados e advogados em processos complexos, como a "Lancha Voadora" e/ou o "Voo da Águia"?

Quem não se lembra das famigeradas conferências de imprensa de destacados dirigentes da maioria sobre as contas, que estavam todas feitas, ou sobre as medidas, que estavam todas estudadas e traçadas para serem implementadas, tão logo o MPD merecesse a confiança dos cabo-verdianos e chegasse ao poder?

Afinal, está claro que a atual maioria não tinha qualquer conta feita e nem sequer uma perspetiva clara sobre a realidade concreta do País e o rumo que deve tomar.

Na verdade, volvidos um ano e quatro meses de governação do MPD, os cabo-verdianos assistem à degradação contínua, entre outros, dos índices de segurança no País, realidade que não conseguem escamotear, mesmo face à mais que visível censura e filtragem de informações nos órgãos públicos de Comunicação Social. 

Onde está a propalada tolerância zero para com a criminalidade?

Talvez só na cabeça dos atuais governantes. 

De fato, a criminalidade continua a atormentar os cabo-verdianos de norte a sul do País, pois os níveis de violência aumentaram e os crimes são perpetrados com cada vez maior requinte. Homicídios com ocultação de cadáver, assaltos armados a bancos e estabelecimentos comerciais, sequestro de pessoas deixaram de ser fantasias de Hollywood e passaram a ser vivenciados pelos cabo-verdianos.

Já não dá para esconder, pois os gritos de indignação já se fazem ouvir por todo o lado e vêm de todos os quadrantes sociais.  

É, de fato, inaceitável que, com mais recursos financeiros, mais efetivos policias, mais meios operacionais, o Governo não seja capaz de assegurar que as pessoas possam estar tranquilas, mesmo nas suas residências.

Os cabo-verdianos não podem ser relegados ao dilema de ter de consentir um atentado à sua própria vida, integridade física ou propriedade ou defender-se, correndo o risco de ir para a reclusão e ver todo o seu projeto de vida acabado.

O dilema aqui, traduzindo-se numa situação embaraçosa, para a qual não há saída senão por uma de duas opções, que se excluem, sendo ambas difíceis ou penosas, deve ser evitado pelo Governo, através do combate severo à criminalidade e aos criminosos, não havendo lugar à mais titubeias ou desculpas esfarrapadas.

João Baptista Pereira*

Deputado e vice-presidente do PAICV

* O autor escreve segundo as regras do Acordo Ortográfico

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