"O percurso traçado entre os diferentes sistemas de escrita — hieroglífica, hierática e demótica — está bem delineado e mostra uma compreensão profunda da evolução interna da linguagem escrita no contexto egípcio. A referência à escrita hieroglífica hitita e ao sistema de escrita "bustrofédon" evidencia ainda mais o cuidado com os detalhes históricos e linguísticos."
Gostaria de começar por felicitar o Dr. Francisco Fragoso pelo notável trabalho de investigação apresentado no artigo sobre a escrita egípcia e hitita, publicado no jornal online A Nação em fevereiro de 2025. A profundidade da pesquisa e a clareza na apresentação dos factos demonstram um conhecimento sólido e uma dedicação louvável ao estudo dos sistemas de escrita da antiguidade. É evidente que o autor, enquanto médico e humanista, possui uma visão abrangente e sensível sobre o papel da linguagem escrita na construção das primeiras civilizações.
O artigo cobre com grande mérito as origens da escrita hieroglífica egípcia, explicando de forma precisa a etimologia da palavra "hieróglifo" e a evolução da escrita egípcia, desde a fase pictográfica até à fonética. A explicação sobre a relação da língua egípcia com o grupo das línguas semíticas também está bem fundamentada, refletindo o consenso entre os especialistas em linguística histórica.
O percurso traçado entre os diferentes sistemas de escrita — hieroglífica, hierática e demótica — está bem delineado e mostra uma compreensão profunda da evolução interna da linguagem escrita no contexto egípcio. A referência à escrita hieroglífica hitita e ao sistema de escrita "bustrofédon" evidencia ainda mais o cuidado com os detalhes históricos e linguísticos.
Contudo, para enriquecer ainda mais o trabalho, gostaria de sugerir algumas pequenas correções e complementos, que podem ajudar a fortalecer ainda mais a precisão histórica:
1. Prioridade da escrita cuneiforme
Embora a escrita egípcia hieroglífica seja, sem dúvida, uma das mais antigas do mundo, a escrita suméria cuneiforme possui registros ligeiramente anteriores, datando de cerca de 3300–3100 a.C. em Uruk, na Mesopotâmia. A escrita hieroglífica egípcia aparece logo depois, por volta de 3200 a.C. Assim, seria mais preciso dizer que a escrita egípcia é uma das mais antigas, mas não necessariamente a primeira.
2. Período de uso dos hieróglifos
O artigo menciona que a escrita hieroglífica permaneceu em uso até o século III d.C. No entanto, há evidências de que os hieróglifos continuaram a ser usados de forma ritual e religiosa até ao século VI d.C. O fechamento dos templos pagãos pelo imperador Justiniano I (em 529 d.C.) é frequentemente considerado o marco final do uso dessa escrita.
3. A escrita hierática e o seu uso pelos sacerdotes
A associação da escrita hierática exclusivamente aos sacerdotes merece um pequeno ajuste. Embora o termo "hierática" derive do grego hieratikós (sagrado), a escrita hierática foi amplamente usada em contextos administrativos e literários, para além dos rituais religiosos. Os escribas que trabalhavam para o Estado e para a administração pública faziam uso extensivo desta forma de escrita.
4. A escrita hitita e o seu período de uso
O artigo menciona que a escrita hieroglífica hitita foi usada entre os séculos XVII e VIII a.C., o que está correto. No entanto, é útil lembrar que o Império Hitita entrou em colapso por volta de 1180 a.C. e que a escrita hieroglífica hitita continuou a ser usada em estados neohititas da Síria e da Anatólia até cerca de 700 a.C.
Estes pequenos ajustes em nada diminuem a qualidade e o mérito da investigação apresentada. Pelo contrário, reforçam a credibilidade e a precisão histórica do trabalho. O artigo demonstra um notável esforço em apresentar de forma acessível e bem documentada um tema tão vasto e complexo como a história da escrita na antiguidade.
O Dr. Francisco Fragoso conseguiu, com rara mestria, tornar compreensível um tema historicamente denso e tecnicamente complexo, tornando a leitura acessível sem perder o rigor científico. A profundidade das explicações e a forma didática como o tema é abordado fazem deste artigo uma referência para quem deseja compreender melhor a evolução da escrita na antiguidade.
Felicito o autor por este excelente contributo para o estudo da escrita e encorajo-o a continuar com o mesmo rigor e dedicação nas suas futuras investigações. A sua paixão pelo tema é evidente e traduz-se num artigo informativo e enriquecedor para todos os que apreciam a história das civilizações antigas.
Parabéns, Dr. Francisco Fragoso! Que este artigo inspire futuras gerações a explorar os mistérios da escrita e da linguagem na antiguidade.
Glorybe to God!
Djuze’ D’erriba
USA.March 2025
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