
A proposta de lei que aprova o novo estatuto dos municípios foi aprovada hoje, na generalidade, pelo parlamento com maioria simples e na sequência o PAICV (oposição) interpôs recurso à decisão da mesa, que, entretanto, foi rejeitado.
O diploma submetido à votação na generalidade foi dado como sendo aprovado ao merecer 35 votos favoráveis sendo 31 do Movimento para a Democracia (MpD - poder) e quatro da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID) e 20 votos contra do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV).
Num primeiro momento, o líder da bancada do PAICV, João Baptista Pereira, interpelou à mesa, no momento presidida pelo vice-presidente, Arlindo Luz, alertando que o diploma, que afirma ser de “valor reforçado” exige a maioria qualificada, assim como aconteceu com a lei vigor, aprovada no ano de 1995.
Caso contrário, reforçou João Baptista Pereira, está-se a violar a Constituição da República.
“O artigo 166, a linha I da Constituição da República, é muito claro em como estas matérias carecem da maioria dos terços dos deputados”, precisou o representante do principal partido da oposição, frisando que a não aprovação do diploma durante todo esse tempo tem a ver justamente com o facto de não se ter conseguido o consenso necessário para que este diploma fosse alterado.
Na mesma linha interveio o deputado da UCID António Monteiro, que também pediu esclarecimentos sobre o assunto, já que, conforme salientou, não houve alterações da legislação que sustentam uma aprovação do estatuto dos municípios com uma maioria simples.
Reagindo, o presidente da mesa de Assembleia em exercício, Armindo Luz, explicou que a decisão foi tomada com base num parecer da Comissão Especializada de Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos, Segurança e Reforma de Estado (1ª comissão) que orientou que a proposta de lei que aprova o novo estatuto dos municípios pode sim ser aprovada com a maioria simples.
“No ponto número dois, o relatório parecer da 1ª Comissão reza o seguinte: Quanto à maioria necessária para aprovação do presente diploma, basta uma maioria simples para a sua aprovação, de acordo com o número dois do artigo 161 da Constituição da República de Cabo Verde, porquanto foram expurgados da presente proposta de lei todas as matérias relativas às eleições municipais e ao estatuto dos titulares dos órgãos das autarquias locais”, citou.
Armindo Luz sublinhou que a mesa e o presidente, em nenhum momento, passaram por cima da Constituição e demais leis da República.
Os mesmos argumentos apresentaram o líder da bancada do MpD, Paulo Veiga, e a ministra da Coesão Territorial e dos Assuntos Parlamentares, Janine Lélis, que sugeriram que, se o PAICV não estiver de acordo com o parecer e o resultado da votação deve fazer recurso aos tribunais para os devidos esclarecimentos e pedir a nulidade da decisão.
Perante tais posicionamentos, o líder da bancada parlamentar do PAICV apresentou um recurso à decisão da mesa, que submetido a votação, foi rejeitado com 24 votos a favor, sendo 20 do PAICV e quatro da UCID e 32 votos contra do MpD.
Antes do encerramento dos trabalhos, João Baptista Pereira lamentou aquilo que classificou de “aprovação do novo estatuto à revelia da Constituição”, afirmando que este caso apela a uma “profunda reflexão política”, uma vez que o diploma em referência sequer mereceu uma maioria absoluta dos 72 deputados que o parlamento cabo-verdiano dispõe.
De entre as alterações constam o reforço da descentralização, que “passa efectivamente pela atribuição de mais competências às câmaras municipais”.
Conforme a ministra da Coesão Territorial prevê-se com esta nova lei pôr em acção uma estratégia de descentralização que permita aumentar a produtividade e o rendimento de todos os segmentos da sociedade e a distribuição equitativa dos ganhos do crescimento do PIB a todos os cidadãos, bem como a materialização desse programa de reformas legais e institucionais que vai criar as condições para a consecução do novo paradigma de governança territorial no país, adequado aos tempos presentes de convergência.
Os comentários publicados são da inteira responsabilidade do utilizador que os escreve. Para garantir um espaço saudável e transparente, é necessário estar identificado.
O Santiago Magazine é de todos, mas cada um deve assumir a responsabilidade pelo que partilha. Dê a sua opinião, mas dê também a cara.
Inicie sessão ou registe-se para comentar.
Comentários