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Quando as medidas nacionais entram em contramão com o mundo
Colunista

Quando as medidas nacionais entram em contramão com o mundo

1. A decisão de isenção de vistos é uma entrada em contramão com o combate que se trava no mundo em matéria de emigração e mobilidade humana e mais uma contraditória e infeliz machadada no relacionamento com os países da CEDEAO;

2. O mundo está de olhos postos nas questões migratórias, com importantes instrumentos de negociação mundial a serem construídos. Enquanto as Nações Unidas promovem a construção do "Pacto Global para a Migração Segura, Ordenada e Regular", as autoridades cabo-verdeanas, ao invés de se concentrarem no estudo, definição e apresentação de propostas que beneficiem a emigração de seus compatriotas, preferem oferecer o reforço da capacidade de circular pelo mundo de cidadãos de países já ricos e para ajudá-los a sustentar luxos - sim, porque turismo é luxo!

3. Por outro lado, como é possível que não se tenha a visão de se evitar que as relações com a África, particularmente com a CEDEAO, se tornem ainda piores, depois da má fama que Cabo Verde granjeou junto de países africanos devido à assinatura do Acordo de Readmissão com a União Europeia que permite que os cidadãos apanhados na Europa, em situação irregular, sejam deportados para Cabo Verde, após prova de que tenham saído das ilhas. É que, há muito tempo, a CEDEAO tem vindo a queixar-se da infinita indefinição de Cabo Verde que, por sua vez, é tremendamente veloz na decisão do reforço da mobilidade de europeus. Decisão tomada com base em quimeras económicas que vêm sendo vendidas pelos neo-liberais através dessa ilusão de que os ganhos da isenção de vistos serão distribuídos para todos os cabo-verdeanos!

4. Estando as autoridades nacionais tão certos desses efeitos estrondosos que o aumento do turismo irá trazer - como consequência imediata da introdução da isenção de vistos - porque razão não assumem o compromisso de, por exemplo, garantir o aumento do salário dos seus trabalhadores? Há aqui um paradoxo secular! Os governantes estão certos do quadro fantástico que irá resultar das medidas das quais nos querem convencer, mas não assumem nenhum compromisso quantificado de partilha desse mundo maravilhoso de que nos falam. Algum se arrisca a mostrar o aumento salarial que cada empregado do ramo turístico irá obter ao fim de um ano? Nunca! Pedem-nos apenas que tenhamos fé.

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SOBRE O AUTOR

Francisco Carvalho

Político, sociólogo, pesquisador em migrações, colunista de Santiago Magazine