O Governo pretende discutir com o Fundo Monetário Internacional (FMI) um novo programa de “reformas económicas estruturais” no arquipélago, indicou hoje fonte do executivo.
De acordo com o Governo liderado por Ulisses Correia e Silva, uma missão do FMI iniciou na quarta-feira o acompanhamento da economia cabo-verdiana, a qual vai decorrer até 24 de março, para, também, “traçar as principais linhas do novo programa”.
“Esta missão tem por objetivo discutir sobre um novo programa de reformas económicas que o Governo de Cabo Verde quer negociar com o FMI”, afirmou a mesma fonte governamental.
Acrescentou que “à semelhança do programa assinado em 2019” com o FMI – de apoio técnico, sem envelope financeiro -, “o Governo de Cabo Verde quer continuar a implementar importantes reformas estruturais, possibilitando um ambiente macroeconómico estável e favorável ao investimento, crescimento e sustentabilidade das finanças públicas”.
“Além dos desafios já existentes, no momento, é necessário fazer uma avaliação do impacto da pandemia da covid-19 e da guerra na Ucrânia, na economia cabo-verdiana”, sustentou igualmente, referindo que ao longo dos próximos dias serão apresentadas as discussões sobre as políticas monetária e orçamental, em relação aos resultados de 2021 e implicações para 2022.
O objetivo, refere o Governo, é a “preparação do país para a retoma, assente num crescimento sustentável”: “Pelo que o suporte dos nossos parceiros de desenvolvimento tem sido importante, e é hoje ainda mais crucial para a implementação da agenda deste Governo”.
O FMI concluiu em janeiro de 2021 o apoio técnico a Cabo Verde através do Instrumento de Coordenação de Políticas (PCI, na sigla em inglês), iniciado em 15 de julho de 2019 e que visou apoiar as reformas em curso no Estado, nomeadamente ao nível do sistema fiscal e privatizações, execução condicionado pela pandemia de covid-19.
Cabo Verde enfrenta uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística - setor que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do arquipélago - desde março de 2020, devido à pandemia de covid-19.
O país registou em 2020 uma recessão económica histórica, equivalente a 14,8% do PIB. O Governo cabo-verdiano admite que a economia possa ter crescido 7,2% em 2021, impulsionada pela retoma da procura turística, e prevê 6% de crescimento em 2022.
Na terça-feira, o vice-primeiro-ministro de Cabo Verde, Olavo Correia, não afastou um cenário de um Orçamento Retificativo em 2022, devido aos impactos na escalada internacional dos preços após o conflito militar na Ucrânia, mas admitiu que ainda é cedo para uma decisão.
“O quadro é incerto, o quadro é volátil, o quadro é imprevisível. Estamos a acompanhar a evolução da economia internacional e o seu impacto na economia cabo-verdiana. Neste momento ainda não temos uma ideia sobre essa necessidade”, afirmou Olavo Correia, que é também ministro das Finanças, questionado pela Lusa.
“Temos de continuar a avaliar os impactos sobre a economia cabo-verdiana, sobre os cidadãos cabo-verdianos, o impacto sobre a evolução na dinâmica de crescimento da economia internacional e só em função dessa avaliação, um pouco mais à frente, é que nós podemos tomar uma decisão”, acrescentou, sobre um eventual Orçamento Retificativo em 2022, que a verificar-se repetiria o cenário de 2020 e 2021, então devido aos efeitos económicos e financeiros da pandemia de covid-19.
Olavo Correia vê agora as previsões económicas com mais cautela, face à conjuntura internacional de escalada de preços de energia e alimentos, provocada pela invasão da Ucrânia pela Rússia.
“Temos que estar atentos e todos os dias temos que rever os cenários. E em função dessa avaliação, dessa revisão, podemos depois tomar as medidas em relação ao Orçamento Retificativo ou não. Mas neste momento ainda não temos nenhuma decisão em relação a esta matéria”, acrescentou.
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