Inflação, insatisfação e eleição
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Inflação, insatisfação e eleição

A nova onda de escalada de subida de preços, em 2025, que será turbinada com as implementações dos novos PCFRs (Plano de Carreira, Função e Remuneração) ao longo do ano até as próximas eleições legislativas provocará cada vez mais descontentamento das classes mais pobres e dará armas de ataque à oposição ao Governo nos próximos tempos.

O principal problema para 93% dos eleitores caboverdeanos apontado pelos estudos de opinião, em 2022, foi a inflação quando a taxa média subiu, abruptamente, para 7,9% nesse ano e periclitando, drasticamente, o poder de compra das empresas, famílias e dos indivíduos.


1. Numa sociedade onde quase 1/3 da população é pobre ou muito pobre, a incidência da taxa de inflação sobre a camada pobre do país tem implicações económicas, sociais e políticas mais significativas do que na população em geral.

2. Desde logo, a subida constante de preços vai gerando cada vez mais descontentamentos da população e que foram traduzidos, politicamente, em resultados eleitorais negativos para o partido do Governo – MpD – nas eleições presidenciais no segundo semestre de 2021 e nas autárquicas ocorridas em 2024.

3. A escalada de preços entre 2021 a 2023 contribuiu fortemente para os eleitores avaliarem o Governo negativamente e o penalizarem nas urnas, em 2024.

4. Os dados do gráfico mostram que Governo de Ulisses Correia e Silva, esgotado e sem soluções, reagiu, politicamente, mal aos resultados eleitorais de 01/12/24 com a sua “remodelação governamental” quando se observa um novo espiral ascendente da taxa de inflação duplicando de 2024 para o início de 2025.

5. A estratégia de “remodelação governamental”, além de não servir para debelar o problema da inflação, inverteu a sua trajetória de queda e recoloca o Governo numa situação crítica nas vésperas das eleições legislativas ao duplicar a taxa relativamente ao ano da hecatombe eleitoral.

6. Por outro lado, Ulisses escala uma equipa identificada com os “anos 90” como trunfo para os próximos embates eleitorais, quando, política e eleitoralmente, não seria mais recomendado: a principal liderança ventoinha dos anos 1990, ex-PM, Carlos Veiga, foi derrotado, por duas vezes, pelo Comandante Pedro Pires (PAICV), nas presidenciais (2001 e 2006) e, duas vezes, pelo José Maria Neves (PAICV), sendo uma vez, nas legislativas (2011) e outra, nas presidenciais (2021) e JMN vence outros dois dirigentes mpdistas dos “anos 90”, Gualberto do Rosário, ex-PM (2001) e Agostinho Lopes, ex-presidente do MpD (2006).

7. A ascensão  de Ulisses à Câmara Municipal da Praia (2008) que foi transformada como bandeira de gestão e que o catapultou ao poder nacional (2016), rapidamente, está-se desmoronando como se fosse um castelo de cartas: das 20 Câmaras Municipais conquistadas em 2016, passados oito anos, perdeu 13 e só sobraram 7 em 22 (em 2024).

8. O eleitorado nacional reprovou, em 2024, inequivocamente, a administração “sem djobi pa lado” inaugurada por Ulisses na Praia e depois exportada pelo país inteiro e para a diáspora tanto nos governos municipais quanto no governo nacional.

A nova onda de escalada de subida de preços, em 2025, que será turbinada com as implementações dos novos PCFRs (Plano de Carreira, Função e Remuneração) ao longo do ano até as próximas eleições legislativas provocará cada vez mais descontentamento das classes mais pobres e dará armas de ataque à oposição ao Governo nos próximos tempos.

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