Turismo. Mário Sanches diz que não se pode matar a galinha de ovos de ouro
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Turismo. Mário Sanches diz que não se pode matar a galinha de ovos de ouro

Presente no atelier sobre turismo sustentável, que teve lugar na cidade da Praia, nos dias 13 e 14 de julho, o presidente da Associação das Agências de Viagens e Turismo de Cabo Verde (AAVTCV), defendeu que Cabo Verde não pode matar a galinha dos ovos de ouro, referindo-se obviamente ao setor turístico.

Mário Sanches, que interveio como orador no painel sobre Governança para o turismo sustentável no horizonte 2030, disse que “na construção desta nova agenda para o turismo sustentável no horizonte 2030, a governança maior é a assunção por parte de todos (governo, setor privado, companhias aéreas e marítimas, sociedade civil organizada, cidadão comum) que Cabo Verde não pode deixar morrer a sua galinha de ovos de ouro”.

Organizado pelo Ministério do Turismo, o atelier assume particular importância tendo em atenção o estado em que se encontra o turismo, um dos setores da economia mais fustigado pelos efeitos da pandemia do Covid-19, e hoje Pólo estratégico do processo de desenvolvimento de Cabo Verde, responsável pela quarta parte do PIB nacional.

E é precisamente observando esta particularidade que o presidente do AAVTCV iniciou a sua comunicação, ao considerar que o evento se traduz numa “oportunidade ímpar de reforço do tão necessário diálogo entre o público e o privado, fundamental para a construção de soluções que nos permitam ultrapassar esta profunda crise em que vivemos, resultado da atual pandemia do COVID-19.”

Com efeito, remarca Mário Sanches, para as agências de viagens cabo-verdianas, se os efeitos já são por demais evidentes, a angústia da indefinição e incertezas quanto a um fim ainda longe das vistas tornam ainda mais difícil prever o futuro. Um futuro que se desenha cada vez mais complexo, visto que o sistema de turismo foi desligado a nível mundial e será preciso um novo começo”.

Trata-se, na opinião desse empresário, de um desafio que, citando a OMT, “deve ser encarado por todos os players do setor como o desafio das nossas vidas”, o que implicará “um rigoroso planeamento, organização, objetividade e praticidade para reconstruir o que foi destruído pela crise e ao mesmo tempo, com realismo e coragem, nos prepararmos para futuros choques, porque eles virão, certamente”.

Além disso, acrescenta, “um novo começo implica, também, humildade para análise e autoanálise cuidadas que nos permitam identificar os erros e acertos, corrigir um e ampliar o outro. Disponibilidade para aceitar opiniões diferentes e até contrárias, e a humildade para identificar e reconhecer os erros e disponibilidade para tentar outra vez. Será preciso ainda, revisitar conceitos previamente assumidos. É este o diálogo de que falamos, com total abertura visando o embalo desejado para que possamos sobrevoar esta pandemia”.

Maior certeza que temos é não termos certeza de nada

Assim, torna-se necessário adotar “decisões difíceis, considerar outras propostas, assumir outras opções, visto que o processo é dinâmico e a maior certeza que temos é não termos certeza de nada. Resta nos seguir observar e identificar as tendências e adaptá-las à nossa realidade, respeitar os parâmetros e seguir em frente”, aconselha o empresário, para relembrar que “quando se começa do zero deve existir planeamento. Este planeamento pode ser de curtíssimo prazo, visando resolução de questões urgentes, bem como de médio e longo prazo, visando garantir a sustentabilidade do setor. Contudo, este planeamento deve levar em conta o contexto atual em que vivemos, que é de emergências sanitária económica. Independentemente da bondade do plano estratégico de desenvolvimento sustentável (PEDS), das boas medidas que constam nas Grandes opções do plano estratégico para o desenvolvimento sustentável (GOPEDS), temos que lembrar que esse documento foi concebido num outro momento, num outro mundo- o mundo antes do COVID-19, pelo que será necessário ajustar.”

É o emergir de novos tempos, ou o novo mundo pós COVID -19, em que a segurança sanitária do destino será a condição nº1 a ter em conta por qualquer viajante quando escolhe um destino para a sua viagem de negócios ou de lazer.

“Neste novo mundo pós COVID-19 o modelo de promoção do destino existente já não serve ao país. No atual contexto a promoção do país não pode continuar nas mãos de meia dúzia de operadores, mesmo porque não sabemos até quando estes irão aguentar. É preciso um novo modelo de promoção liderado pelas associações empresariais do setor, tendo o estado como parceiro. Uma promoção voltada para o que Cabo Verde oferece no seu todo, a sua história, cultura, natureza, geografia, gastronomia, para além do turismo sol e praia”, faz notar Mário Sanches, propondo que “questões como o turismo interno, subsidiação das tarifas aéreas e marítimas ao passageiro, à semelhança do que acontece nos Açores e Canárias, promoção do país nos países africanos, mesmo a nível da europa intensificar acções de promoção junto dos países cuja tendência mostra rápida capacidade de retoma, bem como o empoderamento do empresariado nacional, sejam colocadas na ordem do dia nos próximos anos.”

Confira a partir daqui o comunicado completo do presidente da AAVTCV

"Senhoras e senhores participantes, caros colegas de painel, Boa tarde!

Antes de mais, cumprimentar S.E, o Senhor Ministro do Turismo e Transportes e desejar-lhe sucessos na condução de um sector tão estratégico e importante para o Pais, num momento particularmente difícil para todos que labutam no turismo.

Permitam-me agradecer à Turismo de Cabo Verde pelo convite que muito nos honra e que constitui uma oportunidade ímpar de reforço do tão necessário diálogo entre o público e o privado, fundamental para a construção de soluções que nos permitam ultrapassar esta profunda crise em que vivemos, resultado da atual pandemia do COVID-19.

No caso particular das agências de viagens cabo-verdianas, se os efeitos já são por demais evidentes, a angústia da indefinição e incertezas quanto a um fim ainda longe das vistas tornam ainda mais difícil prever o futuro. Um futuro que se desenha cada vez mais complexo, visto que o sistema de turismo foi desligado a nível mundial e será preciso um novo começo. Este reset de que fala a OMT deve ser encarado por todos os players do setor como o desafio das nossas vidas.

Um novo começo implicará um rigoroso planeamento, organização, objetividade e praticidade para reconstruir o que foi destruído pela crise e ao mesmo tempo, com realismo e coragem, nos prepararmos para futuros choques, porque eles virão, certamente.

Um novo começo implica, também, humildade para análise e autoanálise cuidadas que nos permitam identificar os erros e acertos, corrigir um e ampliar o outro. Disponibilidade para aceitar opiniões diferentes e até contrárias, e a humildade para identificar e reconhecer os erros e disponibilidade para tentar outra vez. Será preciso ainda, revisitar conceitos previamente assumidos. É este o diálogo de que falamos, com total abertura visando o embalo desejado para que possamos sobrevoar esta pandemia.

Quando se começa de novo temos de estar preparados para tomar decisões difíceis, considerar outras propostas, assumir outras opções, visto que o processo é dinâmico e a maior certeza que temos é não termos certeza de nada. Resta nos seguir, observar e identificar as tendências e adaptá-las à nossa realidade, respeitar os parâmetros e seguir em frente.

Da nossa parte, é justo aproveitar a ocasião para, enquanto Presidente da AAVT e Vice-presidente da Associação do Turismo de Santiago, saudar o Governo na pessoa do Sr. Ministro do Turismo e Transportes, pela abertura que tem demonstrado desde o inicio desta crise A sua presença e participação neste evento é mais uma prova dessa disponibilidade e que tem permitido à AAVT e outros atores contribuir com propostas que contribuam para amenizar as dificuldades do setor. O nosso profundo agradecimento extensivo ao Diretor Geral do Turismo e Transportes e Presidente da Turismo de Cabo Verde e respetivas equipas.

Dizia eu que, quando se começa do zero deve existir planeamento. Este planeamento pode ser de curtíssimo prazo, visando resolução de questões urgentes, bem como de médio e longo prazo, visando garantir a sustentabilidade do setor. Contudo, este planeamento deve levar em conta o contexto atual em que vivemos, que é de emergências sanitária económica. Independentemente da bondade do plano estratégico de desenvolvimento sustentável (PEDS), das boas medidas que constam nas Grandes opções do plano estratégico para o desenvolvimento sustentável (GOPEDS), temos que lembrar que esse documento foi concebido num outro momento, num outro mundo- o mundo antes do COVID-19, pelo que será necessário ajustar.

Nestes novos tempos, neste novo mundo pós COVID -19, a segurança sanitária do destino será a condição nº1 a ter em conta por qualquer viajante quando escolhe um destino para a sua viagem de negócios ou de lazer.

Neste novo mundo pós COVID-19 o modelo de promoção do destino existente já não serve ao país. No atual contexto a promoção do país não pode continuar nas mãos de meia dúzia de operadores, mesmo porque não sabemos até quando estes irão aguentar. É preciso um novo modelo de promoção liderado pelas associações empresariais do setor, tendo o estado como parceiro. Uma promoção voltada para o que Cabo Verde oferece no seu todo, a sua história, cultura, natureza, geografia, gastronomia, para além do turismo sol e praia.

Questões como o turismo interno, subsidiação das tarifas aéreas e marítimas ao passageiro, à semelhança do que acontece nos Açores e Canárias, promoção do país nos países africanos, mesmo a nível da europa intensificar acções de promoção junto dos países cuja tendência mostra rápida capacidade de retoma, por exemplo dados apontam que a polonia pode recuperar a 98% da sua capacidade, bem como o empoderamento do empresariado nacional, devem estar na ordem do dia nos próximos anos.

As empresas rentáveis do turismo não podem fechar as portas pelo que cabe ao estado fazer tudo, dentro do possível para evitar a falência, inclusive negociar com ONGs créditos a fundo perdido.

Dizia eu que quem começa de novo tem de ter organização. A AAVT, a ATS e CTCV durante 3 semanas organizaram conferências online com operadores de Santo Antão à brava. O objetivo destes encontros era de ajudar os operadores a organizarem, ajudá-los na criação do produto turístico de cada ilha/região ajudá-los na organização da oferta a ser distribuída pelas agências de viagens. Nestas conferências notamos que existe necessidade de maior aproximação entre quem cria o produto e que vende o produto, necessidade de maior comunicação entre os operadores e as instituições estatais do setor, neste quesito a AAVT propõe que devia haver obrigatoriedade de o operador filiar-se na associação empresarial da classe que o representa.

As palavras que mais se ouviram nestas conferências foram, união, coesão, junção de esforços, sentido coletivo, organização e confiança. Confiança que devemos aproveitar esta crise e transformá-la em oportunidade. Isto só acontece quando estamos todos (governo, privado, sociedade civil, cidadãos anónimos) sintonizados e organizados. A AAVT, a ATS e CTCV vão continuar a fazer um trabalho de seguimento junto destes operadores.

É preciso ainda objetividade e praticidade. Não podemos perder tempo, o relógio não para! É preciso salvar as empresas, para a manutenção dos postos de trabalho, para garantir o rendimento das famílias e garantir a sustentabilidade no setor do turismo.

- Investimento em uma campanha de comunicação a nível internacional que possibilite a Cabo Verde ter uma maior projeção e seja conhecido nos mercados emissores e outros potenciais, pois a captação de novos mercados é de especial importância após esta crise.

- Verificar as campanhas de outros destinos concorrentes e ver onde Cabo Verde pode ser diferente e inovar, de forma a ser um destino mais procurado (Egito, Tunísia, Turquia, Marrocos)

- Procurar parcerias internacionais (hotéis, companhias aéreas, grupos de investimento, embaixadas) que possam colaborar nessas campanhas de forma a uma maior penetração nesses mercados

Sobre a questão colocada aos oradores, sobre a criação da ITCV e manutenção da DGTT, penso que as instituições são criadas para materializarem o programa do Governo, por vezes será necessário fazer ajustes de forma a torna-los mais eficazes. Não tenho comentários a fazer penso que o Governo fará os ajustes que forem necessários para tirar melhor partido da instituição. A AAVT reitera a sua abertura e disponibilidade para trabalhar com todos na busca por mais e melhor turismo para o país e mais negócios para as agências de viagens e turismo de Cabo Verde.

Para terminar queria dizer que na construção desta nova agenda para o turismo sustentável no horizonte 2030, a governança maior é a assunção por parte de todos (governo, setor privado, companhias aéreas e marítimas, sociedade civil organizada, cidadão comum) que Cabo Verde não pode deixar morrer a sua galinha de ovos de ouro.

Muito obrigado"

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