A UECL continuará a sua missão, sendo um ponto de encontro para estudantes e um espaço de reflexão, principalmente sobre presente e o futuro. A vida associativa é cíclica e novos desafios surgirão. No dia 29 de março de 2025, tomou posse a nova direção da UECL, desta vez com a primeira mulher presidente da associação nos seus 28 anos de existência, Jusseila Pereira. A ela e à sua equipa, desejo os maiores sucessos — que continuem a fortalecer a UECL e que sejam sempre intransigentes nas lutas pelos seus direitos. Dedico este texto a todos os membros da UECL, desde colaboradores a dirigentes, que, à sua maneira, marcaram gerações.
Os movimentos associativos, sejam de cariz social, político ou estudantil, sempre tiveram uma enorme importância no desenvolvimento, formação e mobilização de uma comunidade ou de um país.
Na diáspora cabo-verdiana, desde a luta pela independência até à implementação da democracia, sempre existiram movimentos, principalmente de cariz estudantil, que desempenharam um papel fundamental como espaços de debate e de pensamento crítico entre os estudantes, como por exemplo, os estudantes da Casa do Império ou outros movimentos inorgânicos que foram surgindo ao longo dos tempos que deram um grande contributo para a consolidação da cidadania.
Se, no passado, os estudantes da Casa dos Estudantes do Império enfrentaram os desafios e dissabores da ditadura do Estado Novo, com a consolidação da independência, os desafios passaram a ser outros.
Nos meados dos anos 90, o contexto mundial estava em transformação: a queda da União Soviética, o fim da polarização, o aumento da mobilidade internacional, impulsionado pelo fim da Guerra Fria, abriram caminho para um mundo mais globalizado. Portugal preparava-se para adotar o euro, o comércio internacional intensificava-se e as parcerias entre universidades tornavam-se mais frequentes.
Desde há muito tempo, Portugal, nomeadamente Lisboa, quer pelos laços históricos, quer pelas relações diplomáticas com Cabo Verde, tem sido um destino escolhido por muitos jovens cabo-verdianos para iniciarem a sua formação universitária.
Com estes novos desafios e oportunidades, tornou-se imperativa a criação de uma associação estudantil na diáspora, particularmente em Lisboa, para apoiar e representar os estudantes cabo-verdianos.
Assim, nasceu a União dos Estudantes Cabo-Verdianos em Lisboa (UECL), fundada em 1997 pelo então estudante Lourenço Lopes. A UECL surgiu com o propósito de ser uma representação e facilitar a integração dos estudantes, tanto no seu percurso académico como através de atividades extracurriculares que dinamizassem a vida estudantil, por exemplo, desde a “simples” receção aos recém-chegados no aeroporto, cerimónias de boas-vindas, ou outras atividades quer pedagógicas ou recreativas que dessem uma melhor adaptação e integração na "Cidade das Sete Colinas".
Desde a sua fundação por Lourenço Lopes, a UECL percorreu um longo caminho, marcado por diversos dirigentes que, com os recursos e desafios das suas épocas, deram o seu melhor em prol da comunidade académica, nomeadamente Miguel Monteiro, Manuel da Lomba, Milton Paiva, José Carlos, Mário Carvalho, Frederic Mbassa e Emerson Rodrigues, entre muitos outros.
Ao longo dos anos, a União dos Estudantes Cabo-Verdianos tornou a vida estudantil cabo-verdiana mais dinamizada, fomentou o pensamento crítico e formou muitos homens e mulheres.
Foram organizadas inúmeras conferências para discutir os problemas e desafios dos estudantes, mas também do país. Criaram-se eventos de integração, intercâmbios culturais e recreativos, encontros nacionais de estudantes cabo-verdianos. Além disso, a UECL manteve um papel ativo na mobilização junto das entidades responsáveis, sempre em busca de melhores condições para os estudantes.
Após um breve período de interregno, em 2017, Jonathan Vieira — um jovem altruísta motivado pelo sentido de missão —, conseguiu reativar a UECL, garantindo a sua continuidade como casa comum dos estudantes. Desde esse momento, a associação conheceu novos dirigentes, como Isaías Varela, Ruben Moreira, Fredilson Semedo, Iderlindo Fernandes e Edson da Veiga. Todos, desde os primeiros, com as suas equipas, deixaram a sua marca na história da UECL e da comunidade estudantil.
Em jeito de homenagem, importa destacar os dois últimos mandatos, sob a liderança de Edson da Veiga.
Natural de Santa Catarina, Edson, sempre próximo dos seus e com uma enorme consciência cívica, ingressou na UECL em 2021 como coordenador do Departamento de Imagem e Comunicação.
No ano seguinte, ao terminar o mandato de Iderlindo Fernades, Edson candidatou-se à presidência da UECL. Logo à partida pugnou por fazer diferente: em vez de fazer convites aos mais próximos (como é habitual — cingir-se àqueles de quem é mais próximo, em princípio mais “confiáveis”), Edson abriu publicamente, através de uma plataforma partilhada nas redes socias, a sua candidatura a todos os estudantes interessados, sem convites diretos, promovendo a inclusão e atraindo estudantes de diversas áreas e perspetivas, fomentando a partilha e o convívio entre os estudantes.
Num período atípico, no pós-pandemia, quando os ajuntamentos ainda eram difíceis, Edson dedicou-se à revitalização da associação.
Sob o lema "Djuntu nós é mas forti" (Juntos somos mais fortes), enfrentou os desafios de um primeiro mandato difícil, num contexto em que muitos estudantes desconheciam a existência da UECL, principalmente devido à maldosa pandemia. Contudo, a sua liderança conseguiu reunir e aproximar os estudantes, promovendo uma forte mobilização da comunidade académica.
Durante o seu primeiro mandato, a UECL organizou diversas atividades, passando por eventos pedagógicos, mas também recreativos; no fundo, tudo o que fosse importante no percurso e vivência dos estudantes, como, por exemplo, sessões de receção aos caloiros, através de palestras de motivação e práticas para uma boa integração, realização de sessões informativas sobre apoio jurídico e burocrático (inscrição na embaixada, finanças, obtenção de NIF e NISS, entre outros) ou workshops sobre o estatuto do trabalhador-estudante, sendo este estatuto uma boa ferramenta que lhes confere mais direitos, principalmente em relação às entidades patronais — realidade de muitos estudantes africanos cuja vida académica tem de ser dividida entre o estudo e o trabalho. Além disso, apostou-se em debates sobre temas cruciais para estimular o pensamento critico dos estudantes — futuros decisores e agentes da mudança. Por exemplo, o Sistema Nacional de Saúde, fuga de quadros do país, criminalidade em Cabo Verde, entre outros temas fraturantes.
A nível cultural e recreativo, foram organizados: torneios de futebol; tardes de quizzes para fomentar o convívio entre estudantes; eventos comemorativos do Dia da Mulher; apresentação, em colaboração com o grupo Tikai, de peças de teatros; ou outros eventos, como, a comemoração do 48.º aniversário da independência de Cabo Verde, através de um arraial, que reuniu muitos fazedores de cultura e arte, como artesões, artistas, artistas plásticos. Foram também valorizados os jogos tradicionais e a gastronomia cabo-verdiana — numa tarde de harmonização que transcendeu os estudantes, e se abriu a todos cidadãos, num momento muito bem conseguido que deu a conhecer a nossa rica e vasta cultura. Por fim, foi organizado um debate sobre o passado, presente e futuro de Cabo Verde.
Edson, desde sempre, sentiu uma necessidade: a importância da atribuição e do reconhecimento, em forma de prémios, aos estudantes que almejaram e obtiveram mérito durante o seu percurso académico, nos três ciclos de estudo (licenciatura, mestrado e doutoramento). Assim, surge um dos grandes marcos desse mandato, a criação da gala “Prémios UECL”, em parceria da embaixada de Cabo Verde em Lisboa, que visa reconhecer o mérito e incentivar os estudantes no seu percurso. Durante a gala também foi momento de homenagear os antigos dirigentes da UECL pelos seus contributos em prol da comunidade estudantil, na qual estiveram presentes muitos dirigentes, como, por exemplo, o fundador Lourenço Lopes.
A nível de política externa, a UECL reforçou parcerias institucionais com diversas entidades, como o Núcleo de Estudantes Africanos da Faculdade de Direito, a UCCLA, a Câmara Municipal de Lisboa e, especialmente, a Embaixada de Cabo Verde em Portugal, na pessoa da Sua Excelência Dr. Eurico Monteiro, cujo apoio e disponibilidade foram fundamentais para a associação.
No seu segundo mandato, a UECL consolidou a sua reputação e presença na comunidade estudantil. Foi dada continuidade a muitas atividades e também houve um reforço no plano de atividades, realizando-se, por exemplo, um workshop com a fintech Doctor Finanças para aumentar a literacia financeira e ajudar os estudantes a gerir o seu orçamento, concretizou-se um “peddy-paper” UECL, como forma de os estudantes conhecerem melhor Lisboa e, também, estimular a partilha de conhecimento.
Realizou-se a 2.ª edição da gala "Prémios UECL", que teve um aumento significativo nos valores atribuídos, o que certamente fez muita diferença aos premiados nos seus percursos académicos.
Penso que neste último mandato, a UECL reforçou a sua presença nos meios de comunicação social em que tinha espaço de fala e mais “tempo de antena” para reivindicar ou apresentar soluções para os problemas dos estudantes, como por exemplo, reivindicando uma atualização no valor da bolsa que, apesar do aumento de custo de vida e da inflação, mantém-se inalterado há vários anos, ou da problemática na demora de obtenção de visto de estudo, que leva muitos estudantes a chegarem atrasados às suas faculdades, que será mais um fator negativo para a integração, ou também o custo dos alojamentos, em que muitos estudantes são obrigados a trabalhar para conseguirem arcar com as despesas ou em alguns casos, ou abandonar os estudos.
Sendo assim, na ação social, a UECL criou, através de doações, a “Bolsa UECL” como forma de mitigar estes problemas financeiros. Alguns estudantes beneficiaram deste apoio, permitindo-lhes um maior foco nos estudos.
Houve tempo, também, para a desejada alteração aos Estatutos da UECL, tornando-a mais moderna e adaptável aos novos tempos.
Penso que o excelente mandato, foi coroado com a atribuição da Medalha e Diploma da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, através do senhor diretor Eduardo Vera-Cruz Pinto, à União dos Estudantes Cabo-Verdianos de Lisboa, que enalteceu “o papel da UECL enquanto elo de união cultural e académica, sublinhando o seu contributo para a integração e promoção do mérito dos estudantes cabo-verdianos em Portugal” e também como forma de celebrar os “laços históricos entre Portugal e Cabo Verde e projectando um futuro de colaboração contínua no âmbito académico e cultural”.
Hoje a associação encontra-se com uma nova imagem, mais consolidada, com mais reputação e mais credível. Edson quebrou barreiras e impulsionou a UECL para outro patamar. De uma certa forma, estabeleceu um padrão de excelência para os seus sucessores: reinventar e fazer mais e melhor. Foram dois grandes mandatos do Edson da Veiga e da sua equipa que terminaram no dia 29 de março de 2025.
A UECL continuará a sua missão, sendo um ponto de encontro para estudantes e um espaço de reflexão, principalmente sobre presente e o futuro. A vida associativa é cíclica e novos desafios surgirão. No dia 29 de março de 2025, tomou posse a nova direção da UECL, desta vez com a primeira mulher presidente da associação nos seus 28 anos de existência, Jusseila Pereira. A ela e à sua equipa, desejo os maiores sucessos — que continuem a fortalecer a UECL e que sejam sempre intransigentes nas lutas pelos seus direitos.
Dedico este texto a todos os membros da UECL, desde colaboradores a dirigentes, que, à sua maneira, marcaram gerações.
Carlos Mileno Silva - Antigo dirigente da UECL (2022) /Estudante de Direito
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