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Marcelo e Humbertona. Unidos pela música e pela cultura
Cultura

Marcelo e Humbertona. Unidos pela música e pela cultura

Marcelo Melo, músico brasileiro, veio a Cabo Verde visitar o seu velho amigo e companheiro de armas – Humberto Bettencourt Santos, Humbertona, 30 anos depois da sua última estada no arquipélago. Estes dois homens da cultura, são grandes pelejadores das causas políticas, sociais e humanas, entrincheirados na música, tendo a guitarra, os sons e a melodias, como armas de combate.

Eles estão entre nós, vivos. Os seus feitos, as suas obras, estão aqui, a falar por eles, a testemunhar o quanto trabalharam e ainda trabalham por um mundo mais belo e mais feliz.

E assim se escreve a história das pessoas, dos povos e das nações. Com o suor, o trabalho e os testamentos de homens que se entregam ao labor social, sem qualquer recompensa material. Apenas porque é bom e vale a pena. Como a vida.

É belo - assumindo contornos de sublimação - como a música dilui fronteiras, aproxima pessoas, povos, nações, mitiga identidades e certifica ideologias, crenças, credos e filosofias.

Não fosse a arte o selo do universo, o património que confere humanidade à existência, e nomeia o homem como uma entidade gregária, substantiva, antropológica. No ser e no existir!

Marcelo Melo, brasileiro, conhece Humbertona, cabo-verdiano, nos idos da década de 60 do século passado, na Bélgica, quando os dois estudavam naquele país da Europa Ocidental, e nunca mais se separaram. Unidos pela música e pela cultura.

Na verdade, embora cada um com a sua vida, a sua profissão, a sua nacionalidade, estes dois homens jamais deixaram aquela amizade que se forjara nas noites cálidas, muitas vezes frias, da Bélgica, quando Marcelo, então estudante de pós-graduação em economia rural, e Humbertona, então militante do PAIGC e exilado naquele país europeu, se viram unidos pelos acordes do violão, pelas quentes melodias dos trópicos, e amena cavaqueira de sons e sabores na casa de Cabo Verde, na cidade de Lovaina – a Facada.

Desta amizade, deste diálogo e cumplicidades musicais, desta união da música brasileira com a música cabo-verdiana, nasceu o disco Stora Stora, que Melo ainda guarda como uma relíquia.

Este homem, que é o pai do Quinteto Violado, um grupo musical brasileiro com 47 anos de palco, veio a Cabo Verde abraçar o seu amigo e companheiro de guitarra, Humberto Bettencourt Santos, Humbertona, aqui na cidade da Praia, 30 anos depois do último encontro destes dois grandes mestres da música tradicional cabo-verdiana e brasileira.

Antes, em Junho desta ano, quando a Guitarrada do Atlântico, realizou o seu primeiro evento sobre a guitarra, homenageando Humbertona, Melo não quis ficar de fora. Lá do Brasil enviou um vídeo que foi apresentado no evento, a falar do seu amigo de armas, nos longínquos anos da Bélgica, quando estudavam, tocavam e sonhavam com um mundo mais igualitário e mais inclusivo. https://www.youtube.com/watch?v=CwL_d-ec-wM&feature=youtu.be&fbclid=IwAR1rudPiHfCb6FsoUBenR9cyp5QYTmA_zTE1dvNfS2-94Ui4l0JxvbUHjes.

Melo, porém, não se deu por satisfeito como vídeo, e veio a Cabo Verde abraçar o seu amigo e com ele partilhar duas prosas de música, neste Novembro de 2018.

Humbertona, 79 anos, enfrenta algumas dificuldades de saúde e este seu amigo percorreu milhares de quilómetros para trazer-lhe o conforto de um abraço, o afago de um olhar fraternal e a partilha de umas breves e ardentes gargalhadas, testemunhando que a vida, afinal, vale a pena.

Momento mágico, gesto sublime! Mas o quê que a música não consegue fazer? Esta expressão cultural, cujos alicerces e dimensões certamente só o amor consegue explicar.

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Redação