Cabo Verde Airlines certifica Boeing para fazer regressar avião ao arquipélago
Economia

Cabo Verde Airlines certifica Boeing para fazer regressar avião ao arquipélago

Técnicos da Agência da Aviação Civil (AAC) estão na Islândia para certificar um dos avião da Cabo Verde Airlines, colocado há um ano em situação de armazenamento devido à pandemia, para regressar ao arquipélago, disse o presidente da companhia.

Em declarações à Lusa, Erlendur Svavarsson explicou que os técnicos da autoridade de aviação cabo-verdiana “encontram-se atualmente em Keflavik juntamente com tripulantes de voo” da Cabo Verde Airlines (CVA) e que depois de concluída a quarentena (obrigatória, para despiste da covid-19) “vão iniciar o processo necessário para retirar a aeronave do programa de armazenamento em que se encontra”.

“E posteriormente, o processo de emissão de um novo certificado de aeronavegabilidade será tratado pela AAC. O plano será então trazer o avião para Cabo Verde”, acrescentou, sem concretizar datas.

Contudo, Erlendur Svavarsson afirmou que a retoma dos voos comerciais pela CVA, suspensos há mais de um ano, “dependerá da abertura das fronteiras” e das autorizações de viagens nos vários países.

“A maioria dos principais mercados das companhias aéreas está atualmente fechada devido à quarta onda de covid-19”, enfatizou.

Em março de 2019, o Estado de Cabo Verde vendeu 51% da então empresa pública TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde) por 1,3 milhões de euros à Lofleidir Cabo Verde, empresa detida em 70% pela Loftleidir Icelandic EHF (grupo Icelandair, que ficou com 36% da CVA) e em 30% por empresários islandeses com experiência no setor da aviação (que assumiram os restantes 15% da quota de 51% privatizada).

A CVA operava antes da pandemia com três aviões Boeing 757-200ER fornecidos em regime de ‘leasing’ pelo grupo Icelandair, que lidera a companhia cabo-verdiana, e todos foram deslocados em março de 2020 para Miami, Estados Unidos, colocados em situação de armazenamento devido à suspensão de toda a atividade comercial, provocada pela pandemia.

Entretanto, o Boeing com a matrícula D4-CCG, batizado com o nome de “Baía de Tarrafal”, foi deslocado em 12 de março último para o aeroporto de Keflavik, na Islândia. O mesmo aconteceu em 20 de dezembro passado com o Boeing com a matrícula D4-CCH, batizado com o nome “Fontainhas”.

O presidente da CVA já tinha afirmado em 15 de março, à Lusa, que a companhia prepara a retoma de voos para a Europa e os Estados Unidos, mas não se compromete com prazos, que faz depender do processo de vacinação.

Erlendur Svavarsson explicou então que para a companhia cabo-verdiana, privatizada há dois anos e parada desde março de 2020 devido à pandemia de covid-19, assim como para o setor em geral, “o principal indicador” da retoma da procura, destinos e operações aéreas “será a taxa de vacinação”.

“A Cabo Verde Airlines está a trabalhar no sentido de retomar os voos para a Europa e os Estados Unidos como primeiro passo para ligar quatro continentes através do nosso ‘hub’ na ilha do Sal, assim que as condições pandémicas o permitirem”, sublinhou Erlendur Svavarsson, questionado sobre prazos para o regresso das ligações aéreas pela companhia.

O futuro da CVA tem estado em destaque na campanha eleitoral para as legislativas de 18 de abril em Cabo Verde, com Ulisses Correia e Silva (MpD, maioria e primeiro-ministro) a defender que desde a privatização, em 2019, o Governo não injetou dinheiro na companhia e apenas emitiu avales para empréstimos bancários, como tem feito com outras empresas afetadas pela pandemia de covid-19. Já a líder da oposição, Janira Hopffer Almada (PAICV), contesta e garante que se for eleita pretende reverter a privatização, recapitalizando a companhia e fazendo regressar aos voos internos, além das ligações internacionais.

Sem revelar qualquer horizonte para a retoma dos voos, e com a frota anterior de três Boeing – que será reduzida para dois - ainda parqueada fora de Cabo Verde, Erlendur Svavarsson enfatiza que os governos só poderão abrir as fronteiras, sem restrições, “quando um número suficiente de pessoas tiver sido vacinado e imune” ao novo coronavírus, o que condiciona a retoma.

“Por esse motivo, a minha convicção pessoal é que o crescimento real das viagens e do turismo a nível mundial só voltará no terceiro trimestre de 2021. Quando chegar a altura, a equipa da Cabo Verde Airlines espera oferecer aos nossos passageiros um serviço eficiente e fiável”.

O Governo cabo-verdiano, que detém uma participação social de 39% na CVA, que conta com cerca de 300 trabalhadores, anunciou no final de fevereiro passado um acordo com a administração da companhia para a retoma das operações, prevendo a renegociação com credores, o que envolve também o grupo Icelandair, que fornece (através da Loftleidir) as aeronaves da companhia.

“Os acionistas estão a fazer todo o possível para apoiar a companhia aérea e espero que possam assinar o acordo final em breve”, afirmou ainda o presidente da CVA.

Na sequência deste entendimento, o Governo de Cabo Verde autorizou em 06 de março o quinto aval do Estado a um pedido de empréstimo de emergência da administração da CVA, de 12 milhões de euros. Com este aval, os financiamentos pedidos pela companhia desde novembro, com garantia do Estado, elevam-se a quase 20 milhões de euros.

A companhia aérea, liderada desde 2019 por investidores islandeses, está parada desde março de 2020, devido às restrições então impostas para conter a transmissão da covid-19, e não chegou a retomar as operações comerciais, apesar da reabertura dos voos internacionais por Cabo Verde em outubro.

O novo acordo com o Governo prevê a redução de três para duas aeronaves e a retoma a curto prazo dos voos para Portugal e Estados Unidos, para servir a comunidade cabo-verdiana. Em contrapartida, o Estado reforça a posição no conselho de administração, passando a ter poder real de decisão.

Partilhe esta notícia

Comentários

  • Este artigo ainda não tem comentário. Seja o primeiro a comentar!

Comentar

Caracteres restantes: 500

O privilégio de realizar comentários neste espaço está limitado a leitores registados e a assinantes do Santiago Magazine.
Santiago Magazine reserva-se ao direito de apagar os comentários que não cumpram as regras de moderação.