...a teoria keynesiana destaca que o desemprego pode também resultar de uma procura global insuficiente na economia. Mesmo que existam alguns empregos, estes não são suficientes para absorver toda a população ativa, o que leva alguns a aceitar empregos precários ou a procurar a sua sorte no estrangeiro. Para além dos números, existem vidas humanas, famílias que lutam contra a incerteza, jovens que partem com a esperança de um futuro melhor. É fundamental não reduzir a sua realidade a uma simples percentagem. Compreender estas nuances permite ter uma visão mais justa e humana do mercado de trabalho em Cabo Verde, e orientar as políticas para soluções que verdadeiramente melhorem a vida de cada um.
A descida da taxa de desemprego em Cabo Verde, anunciada em cerca de 8% em 2024, é frequentemente apresentada como uma vitória. No entanto, por detrás deste número encorajador esconde-se uma realidade mais complexa e profundamente humana. Muitos dos nossos jovens, cheios de esperança e ambição, deixam o país, principalmente em direção a Portugal, por não encontrarem aqui as oportunidades necessárias para o seu futuro. Esta saída massiva reduz mecanicamente a população ativa local, o que contribui para a diminuição da taxa oficial de desemprego, mas isso não significa necessariamente que o mercado de trabalho tenha melhorado efetivamente.
É importante salientar que muitos empregos em Cabo Verde são precários, temporários ou informais. Estes empregos, embora não sejam contabilizados como desemprego, não garantem estabilidade nem um rendimento digno. Este fenómeno, que pode ser designado por «desemprego disfarçado» ou «empregos ocultos», traduz uma precariedade que pesa fortemente na vida diária de muitos trabalhadores. Por exemplo, uma grande parte da população ativa trabalha no setor informal, sem proteção social nem garantias, o que os torna particularmente vulneráveis.
Esta situação explica-se também pela teoria do mercado de trabalho segmentado, que demonstra que o mercado está dividido entre um setor formal relativamente estável e um setor informal ou precário, com condições difíceis. Por isso, a taxa oficial de desemprego nem sempre reflete a realidade completa, oferecendo por vezes uma imagem demasiado otimista. Além disso, a teoria do capital humano recorda-nos que a emigração dos jovens qualificados enfraquece o potencial de desenvolvimento do país, pois acarreta a perda de talentos essenciais para o crescimento.
Um paralelo interessante pode ser traçado com o México, onde o desemprego oficial tem atingido níveis historicamente baixos de 2.5% em 2025, mas onde a redução do desemprego também está associada a uma diminuição da população economicamente ativa. Muitos trabalhadores mexicanos enfrentam empregos informais ou subemprego, e a emigração para os Estados Unidos continua a ser uma saída para muitos jovens em busca de melhores condições. Assim como em Cabo Verde, a queda do desemprego no México esconde uma realidade marcada por empregos precários e fluxos migratórios significativos, que afetam o mercado de trabalho e a estrutura social.
Por fim, a teoria keynesiana destaca que o desemprego pode também resultar de uma procura global insuficiente na economia. Mesmo que existam alguns empregos, estes não são suficientes para absorver toda a população ativa, o que leva alguns a aceitar empregos precários ou a procurar a sua sorte no estrangeiro.
Para além dos números, existem vidas humanas, famílias que lutam contra a incerteza, jovens que partem com a esperança de um futuro melhor. É fundamental não reduzir a sua realidade a uma simples percentagem. Compreender estas nuances permite ter uma visão mais justa e humana do mercado de trabalho em Cabo Verde, e orientar as políticas para soluções que verdadeiramente melhorem a vida de cada um.
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