A propaganda bem urdida não precisa de grandes promessas. Basta repetir o essencial até soar a verdade. A palavra “humildade”, por exemplo, repete-se como um mantra, e quanto mais se diz, menos se exige prová-la. Torna-se um disfarce socialmente aceitável. Não é preciso ter ideias novas, basta parecer gentil. E se vier embrulhado em modéstia ensaiada, melhor ainda. Tudo se reduz à estética do poder. O conteúdo é acessório, e as convicções ajustam-se e adaptam-se; os discursos moldam-se ao humor do dia. A estratégia é clara: ser tudo para todos, enquanto se trabalha para ser tudo para si. Porque o verdadeiro objectivo não é servir o rebanho, mas conquistar o curral, e manter-se nele, de preferência não por mérito, mas por manipulação e sem grande oposição.
Propaganda não é apenas o cartaz estrategicamente colocado no cruzamento mais movimentado, nem o slogan que se cola aos ouvidos como o refrão de um “hit” de verão. Propaganda é uma coreografia de intenções: palavras ensaiadas, imagens polidas e gestos calculados ao milímetro, tudo ao serviço de uma narrativa que convença sem ser questionada.
Há quem a use como quem usa um perfume caro, não para esconder o odor, mas para marcar a sua presença na sala. Apresenta-se então, uma figura envolta em suposta humildade, de fala mansa, passo lento e sorriso largo. A sua promessa de renovação e a sua missão é, naturalmente, de servir, mas a realidade é outra, perfeitamente dissimulada em frases feitas.
A propaganda não se alimenta de realidades, ela vive de percepções. E é aqui que entra a velha imagem do lobo com pele de cordeiro, adaptada ao gosto contemporâneo. Já não se trata de entrar no curral disfarçado para atacar. Hoje, o lobo é sofisticado. Não só veste a lã, como a promove com holofotes. Fala em nome da mudança, do bem comum e da escuta activa. Diz-se humilde, diz-se preparado… el ta dzê tud o que pov quiser uvi. E fá-lo com um domínio técnico notável. Conhece o enquadramento ideal, os adjectivos certos, o tempo exacto para a pausa que provoca o aplauso da carneirada.
E, como convém numa boa encenação, há sempre quem segure os refletores. A comunicação social, essa figura discreta, imaculada e bem-comportada, cumpre o seu papel com diligência santificada: repetir, adornar e jamais perturbar. Não é censura, é colaboração patriótica.
A propaganda bem urdida não precisa de grandes promessas. Basta repetir o essencial até soar a verdade. A palavra “humildade”, por exemplo, repete-se como um mantra, e quanto mais se diz, menos se exige prová-la. Torna-se um disfarce socialmente aceitável. Não é preciso ter ideias novas, basta parecer gentil. E se vier embrulhado em modéstia ensaiada, melhor ainda. Tudo se reduz à estética do poder. O conteúdo é acessório, e as convicções ajustam-se e adaptam-se; os discursos moldam-se ao humor do dia. A estratégia é clara: ser tudo para todos, enquanto se trabalha para ser tudo para si. Porque o verdadeiro objectivo não é servir o rebanho, mas conquistar o curral, e manter-se nele, de preferência não por mérito, mas por manipulação e sem grande oposição.
Entretanto, o público (ou rebanho, se quisermos manter a metáfora), observa, comove-se, e acredita piamente. Porque no fim, quem domina a linguagem da propaganda não precisa de se impor, basta seduzir… E assim, o lobo vai ficando, vai parecendo manso, sorridente e sempre disponível. Até ao dia em que mostrar os dentes. Mas aí, já vai ser tarde. Já todos o aplaudiram. E quem ousar questionar, parecerá ingrato. Afinal, quem se atreve a desconfiar de um cordeiro tão… humilde?
Ah, qualquer parecença com a realidade política cabo-verdiana, é pura coincidência… claro!
FORTE APLAUSO
Comentários
Augusto de Melo, 23 de Mai de 2025
Quem está suficientemente aqui em Cabo Verde percebe o quanto a hipocrisia corre nas veias por todos os lados. Se analisarmos o histórico e as figuras atuais percebemos isso por todos os lados, principalmente nos mais "politicamente corretos". São todos "lobos" é a percepção da população, e também que são todos "cordeiros" durante as campanhas, é uma conclusão que parte da mesma percepção.
Augusto de Melo, 23 de Mai de 2025
Porém a política não é e nunca foi um lugar para santos ou cordeiros, não é e não o foi aqui nem noutro lugar, mesmos para os quais todos usam como referência (estudem como chegaram ao poder que têm hoje). Enfim alguns lobos são mais dissimulados, outros mostram os dentes á priori, outros nem percebem o quão lobo são; talvez o segredo é tornar-se também lobo? Portanto sejamos "lobos" também, mostremos os dentes quando for necessário, criticando sem nenhum medo!Responder
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