Fim do mito do governo enxuto, sete secretários de estado e um “drops” para Mindelo
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Fim do mito do governo enxuto, sete secretários de estado e um “drops” para Mindelo

1. Com a queda do “mito do governo enxuto”, há, ainda, dois aspetos que importam reter. Primeiro, é preciso deixar claro que não vale a pena tentar desviar a culpa do falhanço do governo para a questão do “número de ministros”, mas, manter bem presente “quem” tomou essa decisão de fixar esse número reduzido. Que se lembre sempre que a decisão quanto à quantidade de ministros foi do chefe do governo, o mesmo que fez toda a sua campanha eleitoral também com base nessa falácia superficial e populista. Segundo, que a sociedade cabo-verdiana aprenda isto para quando chegarem as próximas eleições: o enfoque primordial da governação não deve ser colocado no número de ministros, tout court, mas sim, na produção de resultados a favor do país no seu todo!

2. É bom deixar este alerta para que, lá mais para o fim do mandato, o Primeiro-ministro não volte a apostar nesse caminho simplista de vir fazer uma nova remodelação, numa busca de mais um escape para que possa atribuir, novamente, as culpas ao número de ministros e não no desempenho dos mesmos. Assim, é fácil remodelar governos: ninguém fica chateado por ser avaliado e demitido, somam-se mais beneficiados diretos e lavam-se as mãos em relação às questões críticas da economia, com o Vice-Primeiro-ministro a dar a cara e a assumir o papel de “carregador de todo o odioso” que virá dos despedimentos na TACV, protecionismo no sumo e no leite e derivados, etc. É a reedição da mesma tática que tinha sido utilizada na Câmara Municipal da Praia: para as questões desagradáveis, lá estavam os diretores e, no máximo, os vereadores. O então Presidente da CMP manteve-se sempre mais atrás, longe das questões quentes, resguardando-se – consolidando a imagem de um homem exclusivamente de soluções que fala só de respostas – aparecendo somente nos momentos de alguma vanglória populista e alegres atividades pontuais;

3. Por outro lado, acho curioso que, nesta remodelação governamental, em todas as contas feitas, tenha passado totalmente despercebido, o facto de serem sete secretários de estado e não seis. É que, em termos simbólicos o que se fez com o Ministro da Economia é algo que – quando existe um pingo de dignidade política – fecha-se a porta e vai-se embora! Há um tombo da categoria de Super Ministro da Economia com, talvez a mais extensa lista de pastas de que há memória, para a de gestor de apenas uma parte da economia – a marítima – e, ainda por cima, dependente de um ministro que faz toda a coordenação económica – o Vice-Primeiro-ministro. Será que, doravante, o Ministro da Economia vai passar a despachar com o Ministro das Finanças?

4. Por fim, é de se notar várias vozes que qualificam a colocação do Ministério da Economia Marítima em São Vicente apenas como um rebuçado para adoçar a cidade de Mindelo. O mais preocupante é que é uma medida isolada, bem ao estilo txapa-txapa, sem nenhum plano de fundo que seja abrangente e estruturante para o conjunto do país. Talvez, é chegado o momento de se refletir se não se tenha conseguido demasiado pouco para quem fez o bloqueio à comitiva do Primeiro-ministro, a quando de uma das suas deslocações à ilha de Monte Cara; organizou a maior manifestação popular de sempre de São Vicente e previu a maior manifestação do ano de 2018 para o dia 13 de janeiro que vem. Tanto bloqueio, manifestação e ameaça de manifestação e… só isto? É que esse ministro, afinal, nem vai estar a tempo inteiro em São Vicente. Nem isso! O homem tem duas pastas. É também ministro do emprego que fica na Praia!

5. O problema dos argumentos populistas e superficiais é que têm prazo de validade demasiado curto e não resistem ao teste do tempo: caem por terra com enorme facilidade! Em menos de dois anos, desapareceram os sorrisos trocistas que acompanharam essa ideia de “governo enxuto” e a regionalização prometida para São Vicente é, cada vez mais, uma miragem! Uma longínqua e distante miragem!

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SOBRE O AUTOR

Francisco Carvalho

Político, sociólogo, pesquisador em migrações, colunista de Santiago Magazine

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