Política e verdade: vamos entender o conceito de populismo na Política em Cabo Verde. Afinal, porque ter medo de propostas diferentes e exequíveis?
Ponto de Vista

Política e verdade: vamos entender o conceito de populismo na Política em Cabo Verde. Afinal, porque ter medo de propostas diferentes e exequíveis?

Defender o povo e os seus interesses, tentar dar resposta às necessidades da população, demonstrar que o país tem condições para fazer mais e muito melhor com os recursos que temos, defender que não podemos ter um país pobre com governantes com estilo de vida de países do primeiro mundo, isto é populismo e demagogia? Dizer que o país cresce e que o povo não sente e nem vê os resultados espelhados no seu dia-a-dia, isto é populismo? A política e os discursos que visam responder às necessidades e demandas das pessoas são fundamentais para a legitimidade e eficácia da governação. O MPD e o governo continuam num sono dogmático profundo! O povo já acordou e sabe, afinal, era possível fazer mais e melhor, ou seja, muitos problemas do país não foram resolvidos por inércia desta maioria e por complexo de ideologias, estribadas na má análise interpretativa dos conceitos.

Na política e na vida, a tendência geral, é que sempre que as coisas não vão ao encontro das nossas expectativas, sonhos e perspectivas, catalogamos de: retrógrado, conservador, filosófico, antiquado, fora de comum, e, nos últimos anos, na política em Cabo Verde, estamos a introduzir um outro termo que está na moda: POPULISMO.

Na política cabo-verdiana, um partido chegou ao poder com as seguintes propostas para o povo: Hospital de referência na Praia, via rápida Praia – Tarrafal, ampliação do aeroporto da Praia, Porto de Pesca na Praia, Ampliação do Porto da Praia, Rede de Esgoto na Praia, 11 boeing, barcos novos, 10 bolsas para as melhores universidades do mundo, 45 mil postos de trabalho altamente remunerados, concurso público para cargos de gestão, governo curto de 12 ministros, aeroporto de Santo Antão, aeroporto internacional do Fogo, combate a praga de mil pés em Santo Antão, dessalinização de água para a agricultura, conturbada privatização dos TACV, etc, etc, etc. Estas propostas renderam votos e já lá vão quase 10 anos e na prática ainda ninguém viu estas realizações na vida dos cabo-verdianos. Estranho, muito estranho é que não assistimos ninguém nem na rádio, nem na televisão nem nos editoriais dos jornais a chamar este partido e os seus líderes de populistas e muito menos de utilizarem o populismo para granjear votos, chegar ao poder e esquecer dos reais interesses e necessidades do povo. Isto sim, é populismo.  Populismos é quando líderes políticos sacam de propostas, que sabem à partida que são irrealizáveis, para chegarem ao poder, e, alcançando o poder começam a governar com outros propósitos e fins.

Estranho sim! Hoje, passados mais de 9 anos, com o povo a ressentir de todas as promessas feitas e não cumpridas, contudo, nunca apelidadas de populismos e muito menos os seus algozes de populistas, eis que começámos a assistir uma preocupação exacerbada da parte de alguns quadrantes perto dos benesses do poder e alguns órgãos de comunicação social a querer ignorar as reais necessidade dos cabo-verdianos e não querem que ninguém elenque estas necessidades e muito menos apontar as soluções viáveis para dar vazão aos anseios e expectativas da população.

Um político, não pode ser considerado populista se elencar as necessidades e expectativas da população e apontar possíveis soluções para a sua cabal resolução. Em Cabo Verde nós confundimos um político que vive perto da população, conhece as suas necessidades e preocupações, seja pragmático, e aponta sua solução de forma eficiente e eficaz, como sendo um político populista. Claro que para uma determinada classe junto do poder, que beneficie somente ele e os seus acólitos dos poucos benesses da governação, esta tentativa de falar como o povo, de mostrar soluções factíveis e práticos, de fazer uma aposta na eficiência e eficácia da gestão da coisa pública, esta visão é preocupante, o adjetivo é populisla e a ideologia é o populismo. Contudo, hoje mais do que nunca devemos entender o que é estar ao lado do povo e o que é manipular o povo para ascender a cargos políticos e governar de costas voltadas com as reais necessidades do povo.

Hoje, em Cabo Verde pode alguém ser considerado populista quando defende: TAC nos Hospitais Centrais? Como podemos entender que quase 50 anos depois da Independência Nacional, os Hospitais Centrais não têm aparelho de TAC e Ressonância Magnética e os privados têm? E, que o custo para estes exames é superior a 30 mil escudos? Como é que podemos entender que alguém paga 2 mil escudos para uma cama no Hospital? Como é que podemos entender que o nosso ensino superior custa como nos países desenvolvidos? Como é que podemos entender um arquipélago sem ligações aéreas e marítimas? Como é que podemos entender um país que vive essencialmente do turismo, agricultura e pesca e o governo a assobiar para o lado nestas áreas? Como é que podemos entender a reforma no ensino sem manuais e nem programas? Como é que podemos entender um governo que concorre na construção de casas de banho com as câmaras municipais? Como é que podemos entender a construção de Porto que fica assoreado meses depois da sua inauguração? Como é que podemos entender o governo a anunciar a compra de um avião num dia por 11 milhões de dólares e no final comunicar ao país que a aquisição ficou por 20 milhões de dólares americano? Como é que membros de governos são demitidos sob o espectro de corrupção e tudo fica normal? Ora, anunciar que isto não deve fazer escola no nosso país é ser populista? Fazer estas informações chegar à população é ser populista? Manter o povo informado onde pára a riqueza nacional e onde deveria parar o dinheiro do povo, é ser populista? Como dizia Pablo Neruda, se é assim, o PAICV deve continuar a ser populista!

Em Cabo Verde, notamos hoje que certos governantes chegam ao povo nas vésperas das eleições, ganham as eleições e esquecem do povo. Por isso, qualquer cidadão que queira apresentar e refrescar a memória do povo, que queira alertar o povo, é chamado de populista. Estar com o povo e ao lado do povo, querendo resolver os problemas do povo é populismo? Pôr a hipótese de um partido perder as eleições porque não responde às necessidades da população, é ser populista? Querer, com propostas alternativas e de melhor eficácia, fazer a alternância política é ser populista? E, quando alguém disse que ia tomar a Praia, capital do país, custe o que custar, ele foi considerado populista?

O PAICV e os seus candidatos não devem ter medo de serem considerados populistas, se na verdade a proposta deles é dar correspondência aos propósitos da criação do PAICV, aos desafios da população e às gritantes necessidades do país. Não podemos nos dar ao luxo de agradar o governo e os seus líderes que esqueceram de Cabo Verde e das necessidades dos cabo-verdianos. Hoje, alguém apresenta saída para a resolução desses problemas, e aparecem com o chavão de populismo / paulista. Ai do PAICV e dos seus líderes quando o governo e os governantes capitalistas do MPD, os jornais próximos do governo e do MPD vierem à público elogiar um candidato do PAICV ou o seu líder. “Quando a esmola é muito, o pobre se desconfia.”

Parece-me que na verdade o que já deu para perceber é que as propostas concretas para a resolução dos problemas do País, são otimistas. Estamos em crer que o governo e o MPD já acordaram e estão a demonstrar que era possível fazer mais e muitos mais. Que só não fizeram por motivos e interesses outros e bem localizados. Portando, qualquer um que apresente soluções para resolver, efetivamente, problemas na educação, saúde, agricultura, pesca, infraestruturas, transportes aéreo e marítimo, saneamento, ensino superior, emprego, juventude, desporto, relações externas, economia, crescimento e competitividade, redistribuição da riqueza nacional, acesso a cargos de gestão, transparência, segurança e justiça, entre outros, é considerado de populista. Mas, o PAICV nestas matérias, deve sempre colocar-se ao lado do povo, defendendo o povo e nunca socorrer-se do voto do povo para chegar ao poder e defender os próprios interesses e de grupos de interesses bem localizados. Daí a preocupação de comparar Cabo Verde com outras paragens, que na verdade, salvo devido respeito pela opinião contrária, não cola.

Em Cabo Verde, e no PAICV não há populistas nem populismos, porque não há uma luta contra grupos ou elites, não há propostas que não sejam exequíveis, não há lugar para exclusão de minorias. No PAICV um líder ou um candidato deve ter um Discurso Responsável, comprometido, apresentando propostas factíveis, reconhecer desafios e comunicar de forma transparente, mesmo quando as soluções são complexas, nunca deve ter medo, mesmo quando seja catalogado de populista. Um líder ou um candidato à liderança do PAICV deve ter um discurso político eficaz: Ouvir a sociedade (consultas públicas, diálogo com movimentos sociais); Traduzir demandas em ações concretas e Prestar contas (transparência sobre resultados). Se o discurso não se converte em prática, gera desilusão e apatia política. Sem esquecer que o desencanto com a governação em Cabo Verde é gerado por causa da não correspondência entre as promessas e a efetivação das mesmas. Um governo que prometeu a felicidade aos jovens e a população em geral e está a dar aos jovens emigração e desilusão, não merece credibilidade. Outrossim, ninguém ainda os apelidou de populistas.

Hodierna, devemos entender o populismo como sendo a filosofia de vida e de política em que os discursos políticos só ganham credibilidade quando alinhados com ações reais. O desencanto com a atual maioria que governa o país, se formos na verdade ao programa do governo, estranhamos o fato de nem a comunicação social e muito menos alguns políticos os considerarem de populistas e muitos menos de vendedores de ilusões.

Defender o povo e os seus interesses, tentar dar resposta às necessidades da população, demonstrar que o país tem condições para fazer mais e muito melhor com os recursos que temos, defender que não podemos ter um país pobre com governantes com estilo de vida de países do primeiro mundo, isto é populismo e demagogia? Dizer que o país cresce e que o povo não sente e nem vê os resultados espelhados no seu dia-a-dia, isto é populismo?

A política e os discursos que visam responder às necessidades e demandas das pessoas são fundamentais para a legitimidade e eficácia da governação. O MPD e o governo continuam num sono dogmático profundo! O povo já acordou e sabe, afinal, era possível fazer mais e melhor, ou seja, muitos problemas do país não foram resolvidos por inércia desta maioria e por complexo de ideologias, estribadas na má análise interpretativa dos conceitos.

 

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Comentários

  • Carlos Vieira, 22 de Mai de 2025

    Excelente! "O Povo Já Acordou" esta frase é poderosa e sugere uma mudança de consciência. Significa que as pessoas não estão mais aceitando as justificativas ou a falta de progresso. Elas estão percebendo que as soluções para seus problemas existem e que a inação é uma escolha política, e não uma fatalidade.

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