José Manuel Pinto Teixeira garante que entregou à Comissão Europeia documentos que provam a compra, a título pessoal, do terreno na Prainha. E alega que "cabe a quem acusa ou levanta calúnias o ónus da prova", acusando a eurodeputada Ana Gomes de "chicanice e jogos políticos".
A "novela" sobre o polémico terreno na Prainha continua a fazer correr tinta. Em Cabo Verde e em Portugal. Este domingo, 14, o principal visado, o ex-representante da União Europeia em Cabo Verde, o português José Manuel Pinto Teixeira, disse ter entregado “voluntariamente” em Bruxelas provas da compra dos 920 m2 de terreno da Prainha, classificando de “chicanice política” as acusações contra a sua pessoa.
"Embora nunca tenha recebido pedidos da parte da instituição [União Europeia], que representei, para provar a compra do terreno por se tratar de uma questão feita a título pessoal, em devida altura entreguei voluntariamente em Bruxelas as provas respectivas”, disse José Manuel Pinto Teixeira, em declarações à agência Lusa.
O ex-representante da União Europeia em Cabo Verde, que está aposentado desde 1 de Setembro de 2017, é visado numa delação da eurodeputada socialista Ana Gomes ao Gabinete Antifraude Europeu (OLAF) e à chefe da diplomacia e vice-presidente da Comissão Europeia, Federica Mogherini, em que a parlamentar denuncia suspeitas de benefício pessoal e alegado favorecimento na compra de 920 m2 de terreno na Prainha, zona nobre da Praia, a favor do diplomata, também de nacionalidade portuguesa.
Na mesma comunicação, Ana Gomes adianta que existe, em Cabo Verde, a “perceção generalizada de que [o embaixador] foi instrumental na vitoria do MpD (2016), com contribuições estratégicas e financeiras”, assinalando que “alguns círculos acreditam que a compra do terreno é uma recompensa pelo apoio político”.
“Bruxelas baseia-se no princípio da presunção de inocência. Ou seja, cabe a quem acusa ou levanta calúnias o ónus da prova e não o contrário”, reagiu Pinto Teixeira à Lusa, sublinhando que, “lamentavelmente, esses bons princípios não são seguidos por quem pretende apenas fazer chicanice e jogos políticos sem ter a mínima consideração pelo bom nome e integridade das pessoas, não tendo quaisquer pruridos em tentar manchar uma pessoa no fim de uma carreira cheia de ações relevantes em várias partes do mundo”.
A comunicação da eurodeputada Ana Gomes foi apresentada às instâncias europeias na sequência da visita que fez a Cabo Verde, em setembro passado, integrando uma missão de eurodeputados do Grupo dos Amigos de Cabo Verde no parlamento europeu.
Numa resposta a esta comunicação, datada de finais de Novembro, Federica Mogherini afirmou estar a par das questões surgidas em torno da compra do terreno, adiantando que o OLAF estava a avaliar o caso.
Ressalvando que o facto de o OLAF estar a avaliar a situação não significa que tenha sido cometida alguma irregularidade, Federica Mogherini adiantou terem sido pedidas a Pinto Teixeira informações adicionais que permitam clarificar a situação.
“Os representantes da UE estão obrigados a respeitar os mais elevados padrões de comportamento ético, que são particularmente rigorosos quando se trata de representantes seniores. Depois de deixarem o serviço da UE, os representantes estão vinculados ao dever de comportamento íntegro e discreto na aceitação de certas nomeações ou benefícios”, afirmou a responsável.
Contactada pela agência Lusa, fonte do gabinete de comunicação do OLAF, adiantou que este organismo não se pronuncia sobre “casos que possa ou não estar a tratar”, para “proteger a confidencialidade de uma eventual investigação e os possíveis processos judiciais subsequentes, bem como para assegurar o respeito pelos dados pessoais e pelos direitos processuais”.
As denúncias da eurodeputada foram condenadas pelo partido que apoia o Governo (MpD) e apoiadas pelo maior partido da oposição (PAICV) e pela quarta força política cabo-verdiana (PP).
A autarquia da Praia negou qualquer favorecimento ou informação privilegiada sobre a disponibilidade do terreno ao ex-representante da UE em Cabo Verde, tendo divulgado o contrato e o comprovativo de pagamento do mesmo.
José Manuel Pinto Teixeira foi embaixador da UE em Cabo Verde entre Outubro de 2012 e Agosto de 2017.
Com Lusa
Comentários