Fundo do Ambiente e o princípio do fim do governo Rabentola
Entrelinhas

Fundo do Ambiente e o princípio do fim do governo Rabentola

A Procuradoria Geral da República (PGR) decidiu pelo arquivamento do processo “Fundo do Ambiente”. A montanha, parafraseando o vulgo, pariu um rato. Um ratinho! E com este parto, o MpD viu afundar-se a sua única tábua de salvação, a última arma que ainda lhe restava para se defender dos ataques do PAICV face aos sucessivos e escandalosos sinais de corrupção desses seus quase 5 anos de mandato.

Os Rabentolas devem estar com os cabelos em pé, e a perguntar para os botões: e agora?...

Em quase 5 anos de mandato, sempre ou quase sempre que o governo é atacado por causa do seu eventual mau desempenho nos transportes, no emprego, nos concursos, na gestão dos recursos públicos, puxam da cartola a gestão do Fundo do Ambiente para calar a boca do maior partido da oposição e assim fugir à responsabilidade de prestar contas ao país. Por dá cá aquela palha, os Rabentolas acenam o PAICV com o Fundo do Ambiente para justificar o seu mau desempenho, os evidentes sinais de corrupção instalada no aparelho do Estado, os negócios obscuros, as cláusulas de confidencialidades e demais dossiers escondidos pelos cantos de uma organização que se diz pública – a Administração Pública.

Agora que a PGR, detentora de acão penal, entendeu arquivar o processo por falta de provas, e o MpD se achou completamente desarmada da sua única arma política para se esquivar dos ataques adversários, certamente estará a ver anunciado o seu fim prematuro enquanto governo de Cabo Verde.

Na verdade, o Fundo do Ambiente tem sido, sim, pau para toda a obra quando faltam argumentos aos rabentolas nas liguilhas políticas, sobretudo no parlamento. Tanto assim é, que até socos e saturações faciais este dossier teve a força e o poder de provocar dentro do Palácio do Povo.

E aqui, quatro nomes surgem impreterivelmente na sociedade cabo-verdiana, quando a “conversa” é Fundo do Ambiente: Miguel Monteiro, hoje a braços com o dossier NhaBex, que é a todos os títulos uma vergonha e uma afronta para os jovens empreendedores no país, Emanuel Barbosa e Isa Costa, hoje envolvidos num suposto escândalo de ocupação de terrenos alheios em São Martinho Pequeno, e Moisés Borges, tido como o mais visado no “escândalo ambiente” e hoje (parcialmente) absolvido com o arquivamento do processo.

Se Moisés Borges e os demais envolvidos no dossier Fundo do Ambiente passam a dormir descansados a partir de agora, o mesmo já não se pode dizer das restantes três personagens aqui referidas, bem como toda a cúpula mpediana, uma vez que a “conversa” termina aqui e vão ter de aguentar a penúria de inventar, a pouco mais de seis meses para o próximo pleito eleitoral, “outra conversa” para temperar o discurso político e sustentar a campanha que aí vem.

É muito azar na vida de um grupo que tem falhado em quase tudo. Um grupo que insistentemente não acerta nas principais linhas do seu programa sufragado nas urnas, em março de 2016.

Com efeito, o MpD ascendeu ao poder, em certa medida, por ter conseguido vender o sonho da recuperação da TACV e dos transportes inter-ilhas, a criação de 45 mil empregos dignos em 5 anos, a introdução da meritocracia no acesso aos cargos públicos e a consequente despartidarização da administração pública, a gratuitidade do ensino e dos cuidados primários da saúde, entre outras promessas, que Ulisses Correia e Silva teve a coragem de transformar, na sua primeira declaração ao país, na noite do apuramento dos resultados que daria o seu partido como ganhador das eleições, em compromissos.

Ora, a TACV, hoje CVA, está moribunda, só faltando o golpe de misericórdia. O parceiro estratégico, o grupo da Islândia, praticamente já desistiu da parceria. Não paga salários há mais de 3 meses, já não fala com ninguém, e os 3 aviões que antes operavam com o carimbo da CVA encontram-se estacionados algures no estado de Flórida, EUA, enquanto o governo abriu valas num silêncio estranho e inconsequente, com a TAP e a SATA abocanhando os restos do resto que os transportes internacionais do arquipélago ainda são.

Os transportes inter-ilhas custam os olhos da cara, com a Binter a ditar as regras do jogo, fruto de uma parceria que o próprio Ulisses Correia e Silva afirmara não ter sido reduzido a escrito. Ou seja, o Governo cedeu as ligações domésticas à Binter sem contrato.

Dos 45 mil empregos nem fumo nem mandado. Os estágios profissionais têm servido para massagear a demanda dos jovens, e estes vão aguentando o tranco, quem sabe estribado no velho e estoico ensinamento do lobo, segundo o qual, “pa boka sisi dexa língua intxadu”.

A meritocracia morreu na barriga, uma vez que uma das primeiras medidas, se calhar a primeira após a demissão de João Pereira Silva, como PCA da TACV, foi a anulação da lei do concurso, e o consequente assassinato prematuro da tão prometida - já agora compromisso - meritocracia no acesso aos cargos públicos.

A gratuitidade do ensino e da saúde sofreu a adulteração de conceitos tão própria deste grupo, e hoje todo o mundo paga calado, porque, como se diz entre o povo, quando os olhos não vêem o coração não chora. Ou seja, altera-se aqui e ali uma ou outra taxa, mudam-se as nomenclaturas para tudo ficar na mesma, porém, no imaginário das pessoas se consegue a semeadura do engano de que alguma coisa mudara.

E assim vai o país, vítima de uma governação aos ponta pés! Com os dois olhos na linguiça, e o gato tranquilo, acomodado, institucionalmente legitimado para fazer das suas.

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