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Vila Verde. Investidores querem Tecnicil de fora senão “Resort deixará de funcionar”
Economia

Vila Verde. Investidores querem Tecnicil de fora senão “Resort deixará de funcionar”

O novobanco, instituição financeira que substituiu o extinto Banco Espírito Santo em Portugal, é dona de 50% da Vila Verde Resort, no Sal, e quer rentabilizar o investimento. Mas as dívidas da Tecnicil, que detém a outra metade da participação no empreendimento turístico no Sal, andam atrapalhar o negócio. Mais de 500 investidores estão a pressionar o banco português para vender os activos da Tecnicil, caso contrário “o Vila Verde resort deixará de funcionar”, revela o semanário Nascer do Sol, que comenta logo no lead: “É a imagem do turismo de Cabo Verde, e da ilha do Sal em particular, que pode estar em causa”.

Segundo o semanário português Nascer do Sol, está em curso um novo processo de negociação para a compra de casas e terrenos do Vila Verde Resort, na ilha do Sal, empreendimento turístico da Tecnicil, cuja inadimplência levou à perda de 50% das acções a favor do seu antigo credor, Banco Espírito Santo (BES), hoje novobanco. As negociações, escreve o periódico, estão a decorrer entre o novobanco e a sociedade que detém a dívida, com a operação a voltar a estar em cima da mesa, após o chumbo do Fundo de Resolução (FdR), em 2022. 

Desde 2015, o Vila Verde Resort – idealizado e construído pela Tecncil para ser um dos maiores projetos turísticos de Cabo Verde – está a ser explorado pelo grupo português Água Hotels SPA & Resorts.

De acordo com a reportagem do Nascer do Sol, numa carta enviada ao Fundo de Resolução e ao Novo Banco, a 15 de abril, um grupo de mais de 500 investidores que compraram propriedades no Vila Verde Resort, representando a grande maioria dos proprietários privados, lembra que a aquisição que fizeram teve por base a promessa de que este iria ser o principal projeto turístico do país

“Muitos proprietários privados compraram as suas propriedades de boa fé há cerca de 18 anos. Já passámos por momentos difíceis desde então, com o valor das propriedades a diminuir consideravelmente, principalmente por causa do não pagamento das taxas de condomínio pela Tecnicil, que ainda possui 50% do empreendimento. Todos os anos esperamos que a situação seja resolvida e todos os anos ficamos desapontados. A Tecnicil atualmente deve mais de 10 milhões de euros em taxas não pagas”, revelam na carta a que o nosso jornal teve acesso.

Diz o jornal que há imóveis que foram comprados por 225 mil euros e estão atualmente à venda por 64 mil euros.

Neste momento, “50% das frações continuam por vender, desde 2014, a dívida ao condomínio ronda os 8,3 milhões de euros – dos quais 1,1 milhões dizem respeito aos proprietários e 7,2 milhões ao promotor ­–, já a dívida do condomínio ao Água Hotels situa-se na ordem dos 900 mil euros, sendo que o grupo investiu mais de 2,2 milhões de euros, tendo cumprido oito dos 10 anos de exploração. Na mesma carta, o grupo garante que a situação está cada vez mais difícil, chamando a atenção do Fundo de Resolução e do Novo Banco para os custos insustentáveis de manutenção e de reparação”, informa o mesmo semanário. 

“São os proprietários particulares que estão a manter o funcionamento do empreendimento, juntamente com a Agua Hotels, uma vez que as taxas a pagar estão a subir de preço, apesar dos serviços reduzidos», avançam, alertando que «muitos proprietários não querem continuar a investir e que o grupo hoteleiro não pode recorrer a mais empréstimos”, lê-se na peça. 

E, como solução, os investidores sugerem a venda dos ativos da Tecnicil com vista a contribuir para os custos de funcionamento do Vila Verde Resort. “Se a venda dos ativos da Tecnicil não acontecer em breve, o resort Vila Verde poderá deixar de funcionar”, salientam. 

O grupo de investidores diz também que está à espera há oito anos que a Tecnicil venda a sua parte do empreendimento para que as dívidas possam ser pagas e para que o projeto turístico seja recuperado, reconhecendo, no entanto, que estão a par da situação que terá de haver luz verde entre o Novo Banco e o Fundo de Resolução Português, apelando a que o processo de venda seja agilizado. E alertam para os riscos: “Qualquer venda que continue a ser bloqueada ou atrasada representa um sério risco para o Vila Verde Resort poder continuar, com todos os investidores a perderem o seu dinheiro e com a perda de muitos postos de trabalho locais”. 

Vendas falhadas 

O empreendimento começou a ser construído em 2006 e envolveu um investimento de 200 milhões de euros por parte do BES, depois de ter assinado um acordo com a Tecnicil para financiar a sua construção e também os seus clientes. Dois anos mais tarde, a promotora, devido à crise financeira, foi obrigada a liquidar todo o financiamento da banca através da dação em pagamento – como foi o caso do Novo Banco – e ainda a criar uma nova empresa, a Tecnicil Imobiliária.

A maior parte do resort de luxo está construída e vendida, mas há ainda uma parte que não está concluída. A verdade é que, além do novo proprietário ter de avançar com obras para rentabilizar os ativos, terá ainda que lidar com os clientes lesados da Tecnicil. Trata-se, sobretudo, de clientes ingleses e irlandeses que viram os contratos a não serem cumpridos e que, em 2015, apresentaram queixa junto da Comissão Europeia.

Em 2019, o novabanco tentou vender pela primeira vez o projeto, integrado na carteira de mal parado da instituição financeira, designada por Nata II, mas a alienação acabou por não se concretizar. Voltou ao mercado em 2022  – através do projet Maria – e apesar de terem aparecido compradores interessados, a venda não se concretizou, depois do Fundo de Resolução não ter aprovado e de ter a intenção de avançar para a execução do crédito vencido.

O Nascer do SOL alerta que este incumprimento se arrasta há muitos anos e que o montante de incumprimento é elevado. “A somar a isso, há que contar que este crédito integra o grupo de ativos abrangido pelo acordo de capitalização contingente e, por isso, o Fundo de Resolução tem de se pronunciar sobre qualquer decisão que é tomada sobre esta dívida. O objetivo é simples: o novobanco deverá conseguir recuperar o maior valor possível e, por isso, qualquer processo de venda relacionado com este ativo, que é uma das garantias desta dívida, o Fundo de Resolução tem de procurar maximizar o seu valor, assim como procurar responsabilidades da empresa que tem essa dívida”. 

Segundo avança  Nascer do Sol, tem havido dificuldade em encontrar uma solução para a venda do empreendimento, já que há uma grande diferença entre o que é o valor da dívida e o valor do ativo.

O Vila Verde Resort contempla 1.085 apartamentos – cuja tipologias variam entre o  TO, T1, T2, T3 –, 81 vivendas, 96 moradias, 61 espaços comerciais, 109 piscinas, 106 elevadores, 13 parques infantis, dois campos ténis, um campo de voleibol e um circuito de manutenção. Ao todo, são 46 hectares e 4.442 camas. 

 

C/Nascer do SOL

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Redação