Privatização da TACV. Repetição da matéria dada
Economia

Privatização da TACV. Repetição da matéria dada

A Icelandair, através da Loftleidir Cabo Verde, vai enfim adquirir 51% da TACV. O negócio será confirmado esta sexta-feira, 1 de março, com a assinatura do contrato de compra e venda entre o grupo islandês e o Governo. Novidade? Santiago Magazine tinha razão.

Há quase dois anos, Santiago Magazine anunciou em manchete que a Icelandair já tinha acordo com o Governo para comprar a TACV, no âmbito da privatização da transportadora aérea cabo-verdiana. Na altura, tanto o Governo quanto a administração da empresa, trataram de desmentir logo a notícia deste diário digital, com direito a destaque na TCV e restantes órgãos de comunicação social do país, simplesmente porque Santiago Magazine antecipou a estratégia e fez transparecer o que porventura se pretendia nebulado e nebuloso.

Ora, volvidos quase dois anos, eis que a “notícia falsa” de SM se confirma, como se surgisse do nada. Na verdade, o negócio entre o Governo e a Loftleidir Icelandic, dona da Icelandair, já estava firmado bem antes. Aliás, só quem não está ciente do que se passa neste país não percebeu o esboço desta parceria, que haveria, pelo meio, de dar os primeiros passos, com a entrada da Icelandair na gestão executiva da empresa que agora adquire.

Com efeito, para a opinião pública desavisada se calhar o Executivo de Ulisses Correia e Silva demorou 24 meses a procurar um parceiro estratégico, quando, na verdade, já o tinha encontrado desde o início. A impopularidade dessa alienação (ou, se se quiser do processo que levou à privatização da TACV) é que de certa forma emperrou a negociação.

De sublinhar, a propósito, que a Icelandair deveria receber um milhão de dólares pela gestão da transportadora de bandeira nacional, mas essa verba acabou por ficar nos cofres do Estado, em virtude da apresentação oficial de uma proposta de aquisição de 51% da TACV, que foi entregue no dia 27 de julho do ano passado. E isto depois de a empresa da Islândia conhecer a casa e preparar, como lhe convinha, uma proposta de aquisição que melhor lhe assenta

De facto, vicissitudes várias fizeram arrastar até aqui o negócio entre o Governo e a Icelandair. Mas nada que não estivesse previamente calculado e atempadamente noticiado por este jornal. Simplesmente se adiou uma matéria já dada e garantida.

O Governo, como se sabe, comprometeu-se desde o início com o processo de reestruturação da TACV, tendo o MpD, partido que o sustenta no Parlamento, feito desse objetivo seu cavalo de batalha durante a campanha para as legislativas. Assim que ganhou as eleições, Ulisses cumpriu a primeira das suas promessas: afastou João Pereira Silva da presidência do Conselho de Administração da TACV e nomeou uma nova equipa (liderada por José Luís Sá Nogueira) para dirigir os destinos da nossa companhia de bandeira.

Vale referir, entretanto, que a privatização da TACV foi uma imposição do Banco Mundial. Aliás, o Grupo de Apoio Orçamental (GAO) - que tem o BM à cabeça, juntamente com o FMI, Luxemburgo e Portugal - condicionou o financiamento do Orçamento de Estado mediante a reestruturação da transportadora aérea cabo-verdiana. Por força disso, o Governo tinha que avançar com o prcesso de privatização da TACV custe o que custar. E custou muito: quase dois milhões de contos, em dois anos e poucos meses.

Entre o início e o fim deste processo, houve anúncios de despedimentos, transferência tímida da sede da TACV para a ilha do Sal (proposta da Icelandair), promessas de 11 aviões que nunca chegaram… houve inclusive uma retirada dos aviões islandeses, sem dia nem véspera, deixando várias centenas de emigrantes cabo-verdianos em terra, em pleno período de férias. Um incidente que até hoje não foi devidamente explicado pelo nem pela administração da empresa nem pelo Governo.

Pelo que se percebe agora, as coisas só ficaram de facto acertadas depois o Governo aprovar a concessão de aeroportos (os quatro maiores) a um parceiro estratégico, que, como é óbvio será a Icelandair. Negócios. Pois, negócios.

Porém, na era de fake news, todo o cuidado é pouco. Mas também toda a atenção não chega! 

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SOBRE O AUTOR

Hermínio Silves

Jornalista, repórter, diretor de Santiago Magazine

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