A comunidade de Pico d´Antónia, em São Lourenço dos Órgãos (Santiago), voltou hoje a cumprir a tradição com a realização de mais uma festa de Cinzas, que está a “perder forças” e a tornar-se num convívio familiar.
A população dessa comunidade rural, que vem “revitalizando” esta manifestação cultural da ilha de Santiago, com excepção dos anos da pandemia, promove todos os anos a edição do tradicional almoço de Cinzas, com o intuito de manter viva a festa de Cinzas.
À semelhança do ano passado a festa de Cinzas voltou a ser comemorada de forma tímida e com fraca movimentação de pessoas, mas a comunidade insiste em manter viva esta tradição.
Carmelita Tavares, mais conhecida por “Nhanha”, nascida e criada em Pico d´Antónia, admitiu hoje à Inforpress que a festa de Cinzas está a “perder forças” e a tornar-se num convívio familiar.
Lembrou que outrora havia movimentação de pessoas, tanto das outras localidades de São Lourenço dos Órgãos e como de outros municípios da ilha de Santiago que se deslocavam todos os anos à Pico d’ Antónia.
“Com a emigração, cada ano estamos a ter poucos convidados e pouca presença de familiares. Nós que ainda estamos aqui queremos manter viva esta tradição que ganhamos dos nossos avós e pais”, afirmou Carmelita Tavares.
Na mesma linha, Isa, que nasceu nessa comunidade, e reside actualmente na cidade da Praia, admitiu que esta tradição, que ganharam da avó, está a “perder forças” ano após anos.
“Lembro-me da minha avó a fazer mel de açúcar e a preparar cuscuz 15 dias antes da festa de Cinzas. Por isso, não vamos deixar morrer esta tradição em homenagem a nossa avó, mesmo que seja somente nós os familiares”, comprometeu-se.
Mesmo com a previsão da presença de poucos convidados os moradores de Pico d´Antónia, à semelhança dos anos anteriores, prepararam grandes quantidades de comida, que vai ser servido a todos os que por ali passarem.
Por outro lado, notaram que actualmente temem em cozinhar em abundância para depois ser comida para porcos.
Já Júnior Correia, 35 anos, nascido e criado nessa localidade rural, também admitiu que este tradicional almoço de Cinzas está a perder forças ano após ano, tendo acrescentado a realização da festa do santo padroeiro, São José, celebrada anualmente a 19 de Março, como outra razão para a fraca movimentação das pessoas.
“De uns anos para cá as pessoas das outras localidades de São Lourenço dos Órgãos e municípios da ilha de Santiago preferem a festa de São José do que Cinzas”, observou o jovem agricultor.
Por outro lado, o jovem, que criticou o facto de Pico d´Antónia ser lembrado pelas autoridades por esta ocasião, revindicou a construção de uma estrada com duas vias e melhoramento da iluminação pública.
Entretanto, mesmo de forma tímida, a Inforpress contatou no terreno a presença de algumas pessoas, sobretudo familiares, que foram recebidas de “braços abertos” e com uma mesa “farta” com diversos pratos, desde xerém, arroz, congo verde (sem carne), cozido de peixe seco e de legumes, feijão, em forma de “trutxida” com coco e ovo, e cuscuz de milho e camoca com mel e leite, como sobremesa.
No dia de Cinzas, segundo os religiosos, a igreja recomenda não só a abstinência de carne como também o jejum.
Entretanto, em Cabo Verde, mormente no interior da ilha de Santiago, muitas pessoas se deixam levar pela tradição cultural e as residências são recheadas de pratos tradicionais.
Para além da ilha de Santiago, onde a população quer manter viva esta manifestação cultural, as Cinzas são também festejadas de forma assinalável nas ilhas do Maio, Fogo e Brava.
Em Santiago Norte, com excepção do município de São Salvador do Mundo e Santa Catarina, os demais quatro municípios organizaram mais uma edição da “Feira de Cinzas”, disponibilizando os principais ingredientes para a confecção do tradicional almoço desta quarta-feira de Cinzas.
Também em São Miguel, no âmbito da terceira edição do “Calheta Gastrofest Cinzas”, considerado “mais um micro-produto temático turístico”, a edilidade promoveu hoje na praia de Calhetona um festival de música, com previsão de arranque a partir das 15:00.
Além dos 12 talentos locais, o evento musical que terá entrada livre, vai contar ainda com artistas como Chando Graciosa, BigZ Patronato, Leo Pereira, Ga da Lomba, Bedja KP, MC Pank, Nani Dias, um grupo de cotchi pó, e entre outros nomes.
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