Atirado para uma cadeira de rodas há 35 anos Manuel Paiva espera e desespera por uma indemnização
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Atirado para uma cadeira de rodas há 35 anos Manuel Paiva espera e desespera por uma indemnização

Manuel Paiva tinha 26 anos quando um acidente de viação, provocado por um outro condutor, o atirou para uma cadeira de rodas e, hoje, aos 58, ainda aguarda por uma indemnização que tarda a chegar.

Está a ficar mais velho, conforme disse à Inforpress, enquanto as suas condições físicas exigem cada vez mais “cuidados especiais” que não está em condições de garantir.

O acidente ocorreu a 17 de Junho de 1994, no cruzamento de Lém-Ferreira, quando um veículo conduzido por António Fernandes Gomes embateu contra o dele.

O sinistro provocou a Manuel Paiva, conforme relatório médico, “fraturas de duas vértebras e paraplexia flácida dos membros inferiores com diminuição de força muscular dos membros superiores e anestesia total até à linha intermamilar”.

O então jovem, que na altura gozava de boa saúde, era condutor profissional, ficou paraplégico, foi evacuado para Portugal a fim de receber tratamento médico tendo permanecido em Lisboa durante seis meses e, mesmo assim, a sua situação foi irreversível.

Em 1999, por conta própria, foi tentar a sorte em Cuba. Neste país, conforme revelou, o tratamento que recebeu lhe fez acreditar que podia voltar a andar. 

Mas, faltou-lhe o dinheiro para prosseguir o tratamento, pelo que teve que regressar a Cabo Verde “muito melhor em relação ao estado em que se encontrava”.

Daí acreditar que, se tivesse continuado os tratamentos médicos em Cuba, já não voltaria de maca.

Disse à Inforpress que soube que em Espanha já se consegue o tratamento de casos semelhantes ao dele, mas não sabe se pode ter esta sorte.

“Cerca de três meses antes do acidente, estava para ser pai”, conta Manuel Paiva, que lamenta o facto de o fatídico dia 17 de Junho de 1994 lhe ter tirado a possibilidade de apoiar e educar a sua filha, conforme era seu desejo.

Tendo em conta que o acidente foi provocado por um outro condutor, entrou com um processo no Tribunal, tendo ganhado a causa na primeira instância. 

A sentença foi proferida a 17 de Março de 2017 e o juiz fixou-lhe uma indemnização de nove mil e quinhentos contos e com um juro de oito por cento se o réu não cumprisse o prazo fixado pelo tribunal para o pagamento.

Entretanto, o réu recorreu da sentença que voltou a perder no Supremo Tribunal de Justiça.

Neste momento, Manuel Paiva, que depende da ajuda financeira para a satisfação das suas necessidades básicas, tem mais de 15 mil contos por receber, por causa dos juros de mora no pagamento da indemnização.

Como o réu António Gomes não acatou a decisão do tribunal, o juiz mandou penhorar um prédio que lhe pertence, sito na Avenida Cidade de Lisboa, e já se passou muito tempo sem o imóvel ser vendido e Manuel Paiva desconhece as razões.

Contactado pela Inforpress, Paulo Semedo, indigitado pelo tribunal para procurar comprador, assegurou que tem havido interessados, nomeadamente um cidadão chinês, mas que o negócio não se concretizou porque tinha interesse num espaço contíguo que lhe foi recusado pela Câmara Municipal da Praia.

Em seu entender, o problema fundamental “está na justiça”.

“Às vezes aparece alguém que quer comprar imediatamente, mas por causa da demora do tribunal em dar resposta, a pessoa acaba por desistir”, lamenta Paulo Semedo, que pede um “pouco mais de celeridade neste processo”.

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Comentários

  • Jorge Lopes, 13 de Abr de 2025

    Se Cabo Verde fosse um país sério, muitos desses juízes e procuradores já estariam atrás das grades — ou mesmo fuzilados, se a lei o permitisse. Usam a toga como escudo para proteger interesses, perseguir inocentes e calar vozes incómodas como a de Amadeu Oliveira. A justiça virou um cartel de criminosos engravatados, pagos pelo povo para enterrar a verdade. Isto é ditadura judiciária, não Estado de direito.

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  • Jorge Lopes, 13 de Abr de 2025

    A justiça cabo-verdiana é um cemitério de dignidade. O Amadeu Oliveira continua preso há mais de um ano por ter tido a coragem de denunciar a máfia togada que domina os tribunais. Um sistema podre, vingativo e cúmplice do silêncio, que prefere castigar quem denuncia do que limpar a sua própria lama. Isto não é justiça — é perseguição com toga e salário do Estado. Vergonha nacional.

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  • Francisco Oliveira, 13 de Abr de 2025

    35 anos depois, Manuel Paiva continua prisioneiro do sistema. Ganhou na 1.ª instância, ganhou no Supremo… mas continua sem ver um tostão! Justiça? Onde? O réu passeia-se, o tribunal empata, e a vítima apodrece numa cadeira de rodas. Alguém tem de dizer: Amadeu Oliveira tinha ou não razão quando chamou a justiça cabo-verdiana de cúmplice da injustiça?

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  • Carlos Carlos landim, 11 de Abr de 2025

    Pmd k tribunal ka intregal prédio e ta bende e ta tra se denheiro nen se pouko kualker kuzas esta mal conforme ten dito Amadeu oliveira

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  • De pina, 8 de Abr de 2025

    Se o acidente aconteceu em 1994 então isso quer dizer que já lá vão 31 anos e não 35 como referiram na peça.

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