Ulisses não é apenas um estrategista; é um alquimista do poder. Nutre ódios viscerais como quem cultiva rosas negras: com cuidado, no escuro, longe do olhar alheio. Não grita, não pune em público, mas silencia com eficácia, com nomeações tardias, com ausências cirúrgicas, com o esquecimento político que destrói sem deixar digitais. Diz-se que todos no partido o temem. E é verdade. Pois ninguém ousa desafiá-lo — nem pela força das ideias nem pela vontade popular. Como um soberano moderno, não precisa levantar a voz: sua presença basta para reordenar as fileiras. Ele criou, de forma quase invisível, uma rede de informantes amadores, pagos para recolher rumores nos bares da capital, nas esquinas das praças, nas sombras do quotidiano. Cada copo de grogue pode, sem que se perceba, ser uma audição da República. Cada gargalhada de esquina pode alimentar um relatório não oficial.
Há homens cuja trajetória política não cabe em simples manchetes ou análises apressadas. Ulisses Correia e Silva é, sem dúvida, um desses enigmas modernos, um arquétipo político que desafiaria os cânones clássicos de Platão e deixaria Maquiavel não apenas impressionado, mas talvez até comovido. Em Cabo Verde, ele não é apenas um político; é um fenômeno que oscila entre a astúcia e a genialidade, entre o silêncio calculado e a retórica da salvação.
Ulisses não governa apenas com decretos e discursos — governa com o silêncio e com o medo. É como se tivesse lido profundamente “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu, e a tivesse traduzido não para a estratégia bélica, mas para a coreografia invisível do poder cotidiano.
Ganhou duas eleições legislativas com a leveza de quem recita uma receita de bolo: promessas simples, narrativas alinhadas ao sofrimento popular e um tempo calculado para cada anúncio. Durante os primeiros anos da legislatura, entregou-se ao desprezo calculado das críticas — fingiu-se surdo para poder ouvir melhor os sussurros que importavam. E então, como num passe de mágica, ressurgiu nos meses que antecedem as eleições como um curandeiro político: trazendo soluções milagrosas, projetos de última hora e anúncios sonoros de resolução dos problemas mais crónicos.
Não se trata de mera esperteza. É muito mais do que isso. Ulisses estudou, com paciência cartesiana, a alma do povo cabo-verdiano — seus medos, suas esperanças, sua tendência ao esquecimento seletivo. Ele é um sociólogo disfarçado de gestor, um antropólogo vestido de primeiro-ministro. Consegue carregar a nação com palavras doces e mãos de ferro.
Mas é internamente, nas entranhas do MpD, que sua engenharia de poder atinge o nível mais sofisticado. Remodelou o partido e entregou-lhe os códigos ao grupo que um dia o tentou extinguir — os herdeiros do PCD, os conspiradores históricos. Não por ingenuidade, mas por cálculo. Porque um exército dividido é mais fácil de controlar. Porque silenciar os descontentes é mais eficaz do que derrotá-los. Como Caim acolhendo Abel no exílio da sua caverna, trouxe ao governo o filho de um antigo líder carismático, por ele mesmo politicamente aniquilado nas urnas.
Ulisses não é apenas um estrategista; é um alquimista do poder. Nutre ódios viscerais como quem cultiva rosas negras: com cuidado, no escuro, longe do olhar alheio. Não grita, não pune em público, mas silencia com eficácia, com nomeações tardias, com ausências cirúrgicas, com o esquecimento político que destrói sem deixar digitais.
Diz-se que todos no partido o temem. E é verdade. Pois ninguém ousa desafiá-lo — nem pela força das ideias nem pela vontade popular. Como um soberano moderno, não precisa levantar a voz: sua presença basta para reordenar as fileiras. Ele criou, de forma quase invisível, uma rede de informantes amadores, pagos para recolher rumores nos bares da capital, nas esquinas das praças, nas sombras do quotidiano. Cada copo de grogue pode, sem que se perceba, ser uma audição da República. Cada gargalhada de esquina pode alimentar um relatório não oficial.
Ulisses Correia e Silva é, sem dúvida, uma figura que merece ser estudada. Politólogos deveriam dedicar-lhe tratados, teses, manuais sobre a arte de perpetuar-se no poder com luvas de veludo e punhos de aço. Ele é, simultaneamente, o Príncipe de Maquiavel e o Guardião de Platão — mas com um toque crioulo, uma genialidade feita de silêncios, de escutas clandestinas e de aparições calculadas.
O que resta saber é se Cabo Verde, como projeto coletivo, sobreviverá a essa inteligência — ou se, encantado com a sua coreografia, se perderá na dança infinita de um poder que tudo vê, tudo ouve e, acima de tudo, tudo prevê.
Comentários
MACACO BEDJO, 8 de Jul de 2025
Ulisses não passa de um grande burro e mentiroso como ficou amplamente comprovado, nesses 10 anos afundando o país.
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Ulisses 10, 8 de Jul de 2025
Ulisses um grande pateta e companhias... Um grande palhaço sem plateia...
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