Ambulâncias mais bem equipadas evitariam mortes
Ponto de Vista

Ambulâncias mais bem equipadas evitariam mortes

Será que ninguém quer “colocar o dedo na ferida”, atingindo os “pontos fracos” da nossa proteção civil e as fragilidades do socorro à população?

Um grande número das ambulâncias em Cabo Verde não tem material, nomeadamente oxigénio, e equipamentos que permitam a realização de um exame para socorrer atempadamente as vitimas e encaminha-las ao hospital adequado. A provar isso está o número de mortes anuais que se poderiam evitar, caso existissem meios para os tripulantes de ambulâncias poderem prestar um socorro eficiente às vitimas.

Os recentes acontecimentos relacionados com o despiste da viatura militar destacada para o incêndio da Serra da Malagueta, veio por à prova a eficiência do nosso sistema de socorro às vitimas de acidentes. Todos sabem disso, designadamente os responsáveis da Proteção Civil e do Ministério da Saúde, mas, aparentemente, nada se faz para colmatar essa falha.

O acidente da viatura militar, em que morreram 8 pessoas, foi um caso paradigmático. A maioria das pessoas, incluindo responsáveis governamentais e a hierarquia das Forças Armadas, só se concentraram nas causas do acidente, esquecendo o mais importante: no local do acidente não existiam meios de socorro suficientes para ajudar a salvar algumas dessas vidas.

Um dos testemunhos que nos chega, relata: “Estou indignada, porque estive no local a socorrer essas vítimas e o motorista estava inconsciente na minha mão, tentei fazer tudo para o salvar, mas as ambulâncias não tinham oxigénio para ministrar às vitimas”.

“Quando chegamos o condutor ainda estava vivo, mas devido a deformação do carro não conseguimos tira-lo de imediato para fora e prestar os cuidados. A pessoas tentaram tirá-lo do veículo, pois a viatura de desencarceramento não tinha chegado. Quando o conseguiram tirar, avaliei-o: Estava com o pulso fraco, quando deixei de sentir o pulso comecei com as manobras de reanimação. Gritei por oxigénio, mas não tinha ambulância com esse material. De seguida chegou um enfermeiro, passei a informação e seguiram com a vítima para o hospital em manobras de reanimação”. Este é um testemunho de alguém que esteve no local, demonstrativo das anomalias detectadas no socorro às vitimas de acidentes, mas que o inquérito, agora divulgado, não faz a mínima menção.

Infelizmente esta é a nossa realidade. A maioria das ambulâncias não estão equipadas com oxigénio e outros materiais que podem ajudar a salvar vidas. Nesse caso, em particular, era necessário oxigénio e não existia.

O que me choca é que o inquérito, mandado instaurar pelas Forças Armadas, apenas se tenha preocupado em “encontrar um bode expiatório” para o acidente, não tendo elencado as inúmeras dificuldades encontradas pelos socorristas que foram deslocados para o local.

Um outro aspecto que não é “falado” no inquérito das FA, porque, provavelmente, iria por a nu o sistema de socorro, prende-se com a falta de meios. Não existiam ambulâncias suficientes para o transporte das vitimas. Algumas foram transportadas num veiculo de caixa aberta e, por falta de equipamento de estabilização e imobilização, foram transportadas de qualquer maneira.

Isto tudo nos leva à seguinte questão: Será que ninguém quer “colocar o dedo na ferida”, atingindo os “pontos fracos” da nossa proteção civil e as fragilidades do socorro à população?

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