A JpD, uma organização de Olavetes?
Ponto de Vista

A JpD, uma organização de Olavetes?

A JpD, uma organização partidária juvenil cabo-verdiana que se diz “para democracia,” - cujo presidente recentemente assumiu a posição de secretário-geral adjunto do MpD, o partido que apoia o governo de Cabo Verde - mostrou que é saudades em si mesma, colocando-se perto da cor do fascismo, racismo, homofobia, misoginia, entre outros males sociais. Ou então, acabou por passar a si mesma a certidão de incompetência e idiotice. Dado que o aforismo popular “diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és” é indicativo da imputação de responsabilidades por associação, segue então que é um dever categórico de qualquer cidadão ou organização responsável de procurar saber, o mínimo, acerca do terceiro com o qual se pretende associar, seja esta associação formal ou informal, temporária ou permanente. A ignorância não constitui - e nem deve ser! - um alibi. Isto a propósito de um webinar promovido pela JpD com o astrólogo brasileiro, Olavo de Carvalho.

Não perderei o meu tempo a descrever o astrólogo-falastrão como é bem definido no seu próprio país. Aliás, nem perdi tempo para com ele quando, em 2015, um olavete nacional passou para ele uma resposta minha e o post do astrólogo mostrou, como sempre soube, a sua total incompreensão de conceitos tão básicos, que qualquer discente meu domina nas primeiras semanas de aula. Qualquer um que esteja realmente inserido no mundo global de produção de ideias sabe bem que o charlatão-astrólogo vinga somente entre os membros do seu culto. É ninguém na litosfera intelectual planetária. Daí que produziu um anti-intelectualismo que não é mais do que as uvas maduras fora do alcance da raposa matreira. Sabe que em parte alguma deste planeta - salvo, claro está entre os idiotas ideologicamente monocrómicos - as palavras dele são descartáveis. No entanto, o mesmo que despreza a intelectualidade autointitula-se de “professor” e “filósofo.”

Se de ponto de vista intelectual, o astrólogo-falastrão é um apagão, o mesmo não pode ser dito no campo da sua capacidade de mobilização de idiotas - e isso ficou provado no Brasil nas últimas eleições gerais. É nesta esfera que se deve confrontar o astrólogo: como um chefe de culto, que nem um Rasputin russo, desenvolveu uma capacidade incrível de colonizar as mentes incautas do mundo de expressão portuguesa (é desconhecido nos mundos que falam outras línguas, embora residindo nos EUA). Não importa nuances, coisa que é incapaz de sublinhar; é simplista sem ser capaz de simplificar, tão superficial que a linha do horizonte cognitivo lhe garante o terra-planismo dos seus verbos, e altamente saloio que a fala se confunde com um dicionário de palavrões. Assim, em relação a este último ponto, é o astrólogo que quer se vestir de filósofo que diz à Folha de São Paulo, “Quanto mais educação sexual, mais putaria nas escolas. No fim, está ensinando criancinha a dar a bunda, chupar pica, espremer peitinho da outra em público.” (peço desculpas aos leitores pelo nível das palavras citadas, mas é só para ilustrar um ponto). O transcrito na frase anterior é só um exemplo. Da mesma fonte, o que mais abunda são as obscenidades. Foi por isso que Joel Birman e Luiz Eduardo Soares escreveram, nos finais dos anos 90, que a fala do astrólogo “não o credencie para o debate acadêmico ou para a polêmica civilizada e produtiva.” E desde então, quase nada mudou. Agora, pergunta-se: se as palavras do astrólogo é filosofia, que nome a dar aos verbos de uma de Beauvoir, Mbembe, ou de Santayana?

Da colonização das mentes dos mais imprudentes resulta a expansão de uma certa mentalidade que é contrária aos princípios basilares da modernidade democrática, fundada, cada vez mais, nos ideais de justiça social e inclusão. É preciso notar aqui que o astrólogo-charlatão faz parte de uma rede transnacional de ultradireita. Do estado de Virgínia, nos EUA, estabeleceu o Inter-American Institute for Philosophy, Government, and Social Thought (IAI), que mais não era um canal de xingamento e inverdades contra regimes eleitos na América Latina, particularmente o governo de Lula (o IAI era financiado pela ultradireita norte-americana).

É, assim, a razão do qual não se entende a posição da JpD em convidar o charlatão. É possível ser-se pró-democracia e, no entanto, abrir espaços a quem opõe à própria democracia? Na sua página de internet, a JpD formula-se, perante a juventude cabo-verdiana, como o veículo “para o triunfo dos valores de liberdade, mérito, trabalho, responsabilidade, solidariedade e generosidade.”

Os valores de liberdade não coadunam com a ideia de submissão absoluta ao chefe, que o charlatão até bem pouco tempo pronunciava. Como qualquer fascista, o falastrão falou que “você tem que apoiar o chefe, não é apoiar a ideia. Porque se você apoia uma ideia, você está em toda a hora divergindo, se dividindo.” Décadas antes um tal Baldur von Schirach tinha pronunciado que “He who serves our Führer, Adolf Hitler, serves Germany, and he who serves Germany, serves God.” Sabemos bem o custo da democracia quando as massas, idiotizadas, são levadas a uma devoção cega perante o chefe…

Se a JpD realmente estiver fincada sobre os valores de mérito, trabalho, responsabilidade, solidariedade e generosidade, não se entende a razão de dar uma plataforma tão importante perante a juventude ilhéu a um charlatão desprovido de qualquer um desses valores acima descritos. Estamos a falar de um apologista de corrupção que, há bem pouco tempo atrás, falou que a corrupção não é um problema maior no Brasil. Sobre os valores de responsabilidade, solidariedade e generosidade, convido a liderança da JpD a ler os escritos da própria filha do astrólogo. Quando não se tem esses valores perante uma prole, nem vale a pena querer perguntar no campo da sociedade…

Fico, assim, a saber as verdadeiras cores da JpD dos dias de hoje. Uma organização partidária que emprestou a sua plataforma a um charlatão racista, homofóbico, misógino e fascista. E, como tal, este texto é um testamento ao futuro: um registo de repúdio total e categórico à colocação da plataforma da JpD ao Olavo de Carvalho, pessoa tida e conhecida com tendências fascistas, racistas e antidemocráticas.  

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