Os dois partidos da oposição parlamentar em Cabo Verde criticaram hoje, após serem ouvidos pelo Presidente da República, a “insensibilidade”, a “falta de coração” e o “autismo” do Governo perante os problemas dos cidadãos.
O chefe de Estado de Cabo Verde, José Maria Neves, chamou os partidos políticos com assento parlamentar para abordar a situação política nacional, tendo o presidente do PAICV, Rui Semedo, começado por apontar as dificuldades por que passam os cabo-verdianos, com o aumento do custo de vida e a diminuição do poder de compra.
“Esta situação é agravada por uma certa insensibilidade do Governo, que continua a funcionar como se nada fosse. O Governo continua grande, o Governo continua a fazer despesas, grandes despesas com deslocações demoradas, custosas”, criticou.
Outra área que continua a preocupar o maior partido da oposição cabo-verdiana, disse, é a dos transportes entre as ilhas.
“Um problema que condiciona inclusive o nosso processo de desenvolvimento. Limita a circulação das pessoas, limita as trocas comerciais, prejudica as famílias e prejudica os operadores, designadamente”, afirmou Rui Semedo, pedindo respostas ao Governo.
Segundo o líder partidário, outro “problema grave” do país é a insegurança urbana, sobretudo na cidade da Praia, mas também o desemprego, a diminuição do poder de compra e a falta de rendimento das pessoas, acusando o Governo de parecer "não fazer nada”.
Rui Semedo criticou os aumentos de 17% e 18% nas remunerações do governador e administradores do banco central, respetivamente, dizendo que o executivo liderado por Ulisses Correia e Silva já não tem moral para exigir sacrifícios às pessoas, sobretudo as que ganham menos.
“O Governo abriu uma caixa de Pandora e, eventualmente, abriu a possibilidade de maior reivindicação dos cidadãos para repor o seu poder de compra”, declarou, apontando falta de diálogo, degradação da qualidade da democracia e da liberdade dos cidadãos como outras questões que marcam a situação política do país.
“É o medo que se instala no seio dos cidadãos que perdem a coragem de reivindicar, de exigir, de colocar os seus problemas", salientou.
Para o líder do maior partido da oposição cabo-verdiana, trata-se de um Governo “que não ouve as críticas, não ouve as propostas, não ouve as indicações. Quer dizer, um Governo autista que segue cegamente o seu caminho”.
O presidente da UCID, João Santos Luís, também da oposição, ouvido via plataformas digitais, a partir da sede do partido em São Vicente, disse, igualmente, que a situação do país “não é boa” e criticou o Governo “sem coração”, pois não tem conseguido encontrar um equilíbrio social no país.
“Do nosso ponto de vista, têm assobiado para o lado como se nada estivesse a acontecer”, analisou o político, citado pela Inforpress, discordando também dos aumentos salariais no Banco de Cabo Verde (BCV) e referindo que o Governo “fecha os olhos e deixa os ossos e as migalhas aos mais vulneráveis”.
A educação, os transportes, a saúde e a justiça são outras áreas sobre as quais o presidente da UCID manifestou preocupações ao Presidente da República, nas vésperas do início de mais um ano parlamentar no arquipélago.
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