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Turistas voltam à ilha do Sal mas as nuvens negras ainda pairam
Economia

Turistas voltam à ilha do Sal mas as nuvens negras ainda pairam

As nuvens negras ainda pairam, por estes dias, pela ilha do Sal e os turistas, alguns portugueses e polacos, contam-se pelos dedos das mãos numa qualquer volta pela outrora movimentada localidade de Santa Maria. 

Quase metade do turismo em Cabo Verde passa por aqui, a ilha do sol, da praia e do mar azul, que desde março viu os turistas desaparecerem com a pandemia da covid-19, os mesmos que desde meados de dezembro voltam a percorrer, aos poucos, lentamente, a rua pedonal de Santa Maria, por entre bares e restaurantes que permanecem fechados, sem clientes suficientes.

Não é o caso de Cosme Sousa, 39 anos, que começou o ano de 2021 no Sal, com a família. Viajaram de Gondomar, no norte de Portugal, para uma semana de férias e não escondem a surpresa com o que encontraram nesta que é também a primeira visita à Cabo Verde.

“O que tenho encontrado tem sido espetacular. As pessoas têm sido respeitosas relativamente à máscara e a todos os cuidados de higiene. Não encontrei nada que possa apontar”, conta à Lusa, durante um passeio no calçadão de Santa Maria, hoje praticamente vazio, num mês que, em anos anteriores, seria de época alta.

E se a crise em terra, provocada pela falta de turistas, é visível em cada canto da ilha, as nuvens negras no céu, com alguns pingos de chuva a cair, mostram que o tempo não está mesmo favorável para o Sal. Ainda que a família de Cosme se sinta bem e com vontade de regressar, reconhecendo a adaptação da ilha, nos últimos meses, à nova realidade imposta pela pandemia.

“Já fizemos atividades, já fizemos montes de coisas, e acho que estamos seguríssimos, porque as pessoas respeitam, há condições de segurança, há condições de higiene, toda a gente tem álcool gel. Surpreendeu-me muito pela positiva”, admite Cosme.

Uma semana de férias que o fazem afirmar que “sem dúvida” é para voltar, para conhecer as outras ilhas, já que no Sal “tudo tem sido perfeito”.

A mãe, Eugénia Santos, estreia-se aos 59 anos a visitar Cabo Verde e não esconde a preocupação com o que vê. Uma ilha que se preparou, com higienização obrigatória na entrada de todos os estabelecimentos, marcas no chão para facilitar o distanciamento social, equipamentos de saúde preparados para casos de covid-19 e o uso de máscara generalizado. Mas ainda sem turistas.

“Sinceramente estou um bocado preocupado porque se vê muitos, muitos hotéis parados. E acho que não havia necessidade disso”, observa, sublinhando a surpresa com o cumprimento “exemplar” das regras para proteção da transmissão da covid-19.

“Se por acaso estamos a almoçar e nos levantamos e esquecemos da máscara, os funcionários chamam logo à atenção. Na tua também está tudo com muito cuidado, acho que não havia necessidade disto. É uma pena”, conta, elogiando a simpatia e o acolhimento dos cabo-verdianos.

Uma apreensão facilmente percebida com uma caminhada pela paradisíaca praia de Santa Maria, banhada por uma água em tons azul e normalmente quente. Na areia, as espreguiçadeiras arrumadas às centenas, ou simplesmente viradas pelo vento, mostram que há muito que não são usadas.

Sem turistas na areia, e apenas alguns praticantes de desportos de água no mar, a realidade surpreende também o polaco Bartlimiej Wieczorkowski, que trocou as temperaturas negativas de Varsóvia para conhecer, com a mulher e as filhas menores, a ilha do Sal.

“É uma ilha linda, um mar lindo, com pessoas muito simpáticas. Na Polónia estamos no inverno e está a nevar”, começou por brincar, explicando depois, mais a sério, que apesar das dificuldades impostas pela covid-19, decidiram não adiar a viagem.

“Não temos medo. Temos as máscaras, lavamos as mãos. As pessoas com máscaras no hotel, é bom”, explicou, assumindo que depois de Cabo Verde ainda contam conhecer o Quénia e Tanzânia.

Além de voos de operadores privados, o Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, no Sal, o principal de Cabo Verde e que antes da pandemia movimentava anualmente mais de um milhão de viajantes, começou em dezembro a retomar as ligações aéreas regulares, através da portuguesa SATA, depois da suspensão total dos voos internacionais em 19 de março - em todo o país -, para conter a transmissão da pandemia de covid-19.

Para a retoma do turismo, que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e que representa direta ou indiretamente o emprego em toda a ilha do Sal, o Governo afirmou anteriormente que Cabo Verde está “em condições e preparado”, após a conclusão da auditoria ao setor da saúde e da certificação de 500 estabelecimentos turísticos.

Foi concluída “com sucesso” a primeira fase da implementação das diretrizes Posi-Check, para instalações médicas regionais, tendo sido certificados e aprovados os centros e unidades de cuidados intensivos de covid-19 no Hotel Sabura e no Hospital Ramiro Figueira, ambos na ilha do Sal.

Igualmente certificados por esta auditoria internacional, conduzida pela consultora Intertek Cristal, foram o novo centro de Saúde de Santa Maria (Sal) e da Clínica de Boa Esperança e delegacia de Saúde, ambas na Boa Vista, sendo estas as duas principais ilhas turísticas de Cabo Verde.

Com Lusa

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