Mais de um quarto da eletricidade produzida em Cabo Verde em 2020 foi dada como perdida, não sendo faturada, cenário agravado devido à pandemia de covid-19, segundo o relatório e contas do grupo estatal Electra.
Conforme dados que constam do último relatório do grupo (que integra a Electra SA, Electra Norte e Electra Sul), a que a Lusa teve hoje acesso, as perdas de eletricidade globais, incluindo situações técnicas e não técnicas, como ligações ilegais, atingiram os 109,353 Gigawatt-hora (GWh) em 2020, representando 26,1% da produção total, face aos 24,8% em 2019.
“Regista-se uma redução dos níveis de perdas de eletricidade nas ilhas Santo Antão, São Nicolau, Maio e Fogo, enquanto que nas restantes ilhas regista-se um agravamento dos níveis de perdas. Com as medidas restritivas impostas pela pandemia, nomeadamente com a declaração do estado de emergência, verificou-se o recrudescimento de situações de furto e fraude de eletricidade, com incidência muito acentuada na ilha de Santiago, que representa 55% da produção da Electra a nível nacional”, lê-se no relatório e contas de 2020.
A empresa – que o Governo pretende privatizar na componente da produção e distribuição de eletricidade - reconhece um aumento de 0,7 pontos percentuais (de 35,6% para 36,3%) nas perdas gerais na ilha de Santiago, “indicando uma reversão da tendência do ano anterior, com repercussão negativa a nível do país e contrariando um dos grandes objetivos da empresa quanto ao combate às perdas de eletricidade”.
“De realçar ainda que os níveis de perda de eletricidade na ilha de Santiago são superiores ao dobro da média das outras ilhas, requerendo, portanto, uma abordagem específica e individualizada. Devemos ainda referir que, a partir do mês de setembro, a empresa intensificou uma série de ações de combate ao furto e fraude de eletricidade, pelo que contamos ter ganhos de performance nesta matéria em 2021”, acrescenta.
“Os níveis de perdas e dívidas de clientes continuam a constituir dos principais constrangimentos da empresa, que deste modo se vê privada de importantes recursos. No período em apreço registou-se um aumento de 1,3 pontos percentuais das perdas globais de eletricidade”, lê-se na mensagem no relatório e contas do presidente do conselho de administração, Alcindo da Cruz Mota.
O peso de 26,1% de energia dada como perdida, não sendo faturada, em 2020, é assim superior também aos 25,5% em 2018.
“O combate às perdas, aliado à redução da carteira de clientes, continua a ser uma das grandes prioridades da empresa. Neste âmbito, foram realizadas várias intervenções, com ênfase na cidade da Praia. No entanto, os resultados atingidos continuam longe do necessário para reverter o atual quadro, pelo que este tema continuará a merecer uma atenção especial nos próximos tempos, requerendo um amplo engajamento de vários ‘stakeholders’, visando, além das penalizações previstas nos termos da Lei, a criação de forte dinâmica de reprovação social aos atos de furto e fraude de eletricidade”, acrescenta o administrador.
No relatório, a empresa acrescenta que na sequência das ações de inspeção, foram confirmadas 6.792 situações de furto/fraude de energia, entre último trimestre de 2017 e o quarto trimestre de 2020, sendo 647 referentes aos últimos quatro meses de 2017, 1.624 em 2018, 1.778 em 2019 e 2.746 durante o ano passado.
A Electra produziu em 2020 mais de 419,2 GWh, sendo 83,2% de origem térmica, 15,2% eólica e 1,6% solar, representando uma diminuição global de 24,4 GWh (-5,5%) em relação a 2019. Na produção de água dessalinizada, através dos centros produtores em São Vicente, Sal e Santiago, garantiu um abastecimento total na ordem dos 8,3 milhões de metros cúbicos.
Globalmente, o grupo voltou a apresentar prejuízos em 2020, de mais de 505 milhões de escudos (4,5 milhões de euros), um crescimento que acima de 35% face aos de 2019.
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