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Cabo Verde perde um milhão de turistas por falta de acessibilidades
Economia

Cabo Verde perde um milhão de turistas por falta de acessibilidades

Uma organização que representa as pessoas com deficiência em Cabo Verde alertou que o país perde mais de um milhão de turistas por ano por falta de acessibilidades nos hotéis, restaurantes e lugares turísticos.

"Há um milhão e tal de turistas que viajam por toda a Europa, fazem 600 e tal mil viagens por toda a Europa e geram um rendimento enorme, mas não podem vir. Cabo Verde tem um clima muito bom e os europeus gostam. Portanto, é dotar os hotéis, restaurantes e lugares turísticos de condições para recebê-los bem", disse António Pedro Melo, vice-presidente da Federação Cabo-verdiana de Associações de Pessoas com Deficiência (FECAD).

O líder associativo falava à Lusa no final de uma sessão para sensibilizar e informar operadores turísticos do município da Praia sobre a necessidade de criar condições para promover turismo acessível e inclusivo, com autonomia, independência e igualdade às pessoas com deficiências.

A sessão aconteceu no âmbito do projeto Acesso à Cultura em Cabo Verde e Desenvolvimento Turístico e de Representação das Pessoas com Deficiência (ACCEDERE), financiado pela União Europeia em 39 milhões de escudos (353 mil euros).

A sessão também aconteceu na sequência de um levantamento das necessidades por parte do Instituto para Governação, Políticas e Administração Pública (IGOP) de Portugal, que recomendou campanhas de sensibilização, informação e formação junto da comunidade de pessoas com deficiência, agentes, técnicos, operadores e investidores turísticos.

O Governo cabo-verdiano pretende atingir 1,14 milhões de turistas em 2021, uma meta que António Pedro Melo disse que a FECAD respeita, mas acredita que só será possível se Cabo Verde, um país montanhoso, criar as condições para receber bem as pessoas com deficiência.

"Só assim podemos chegar a um milhão de turistas ou até mais. Podemos chegar lá, apesar de eu ser um pouco cético porque Cabo Verde é um país muito pequeno e um turismo de massas pode trazer alguns constrangimentos. Contudo, é uma meta que respeitamos", reforçou.

No âmbito do projeto ACCEDERE, o vice-presidente disse que a FECAD já contactou o Ministério da Economia do Mar, que tutela a área do Turismo, bem como outros parceiros e operadores turísticos, para darem o seu contributo a um setor que representa 21% do PIB do país.

"Até porque nós ficamos a ganhar", disse António Pedro Melo, considerando que esse tipo de turismo poderá ser um fator de desenvolvimento e de reforço da atividade económica do país.

O vice-presidente da FECAD disse à Lusa que Cabo Verde está a dar "passos significativos", mas na área da deficiência ainda tem um "relativo atraso" e enfrenta "enormes dificuldades".

Prova disso, indicou, é que o país já ratificou a convenção internacional dos direitos das pessoas com deficiência, mas ainda não assinou o protocolo facultativo, e na área do emprego assinou, mas ainda não ratificou a convecção 159 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Também informou que a lei de base está em fase de consulta para regulamentação e a lei de acessibilidade ainda não está em prática no país, onde 5,5% da população tem alguma incapacidade.

"Estamos a fazer os possíveis para sensibilizar as autoridades e os privados no sentido de acolher e de cumprir com os normativos", prosseguiu, dizendo que, além de acessibilidades, o país precisa de mobilidade, com transportes públicos com condições para receber pessoas com deficiência.

O vice-presidente da FECAD notou ainda que a falta de acessibilidades e mobilidade leva as pessoas com deficiência a se autoexcluírem em Cabo Verde e a ficarem privadas de vários serviços, bem como a sofrer discriminação.

A mesma campanha já foi realizada nos municípios do Tarrafal, da Ribeira Grande e de Santa Catarina, também na ilha de Santiago, e a FECAD pretende alargá-la a outros pontos do país, evolvendo todas as instituições do Estado.

Com Lusa

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