O Desenvolvimento de um país faz-se com pessoas - pessoas educadas, pessoas civilizadas, pessoas com conhecimento e que cultivem o conhecimento para aperfeiçoarem, continuamente, os seus saberes. Temos de poder olhar para os cabo-verdianos e perguntar se os decisores políticos estão com essas preocupações! Temos de olhar para as nossas Escolas, os Centros de Formação Profissional, as Universidades e perguntar se estamos a cumprir o desígnio de, efetivamente, qualificar os cabo-verdianos com os Saberes de que o país precisa!
A Educação tem como função primeira humanizar o indivíduo, dotando-o de valores, princípios e crenças humanas, e de um conjunto de saberes configurados em: Saber-ser, Saber-estar, Saber-conhecer e Saber-fazer. Assim, acredita-se que um cidadão dotado dessas características e competências torna-se útil à sua própria pessoa, à sociedade e ao mundo. Essa é a questão central por que os Estados devem colocar a Educação no centro das Políticas Públicas e considera-la como um direito e um bem público a assegurar a todos.
Nesta matéria, a Constituição da República de Cabo Verde é clara, quando determina, no seu artigo 78º, nº 1, que todos têm direito à educação. Aqui, convém não confundir o direito à Educação com o simples estar na escola. É preciso garantir o acesso, sim, mas, sobretudo, é preciso garantir o sucesso educativo, na sua perspetiva integral, aliás, como determinado no nº 2 do artigo 78º da referida Carta Magna.
Em Cabo Verde, é visível a degradação de certos valores e princípios, característicos do Saber-ser e do Saber-estar, que são essenciais para uma boa convivência social e o nosso progresso civilizacional. Por outro lado, do meu ponto de vista, a Nação padece de um défice acentuado, nos domínios do Saber-conhecer e conhecimento e do Saber-fazer. Tanto mais que os dados indicam que produzimos apenas 17% do que precisamos para a nossa alimentação. De resto, quase tudo é importado e exportamos pouca coisa. Isto faz-nos ser um povo que, ainda, se limita ao consumo, com pouca capacidade produtiva e baixa produtividade.
Quase 50 Anos, depois da independência, num país pequeno, de nação unida, com forte sentido de pertença e lutador pela vida, não é normal a situação em que, ainda, nos encontramos, em termos de desenvolvimento, ou de progresso.
Quando olhamos para questões sociais, desde a pobreza e a pobreza extrema que, ainda, grassam o país; quando olhamos para a economia, fortemente dependente do exterior e ancorado, praticamente, a um único setor - o turismo; quando olhamos para questões de segurança (as diversas tipologias de violências, ilustrando o grau de agressividade na sociedade), o absentismo, o alcoolismo, o consumo de droga, etc., e, tudo isso, associado a uma forte erosão de valores morais e éticos, temos razões, de sobra, para questionarmos a Qualidade da Educação que vem sendo assegurada aos cabo-verdianos. Creio ser este um dever de todos e, particularmente daqueles que conduzem o destino deste país. Tenho por mim que o Ministério da Educação anda ausente dessas questões centrais e substantivas da Educação e do país.
Não podemos continuar a considerar normal o processo lento de desenvolvimento de Cabo Verde, com o argumento de que somos um país pobre e que o desenvolvimento leva o seu tempo! Não podemos nos contentar com a saída massiva dos jovens, por falta de oportunidades, pois, se, em certa medida, é bom para eles (embora muitos vão sem qualquer qualificação para enfrentar o mercado de trabalho europeu), a médio e longo prazo, o país vai sofrer consequências pela falta de pessoas e pessoas qualificadas para o seu funcionamento e progresso.
Recentemente, a Coreia do Sul convidou todos os países africanos, incluindo Cabo Verde, para uma cimeira com o objetivo de estabelecer parcerias em favor de ambos. Importa considerar que, há 50 anos atrás, a situação socioeconómica daquele país era pior do que muitos países africanos, inclusive Cabo Verde. Hoje, é um dos mais desenvolvidos do mundo! A Educação foi e continua a ser o diferencial[i], a par de uma forte aposta na industrialização. É evidente que a industrialização implica dispor de pessoas altamente qualificadas.
O Desenvolvimento de um país faz-se com pessoas - pessoas educadas, pessoas civilizadas, pessoas com conhecimento e que cultivem o conhecimento para aperfeiçoarem, continuamente, os seus saberes. Temos de poder olhar para os cabo-verdianos e perguntar se os decisores políticos estão com essas preocupações! Temos de olhar para as nossas Escolas, os Centros de Formação Profissional, as Universidades e perguntar se estamos a cumprir o desígnio de, efetivamente, qualificar os cabo-verdianos com os Saberes de que o país precisa!
Ora, isto impõe-nos um novo olhar, uma nova concepção e uma nova perspetiva sobre a Educação em Cabo Verde. Temos de acreditar que os cabo-verdianos, também, são capazes! Sim, somos capazes de nos qualificar e produzir para o nosso progresso e para sermos competitivos neste mundo global. Pessoalmente, acredito que isto é possível e o caminho é uma profunda mudança no Sistema Educativo para um Sistema que, verdadeiramente, forma cidadãos com valores, competências e habilidades para a vida. É urgente que isto aconteça!
Enquanto Professor, olho para muitos dos meus alunos (jovens), compreendo as suas limitações. Muitos estão a chegar à Universidade com limitações sérias, em termos de conhecimentos, de competências comunicacionais, de análise e de síntese e, sobretudo, com baixa capacidade crítica. Compreendo-os e vejo-os como vítimas de um Sistema Educativo que teima em não parar, para olhar para si mesmo, e mudar de rumo.
É urgente que isto aconteça, ainda que seja um processo complexo e longo! De nada vale os discursos políticos promissores; gerir a coisa pública desta maneira ou daquela; fazer as alternâncias políticas, etc., etc., se continuarmos a manter este Sistema Educativo e a fazer as reformas que temos estado a fazer.
Por outro lado, para ter um Sistema Educativo que alavanca o desenvolvimento, como condição básica, é fundamental que Cabo Verde aposte na Industrialização. A Industrialização é importante para diversificarmos a nossa economia (demasiadamente dependente do turismo), mas ela é importante como estratégia de criação de campos de práticas da ação educativa/formativa, funcionando numa lógica dialética com a Educação, ou seja, a Educação qualifica profissionais para a Indústria e a Indústria, mas também os serviços, se disponibilizam como campos de práticas da ação educativa/formativa.
É isto que acontece, por exemplo, na Áustria, país considerado líder mundial no emprego jovem. Nesse país, tal como Alemanha, Países Baixos e Japão, reina o chamado Sistema Dual. Trata-se de uma Sistema Educativo com várias respostas para diferentes alunos, de acordo com as suas aptidões. De um modo geral, as crianças, de 6 até 10 anos, frequentam apenas a escola; a partir de 10 até 14 anos, frequentam a escola, mas também empresas, fábricas, organizações e serviços diversos, para poderem entrar em contacto com o mundo de trabalho e as mais diversas profissões. De 14 aos 18 anos, os alunos passam entre empresas, fábricas, organizações e serviços, não para verem, mas sim para trabalharem. Assim, quando terminam o ensino secundário, têm os ensinamentos escolares (que ficam reforçados com as suas passagens pelo mercado de trabalho), mas possuem, também, o saber-fazer e um conjunto de outros saberes e valores decorrentes das suas vivências no mercado, junto com os profissionais. Em muitos casos, concluem o 12º ano, já empregados. É desta forma que devemos passar a olhar para a Educação, se, de facto, queremos desenvolver este país. Naturalmente que, num sistema deste, o Professor, a sua Qualidade, é o fator-chave.
[i] Education_the-driving-force-for-the-development-of-Korea.pdf (koreaneducentreinuk.org)
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