A rivalidade entre os "arqui-inimigos" já fez um grande número de mortos, muitas vezes em ações secretas em que nenhum dos governos admite sua responsabilidade. E a guerra em Gaza só fez as coisas piorarem. Perante este cenário, Cabo Verde que, num passado recente, “alinhava” a sua política externa pelos valores dos Países Não Alinhados, não pode e não deve “alinhar” e apoiar todas as posições dos EUA em relação a este conflito.
O Governo cabo-verdiano, em comunicado, condenou “veementemente” o ataque do Irão a Israel, situação que acompanha “com preocupação”, apelando à “contenção”, para “evitar uma indesejável escalada de violência naquela região”. Numa posição muito seguidista dos países ocidentais e muito próxima das posições assumidas pelos EUA, um forte aliado de Israel.
Já o Presidente da República, José Maria Neves, foi mais moderado e na mensagem que publicou na Internet, refere que “o mundo está a ficar todos os dias mais complexo e mais difícil”, defendendo que “a guerra nunca é solução”. “Sou teimosamente pelo diálogo e pela solução negociada dos conflitos”, referiu, demonstrando uma certa neutralidade no conflito entre Israel e o Hamas.
Mas, para que dúvidas não subsistam começo por condenar veementemente o ataque de terrorismo perpetrado pelo Hamas a 7 de Outubro de 2023, do qual resultaram cerca de 1200 mortes e 240 reféns. Dito isto lanço, simultaneamente, severas críticas à acção militar israelita em Gaza, acção essa que ultrapassou há muito, quer sob uma perspectiva jurídica quer moral, os limites da legítima defesa estipulada no artigo 51 da Carta das Nações Unidas.
Na minha opinião, (e é por isso que repudio a condenação “veemente” do governo cabo-verdiano ao ataque do Irão Israel) não é possível tomar partido por Israel em nome de valores que o Exército israelita viola todos os dias. Mas, também não é possível tomar partido pelo Hamas que mata e tortura da maneira mais cruel.
Durante anos, quando me perguntavam sobre quem tinha razão no conflito entre Israel e a Palestina, a minha resposta era sempre a mesma: ninguém. Ambos os lados têm há 75 anos (pelo menos) excelentes razões para se odiarem mutuamente. Todavia, mesmo assim, continuo a acreditar, como Amílcar Cabral defendia, o direito à autodeterminação dos povos e na superioridade dos sistemas democráticos, o conflito israelo-palestiniano é um curto-circuito político, cultural e religioso.
Em termos geopolíticos, os países aliados dos EUA condenam “veementemente” o que chamam de ataque terrorista e dissem que Israel tem todo o direito de se defender. Já os países menos beligerantes, designadamente aqueles que pertencem Movimento dos Países Não Alinhados (MPNA), temem o envolvimento de "terceiros países" no conflito do Oriente Médio e estão "preocupados com a aproximação de navios de guerra dos Estados Unidos de Israel". Favoráveis à criação de um Estado palestino, e não consideram o Hamas um grupo como terrorista.
Israel e Irão protagonizam há anos uma rivalidade sangrenta que, rapidamente, se transformou numa das principais fontes de instabilidade no Oriente Médio e cuja intensidade varia de acordo com o momento geopolítico.
Para Teerão, Israel não tem o direito de existir. Os governantes iranianos consideram o país o "pequeno Satanás", o aliado no Oriente Médio dos Estados Unidos, que chamam de "grande Satanás", e querem que ambos desapareçam da região. Já Israel acusa o Irão de financiar grupos "terroristas" e de realizar ataques contra seus interesses, movidos pelo antissemitismo dos religiosos iranianos.
A rivalidade entre os "arqui-inimigos" já fez um grande número de mortos, muitas vezes em ações secretas em que nenhum dos governos admite sua responsabilidade. E a guerra em Gaza só fez as coisas piorarem.
Perante este cenário, Cabo Verde que, num passado recente, “alinhava” a sua política externa pelos valores dos Países Não Alinhados, não pode e não deve “alinhar” e apoiar todas as posições dos EUA em relação a este conflito.
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