A automutilação dos alunos em diferentes escolas na cidade da Praia tem sido a principal preocupação de docentes que alertam à máxima atenção dos pais e encarregados de educação, face aos comportamentos “esquisitos” dos filhos.
Segundo especialistas contactados pela Inforpress, na maior parte dos casos, a automutilação nos adolescentes é reflexo de uma incapacidade de lidar com os seus próprios sentimentos, como angústias, medos, tristeza e conflitos, pelo que vêem nessa prática “perigosa” a saída mais rápida para aliviar esse “intenso sofrimento”.
Perante a situação vivida em diferentes escolas desta urbe, alguns professores abordados pela Inforpress manifestaram-se preocupados, ponderando que os pais, também educadores e gestores, devem fazer uma abordagem cautelosa ao aluno que apresenta esses sinais.
Entretanto, tratando-se de um tema delicado, os docentes com quem a Inforpress conversou, não quiseram ser identificados, não por medo, conforme explicaram, mas para resguardar a imagem da escola e dos alunos, compreendendo, porém, que o problema não deve ser ocultado, antes, deve-se procurar soluções para evitar que males maiores aconteçam no seio da comunidade educativa.
“É uma prática que está a tornar-se comum, bastante preocupante, acentuada na adolescência, especialmente nas miúdas, que apresentam marcas de autolesão, por exemplo, nos braços”, conta Adelaide (nome fictício), com certa preocupação.
Considerando, “importante” o suporte familiar do aluno que passa ou passou por este problema, descreve que na sua aula deparou com alunas ostentando casaco em pleno sol quente, o que despertou nela alguma inquietação que, conforme notou, indica estarem a esconder alguma coisa.
Outra professora defendeu, também, uma abordagem cuidadosa junto dos alunos nestas circunstâncias, analisando que muitos deles praticam a autolesão por não terem alguém em quem confiar, quer nas escolas, nos relacionamentos afectivos e familiares, para conversar, partilhar os seus problemas, sentimentos, dor, angústias ou emoções.
“A escola, os professores, podem ter esse papel de conselheiro, ouvir, escutar e alertar os alunos para as consequências advenientes dessa prática, pedir ajuda, por forma a amparar estes meninos e evitar que o pior aconteça. Eu procuro sempre falar com os meus alunos quando os vejo um pouco isolados, calados ou distantes”, comentou a docente.
Lembrando um caso, disse que o isolamento de uma das alunas, o seu semblante triste e distante, o desinteresse pelos trabalhos de grupo, despertou-lhe a inquietação de que algo não vai bem.
“Estivemos a conversar e nessa nossa conversa, abriu-se comigo, dizendo que ela se acha feia e quando se olha ao espelho não gosta da sua imagem”, conta, apelando aos pais a prestarem mais atenção aos filhos, aos pequenos sinais, porque como diz o adágio popular “Jesus é antes da queda”.
Por outro lado, Elvira (nome fictício), uma outra docente, aponta a situação de “bullying” nas escolas como “problema sério, um gatilho”, conforme enfatizou, que também pode levar à prática de automutilação das crianças e adolescentes.
“Há alunos alvos de perseguição de grupos que promovem o ‘bullying’, o que poderá provocar baixa estima. A escola, professores, segurança, todos… há que estar atento, observar durante as actividades, dentro e fora da sala de aula, esse tipo de agressão por parte dos alunos, tomar as devidas precauções e medidas, por forma a eliminar o problema e concomitantemente, propiciar um ambiente escolar saudável”, referiu.
Perante a problemática, os professores compreendem que não se pode ocultar esta realidade vivida em diferentes escolas, “meter o lixo debaixo do tapete”, antes, procurar soluções, fomentar planos de intervenção no sentido de ajudar os adolescentes a superarem a automutilação e a evitarem impactos negativos dessa prática.
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