O presidente da Assembleia Nacional, Austelino Correia, instou esta terça-feira, 17, os políticos a considerarem um estudo que revelou uma "queda de confiança" em todas as instituições do país.
"Uma coisa é o que os políticos pensam, outra bem diferente é o que os cidadãos percecionam no dia-a-dia. A minha primeira impressão é que os políticos devem levar em consideração esses dados com imparcialidade, objetividade e racionalidade, para melhorarmos a perceção dos cabo-verdianos em relação à política", afirmou o chefe da casa parlamentar.
O político falava num evento na cidade da Praia, reagindo aos dados do estudo sobre a qualidade da democracia e da governação em Cabo Verde, divulgado na terça-feira pela Afrosondagem.
O inquérito revelou uma "queda de confiança" dos cabo-verdianos em todas as instituições, incluindo a Presidência da República, a Assembleia Nacional e uma avaliação negativa do desempenho do Governo.
Ainda assim, Austelino Correia disse estar "um pouco satisfeito" porque a perceção da Assembleia Nacional "melhorou um bocadinho", embora esteja "muito aquém do desejado".
Neste sentido, encorajou os deputados e todos os envolvidos a trabalharem mais para elevar a imagem do parlamento, centrando o debate político nas políticas, nas ideias e nos projetos, deixando de lado a personalização do debate.
O antigo Presidente cabo-verdiano Jorge Carlos Fonseca também reagiu ao estudo, afirmando que a democracia em Cabo Verde é "irreversível", destacando que a consolidação depende de "instituições fortes" que geram confiança nos destinatários do poder, para garantir seu avanço e modernização.
"A democracia consolida-se, torna-se cada vez mais imune aos desafios se tiver instituições sólidas", afirmou, acrescentando que só com entidades "fortes e que gerem confiança nos destinatários do poder", é que se pode dizer que ela "tem condições para avançar."
Jorge Carlos Fonseca defendeu que a promoção da democracia e do Estado de Direito deve passar pelo aumento do respeito e da confiança nas instituições, nas regras e nos valores da democracia.
"Estou à vontade para dizer isto porque, muito antes de ser Presidente da República, defendi e continuo a defender a ideia de que em Cabo Verde o processo democrático é irreversível, e continuo a acreditar nisso", afirmou.
Adicionalmente, disse que a "esmagadora maioria" dos cabo-verdianos considera que o único critério de legitimação do poder e do exercício do poder é o voto popular.
Por outro lado, admitiu que "sempre" haverá momentos em que a confiança nas instituições pode ser abalada por vários fatores, como, por exemplo, a abstenção eleitoral.
"Eles querem mais, querem que as instituições funcionem melhor, combater sinais que possam parecer como sinais de corrupção. Podem querer um relacionamento mais perfeito entre os órgãos de soberania", referiu.
O estudo envolveu um inquérito a 1.200 pessoas das ilhas de Santiago, São Vicente, Santo Antão e Fogo, abrangendo mais de 85% da população cabo-verdiana.
Foram analisados temas como a satisfação com a democracia, a corrupção, a confiança nas instituições, o desempenho do Governo e as relações institucionais entre o Presidente da República e o primeiro-ministro.
A pesquisa foi realizada entre o final de agosto e início de setembro para uma análise entre 2022 e 2024.
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