O escritor cabo-verdiano José Luiz Tavares lança na sexta-feira, 21, na cidade da Praia, o seu mais recente livro, “Uma Selvajaria Civilizacional”, no qual assume uma luta contra o “supremacismo linguístico” em Cabo Verde.
“Este livro é constituído por artigos publicados online nos últimos três anos, versando a questão do supremacismo linguístico em Cabo Verde, assunto em que ninguém, até certos defensores da língua cabo-verdiana, quer tocar, em razão dos seus interesses privados”, declarou o escritor à Inforpress.
No livro, Tavares aponta como faceta mais visível desse supremacismo linguístico, por exemplo, “o inaceitável e afrontosamente estrondoso” caso da Escola Portuguesa da Praia, que “impôs a proibição de os alunos cabo-verdianos falarem a sua língua materna nos espaços da escola”.
“É esse artigo, semi-censurado em Portugal, ´Uma Selvajaria Civilizacional´, que dá título à obra”, especificou.
À Inforpress, em Lisboa, onde habitualmente reside, o escritor explicou que outra “peça importante” desse livro, que será apresentado às 18:00, na Presidência da República por Apolo Carvalho, é um artigo “refutando e desconstruindo as incompreensíveis posições doxológicas” do escritor Germano Almeida em relação à língua cabo-verdiana.
“Infelizmente, parece que, apesar dessa monumental varredela intelectual, a doxa campeante, de que o escritor se fez uma das faces mais visíveis, continua pujante e infrene. Infelizmente”, lamentou.
E continuou: “E como a perenidade de uma língua é garantida, mesmo na eventualidade do desaparecimento dos seus falantes, pelas criações através ou nela plasmadas (se não, veja-se a persistência do grego antigo e do latim até à actualidade através das obras de Homero, Sófocles, Eurípedes, Píndaro, Virgílio, Horácio e Ovídio), o livro traz também alguns textos de criação, versando especificamente a matéria da língua, textos esses em versão bilingue, ou só em língua cabo-verdiana. O livro é concluído por um anexo com posições doutras autoridades académicas em matéria de língua cabo-verdiana!”.
A obra inclui, ainda, “uma outra peça de suma importância”, que é a publicação da tradução revista para a língua cabo-verdiana da Declaração Universal dos Direitos linguísticos.
“O texto foi publicado há cinco anos, em plena pandemia, por isso não teve a devida divulgação. É republicado agora, com uma terminologia técnica mais consistente e apurada. E fica como lembrete jurídico e científico das Nações Unidas aos nossos lusotropicalistas supremacistas que, achando-se autoridades, ninguém os conhece para além da ponta temerosa”, vincou.
José Luiz Tavares nasceu no dia de Camões, 10 de Junho, em 1967, em Txonbon, cercanias do antigo Campo de Concentração, concelho do Tarrafal, ilha de Santiago, Cabo Verde.
Estudou Literatura e Filosofia em Portugal, onde vive em exílio voluntário, dedicado à sua obra.
Publicou 22 livros desde a sua estreia em 2003, com Paraíso Apagado por um Trovão, que, segundo o autor, “vêm pondo a nu a mediocridade do panorama poético cabo-verdiano, apesar dos seus inchados pergaminhos, via certo Caliban e outras mirabílicas misérias”.
Em 2023 reuniu a sua poesia inacabada no volume “Como um Segredo na Boca do Universo – Obra completa – Mente Inacabada”, um tijolo de 1500 páginas, “apropriado para entupir a boca dos seus inumeráveis, ainda que ocultos e merdosos, inimigos”.
O seu último livro publicado “Um Preto de Maus Bofes” “é um acerbo ajuste de contas consigo próprio, com o mundo, a literatura, a morte, a glória e a posteridade”.
É o escritor mais premiado de sempre de Cabo Verde. Recebeu, no seu país e no estrangeiro, entre outros, os seguintes prémios: Prémio Cesário Verde/CMO, Prémio Mário António de Poesia/Fundação Calouste Gulbenkian, Prémio Jorge Barbosa/Associação de Escritores Cabo-verdianos, Prémio Pedro Cardoso/Ministério da Cultura de Cabo Verde, Prémio de Poesia Cidade de Ourense, Prémio BCA/Academia Cabo-verdiana de Letras, Prémio Vasco Graça Moura/INCM, Por três vezes consecutivas recebeu o Prémio Literatura para Todos, do Ministério da Educação do Brasil, Prémio Ulysses/ The Poets and Dragons Society, Bolsa Fundação Eça de Queirós.
Foi finalista duas vezes do prémio Correntes d’escritas, finalista do Pen Club Português, semifinalista do Prémio Portugal Telecom de literatura e Oceanos de Língua Portuguesa.
Os seus livros integram o Plano Nacional de Leitura de Cabo Verde e de Portugal.
Está traduzido para inglês, francês, espanhol, italiano, alemão, mandarim, neerlandês, russo, finlandês, catalão, galês e letão. Traduziu Camões e Pessoa para a língua cabo-verdiana.
Não aceitou, até agora, nenhuma comenda ou medalha.
Comentários
Kadi Coulibaly, 18 de Fev de 2025
Um escritor arrogante, pouco humilde, que se quer, com a sua escrita insultar, contudo, ha que dar o merito de ser talentoso no que sabe abordar!
Parabens Tavares Di Txom Bom, Tarrafal Di Santiagu, Cabo Verde!
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