"Cabo Verde precisa emagrecer a máquina do Estado, redefinir prioridades e investir em quem precisa" - bispo do Mindelo
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"Cabo Verde precisa emagrecer a máquina do Estado, redefinir prioridades e investir em quem precisa" - bispo do Mindelo

O bispo do Mindelo considerou hoje que Cabo Verde precisa ter uma “política séria” de pensar “quais são as prioridades da população, emagrecer a máquina do Estado e canalizar os investimentos para quem mais precisa”.

Dom Ildo Fortes teceu estas considerações em conferência de imprensa, no Mindelo, para abordar a realidade social e eclesial vivenciada junto da população de São Vicente, “sobretudo as mais carenciadas”, durante as três semanas de visita pastoral que realizou.

“Também somos um país pobre, mas temos muitas ajudas. E eu não digo só em São Vicente, mas acho que no próprio país nós precisávamos ter uma política séria de pensar quais são as prioridades da nossa população. E quando, nas visitas que faço, damos conta que há pessoas que não têm assistência a nível da saúde, que têm escolas, que não têm coisas básicas para os meninos viverem com condições, perguntamo-nos o que é que estamos a fazer”, questionou o bispo.

Dom Ildo Fortes disse que vê “muito dinheiro gasto” no País em muitas coisas, que também são precisas, mas considerou que se invista lá onde houver mais necessidades.

“Nós precisamos investir na cultura. Obviamente, um bom espectáculo faz parte, uma acumulação de alguma coisa importante. Mas a pergunta é se nós não poderíamos emagrecer um bocadinho a máquina do Estado. Porque acho que há tanta despesa gasta em representações, em coisas do género, e canalizar para quem mais precisa”, afirmou.

O bispo da Diocese do Mindelo lembrou que Cabo Verde é um país que lutou pela sua independência, porque sentia que era explorada pelos de fora, pelo que não se pode admitir que neste mesmo país “haja gente a viver bem, sumamente bem, com salários chorudos e até, às vezes, há aumentos para isso e há outros cujos salário mínimo é de miséria” e não conseguem ganhar no mês o suficiente para fazer uma viagem inter-ilhas.

“Acho que nós temos que pensar que o nosso País vive um desequilíbrio a nível da justiça social. Não tenho dúvidas nenhumas. Que áreas que precisamos investir como na saúde, na segurança das pessoas e na educação das pessoas”, argumentou.

O prelado lembrou que há 20 anos quando chegou a Cabo Verde ficou admirado quando soube que o próprio director de uma escola lhe informou que é ele mesmo é que tinha de arranjar formas de pintar a escola quando se sabe que a escola é do domínio do país.

Segundo Dom Ildo Fortes, em Cabo Verde parece ser um tabu ou um problema as pessoas falarem da fome. 

Mas, afirmou que “a fome é uma realidade” e foi constatada por ele durante uma visita a uma escola às 15:30 em que perguntou às crianças se todos já tinham almoçado e algumas disseram que não tinham almoçado e que esperavam pela refeição da escola.

“O que é isto se não passar fome? É passar a privação. Se eu não posso tomar três refeições no mínimo por dia estou em situações de carência”, afirmou a mesma fonte, para quem perante estas coisas “o povo não se indigne tanto, não se revolte tanto, mas deveria fazê-lo”.

“Às vezes mandamos bocas por aí em algumas redes, mas tínhamos de fazer manifestações sérias para nós conseguirmos aquilo que era o direito”, sustentou.

Falando particularmente de São Vicente, onde centrou a sua visita pastoral, Dom Ildo Fortes disse que o objectivo foi levar uma palavra de esperança, de conforto, de consolo àqueles que estão em situações muito difíceis. 

Mas, observou, o pão nosso cada dia nesses bairros foi encontrar a pobreza.  

“No século XXI, nestes 50 anos da nossa independência, muita gente não tem luz em casa, muita gente não tem água em casa, muita gente não tem uma casa de banho”, critico,  lembrando de uma situação que presenciou no bairro de Iraque, na Ribeira de Julião, na casa de uma pessoa que não tinha mesa e que tinha apenas uma cama e um bocado de chão onde coloca alguma panela, para fazer as suas refeições.

Para o bispo do Mindelo é preciso que todos, o Governo, as igrejas “envergonhem-se da situação que as pessoas se encontram”.

“Como é que irmãos nossos, como é que gente, como é que crianças no nosso tempo vivem assim nas situações? Por isso, mas de qualquer forma, mais do que lamentar, é levar uma palavra de esperança e de conforto a essa gente”, sustentou Ildo Fortes.

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Comentários

  • António, 19 de Fev de 2025

    Estou preocupado com algumas das nossas Câmaras. Gordura a mais .
    Vareadores ou Varredores dos nossos impostos - que nunca mais acabam.

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  • pedro amado+, 18 de Fev de 2025

    ehtretanto,ogoverno continua com a sua porpaganda apresntando dados falsos sempre dizendo:estamos num bom caminho.Obrigaso sr,Bisapo pela sua coragem de refletir sobre a nossa situaçao de mizeria e pobnresa.

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  • Estevão Duarte Gomes, 18 de Fev de 2025

    Boa reflexão

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  • Lopi, 18 de Fev de 2025

    Tudo isso é verdade só não vê os que estão a viver no bem bom, o governo diz que está a crescer muito mas esse crescimento fica nos gastos do governo que apesar de emagrecer um pouco criaram muitos gabinetes onde vão a gordura cortada
    Assim acho mais uma vez que o governo deverá seguir outro caminho porque 2026 está por um canudo.

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  • Kriolo, 18 de Fev de 2025

    Dinhero e bem estar é só pa membros do governo e deputado ??

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  • V. V., 18 de Fev de 2025

    Num ponto, o Bispo está certíssimo: se o Governo do MpD não tivesse despejado rios de dinheiro na reabilitação e restauração de igrejas católicas por todo o país, sobraria uma bela fatia para os mais necessitados. Mas eis a ironia suprema: a Igreja Católica, dona de um património opulento, não hesita em estender a mão aos pobres fiéis, pedindo-lhes ofertas para... bem, fortalecer ainda mais esse mesmo património.

    • AFJ, 19 de Fev de 2025

      Isso mesmo. Por isso, ele de sente à altura de começar a dar lições, chamar à atenção, enfim "politiquizando".
      Que dê exemplos na atitude da Igreja, em vez de se intrometer em esferas alheias.

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  • José da Rosa, 17 de Fev de 2025

    Sinto uma alegria transbordante quando gente do meu país com VISÃO e CAPACIDADE,expressam da forma que fez o nosso bispo e todos os comentadores.Senhor Casimiro Centeio,já o parabenizei no passado e continuo a fazê-lo sempre que os seus ideais forem em defesa genuína do nosso povo e país.Continue comentando pois a sua voz combina com com as preces desse povo sofredor.Quem não estiver de acordo ou na linha do seu pensamento, porque está ao invés dos anseios cabo-verdianos.

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  • Hélio Lima, 17 de Fev de 2025

    Congratulo com essa exposição do Sr. Bispo. Realmente é preciso emagrecer a máquina do Estado, mas também é preciso emagrecer a máquina parlamentar. Estadistas à mais, alguns sem o verdadeiro sentimento patriótico e parlamentares que apenas fazem número. A fragilidade da nossa Economia não se compadece com isto nem com o abuso de certas despesas de representação. Haja bom senso.

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  • António, 17 de Fev de 2025

    Tanto dinheiro gasto em basofarias e leviandades e tanta gente carenciada.
    Mundo CÃO.
    Claro, há quem lucra com a situação.

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  • José Nascimento, 17 de Fev de 2025

    Cuidado Sr. Bispo ainda o Sr. A. Lopes ou Sr. PGR apresentam um queixa conta si por difamar o país.

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  • Tripa, 17 de Fev de 2025

    Os nossos parlamentares não vêm o mesmo Sr.Bispo. Leva-os consigo para verem a realidade e não os deixe colocar os óculos escuros.

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  • Casimiro centeio, 17 de Fev de 2025

    Subscrevo, na íntegra, o douto Artigo do Reverendo e todos os comentários que me antecederam .
    Não podemos continuar a fazer deste pobre país o nosso quintal privado, como tem vindo a acontecer, sobretudo sem complacência moral dos que passam fome, incluindo crianças !
    Cabo Verde " tem dinheiro que nunca mais acaba" , mas que não serve aos mais carenciados. É PARADOXAL,VEXATIVO E RIDÍCULO !!!!!!!

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  • David Rosa, 17 de Fev de 2025

    O Sr. Bispo falou e disse com toda firmeza e sem papa na língua como se diz por aí, ha miséria e fome em cabo verde sim de se ver à olhos nus, mas os nosso benditos governante mudaram o nome da Fome, atribuiram-lhe "insegurança alimentar";

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  • Manuel Miranda, 17 de Fev de 2025

    Olha tanto dinheiro que foi anunciado pelas autoridades centrais e locais só para a festa do rei momo a nível do país. Só para ver tanta fartura nessa onda folia enquanto que existe muita família sem por a panela ao lume . Isto é uma vergonha.

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  • Sílvio Furtado Tavares, 17 de Fev de 2025

    É necessário pessoas com responsabilidades acrescidas manifestarem as injustiça sociais para que possamos avançar e não restringir ou regredir, não obstante aos recursos que nos estão a disposição. Quem de alguma forma desloca a periferia depara com situações semelhantes à do Bispo, é preciso visão e responsabilidade para investir em coisas prioritários para que todas as classes sintam incluídas e valorizadas.

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  • Nhelas Marques, 17 de Fev de 2025

    SR. BISPO SUBSCREVO NA INTEGRA O QUE DISSE E PELA CORAGEM QUE TEVE DE DIZER TUDO TINTIM POR TINTIM. A MUDANÇA PRECISA-SE URGENTE POLÍTICA E GOVERNATIVA NESSE SENTIDO PARA "TUDO CRISTÃO PODÊ TEM DIREITO NA SÊ GOTA D'ÁGUA PEL VIVÊ SIMÉ GENTE"!
    SR. BISPO VAI UM RIJO ABRAÇO AMIGO!

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